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    Polícia cortou energia para 'forçar' saída de Pizzolato do apartamento

    GRACILIANO ROCHA
    ENVIADO ESPECIAL A MARANELLO (ITÁLIA)

    06/02/2014 07h59

    Com a saída do sobrinho do ex-diretor do BB Henrique Pizzolato, Fernando Grando, do apartamento, a polícia italiana percebeu que apesar de a casa estar toda fechada havia uma movimentação interna.

    Em torno de dez policiais participavam de uma tocaia há alguns dias ao apartamento de Grando. Um "varredor" avisava por rádio os movimentos do apartamento térreo localizado na via Vandelli, em Pozza, um distrito de Maranello (a 332 km de Roma).

    Primeiro, Grando e dono do apartamento, deixou a casa sem parar para trancar a porta, fazendo a polícia perceber que havia mais gente dentro do imóvel. A polícia também percebeu que o relógio de energia elétrica e de água estavam funcionando mesmo após a saída de Grando, e resolveram cortar o fornecimento de energia.

    Passados alguns minutos, a mulher de Pizzolato, Andrea Eunice Haas, abriu a janela do apartamento. Esta foi a oportunidade para a polícia tocar a campainha. Ao atender, Haas se identificou com seu nome verdadeiro. Logo depois, Pizzolato apareceu sem barba e bigode e se identificou como Celso Pizzolato, irmão morto em acidente de carro há 35 anos. Contudo, Pizzolato tinha uma aparência diferente da que aparecia no documento. Só depois, Pizzolato admitiu a verdadeira identidade Com a saída do casal do apartamento, os policiais fecharam o cerco.

    "CENA DE TV"

    Toda a ação policial foi acompanhada por uma vizinha que disse à Folha que a ação parecia "cena de TV". "São coisas que a gente só vê na televisão. Um dos policiais estava varrendo a rua. Foi tudo muito rápido. De repente chegaram os carros da polícia", disse à Folha a cabeleireira Silvia Justi, 38, dona de um salão bem ao lado do apartamento onde Pizzolato foi encontrado.

    A dona do salão de beleza diz ter visto Pizzolato algumas vezes durante as últimas semanas, quando ele entrava ou saía do apartamento. Trocava cumprimentos com ele. "Eu pensava que ele trabalhava na Ferrari também porque o outro rapaz [o sobrinho Grando] eu sei que trabalha lá", contou. Justi é uma exceção ao silêncio adotado na vizinhança sobre o caso. Outros vizinhos evitaram comentar o caso ou disseram nunca ter visto Pizzolato.

    SILÊNCIO

    O prédio de paredes vermelhas –que abriga três apartamentos– passou quase toda a manhã fechada. Na garagem, estava o Fiat Punto vermelho, placas da Espanha em nome de Andrea Haas, a mulher de Pizzolato.

    A porta do apartamento onde o ex-diretor do BB estava refugiado só foi aberta hoje por volta das 9h40 (6h40 horário de Brasília), quando a mulher de Pizzolato, Andrea Eunice Haas, recebeu a visita de um oficial dos "carabinieri", a polícia italiana. Ela não atendeu aos pedidos de entrevista da Folha.

    PRISÃO

    Foragido desde novembro do ano passado, Henrique Pizzolato, o ex-diretor do Banco do Brasil condenado no processo do mensalão, foi preso na manhã de quarta-feira (5) no norte da Itália, como antecipou a Folha.

    Numa ação das polícias italiana e brasileira, ele foi detido em Maranello (a 322 km de Roma), onde vivia na casa de um sobrinho, com passaporte falso em nome de Celso, irmão morto em 1978 em um acidente de carro.

    O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o governo pedirá à Itália a extradição de Pizzolato. No entanto, ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que a medida é "inócua". Para Celso de Mello, o pedido é "juridicamente inviável" –já que Pizzolato possui cidadania italiana e as leis locais proíbem a extradição de seus cidadãos. Já a Procuradoria-Geral da República considera que existem brechas legais.

    A partir de informação da polícia italiana de pedido de cidadania de residente, a Polícia Federal descobriu que Pizzolato havia falsificado documentos. O planejamento da fuga começou em 2007, cinco anos antes de ele ser condenado pelo STF a 12 anos e 7 meses de prisão pelo envolvimento no esquema do mensalão.

    No momento da prisão, o ex-diretor do BB estava com a mulher e tinha € 15 mil. "Ele jogou o nome da família na lama", disse a tia de Pizzolato no Brasil.

    Luciano Veronezi/Editoria de Arte/Folhapress

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