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    Deputado gaúcho chama índios, gays e lésbicas de 'tudo o que não presta'

    DE SÃO PAULO

    12/02/2014 21h19

    Um vídeo (assista abaixo) sobre uma audiência com ruralistas no Rio Grande do Sul registra um discurso do deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS) em que ele define quilombolas, índios, gays e lésbicas como "tudo o que não presta".

    "Agora eu quero dizer para vocês: o mesmo governo, seu Gilberto Carvalho, também é ministro da presidenta Dilma. É ali que estão alinhados quilombolas, gays, lésbicas. Tudo o que não presta ali está alinhado", disse.

    A gravação foi feita em novembro de 2013, na cidade gaúcha de Vicente Dutra, e divulgada na internet. Presidente da Frente Parlamentar da Câmara, o deputado discursou em uma audiência pública sobre demarcação de terras indígenas organizada pela Comissão de Agricultura da Câmara.

    O mesmo vídeo exibe outro deputado, Alceu Moreira (PMDB-RS), apoiando a ideia de que produtores rurais armem-se para impedir a invasão de índios a fazendas. "Nós, os parlamentares, não vamos incitar a guerra. Mas lhes digo: se fardem de guerreiros, e não deixem um vigarista desse dar um passo na sua propriedade. Nenhum!", afirmou.

    Veja vídeo

    Ele pede ainda à plateia que os proprietários rurais recorram ao telefone e a redes sociais para reunir "multidões" a fim de expulsar invasores "do jeito que for necessário". Heinze segue a mesma linha de incentivar a contratação de seguranças particulares nas fazendas contra protestos indígenas. "Resolvemos os sem-terra lá em 2000, e vamos resolver os índios agora, não interessa o tempo que seja".

    Além de ambos criticarem o governo, o deputado Moreira ironizou o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), afirmando que não seria uma organização cristã, mas "a serviço da inteligência norte-americana e europeia para não permitir a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil". A entidade reproduziu o vídeo em seu site.

    OUTRO LADO

    O deputado Luis Carlos Heinze afirmou à Folha que se excedeu ao falar sobre gays e lésbicas. "Não tenho restrição nenhuma, não sou homofóbico, nada contra gays ou lésbicas. Cada um toma o rumo que quiser", disse.

    "Tem que haver respeito entre as pessoas. Não é a minha posição com relação a esse assunto. Se falei, me excedi, não é o que eu quis dizer", completou na noite desta quarta-feira (12).

    Heinze declarou ainda que suas opiniões sobre os índios não se referem a todos os indígenas brasileiros, mas sim aos que chamou de "maus índios". Segundo o deputado, maus índios seriam líderes das tribos e seus familiares que recebem dinheiro da terra que arrendam para brancos plantarem soja, milho e trigo.

    Essa renda, diz Heinze, não é distribuída entre os membros da tribo, mas ficam apenas com o líder. "Aqui no Rio Grande do Sul, dá uns R$ 15 milhões ou R$ 20 milhões por ano de arrendamento. É como se esse grupinho em cada tribo fosse o dono da terra, como se fosse um latifundiário".

    PP

    Em nota, o Partido Progressista do Rio Grande do Sul diz não concordar com as declarações do deputado Heinze e que "se trata de uma opinião do deputado no exercício do seu mandato".

    "O partido não compartilha de forma nenhuma com qualquer manifestação preconceituosa ou que incite a violência contra qualquer grupo. Defendemos a pluralidade e a convivência pacífica entre as pessoas, sempre respeitando suas opiniões e diferenças", diz a nota.

    *

    LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DO PARTIDO PROGRESSISTA

    O Partido Progressista do Rio Grande do Sul vem a público manifestar a sua posição sobre o vídeo em que consta a manifestação do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), em audiência pública da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, realizada em Vicente Dutra, em 29/11/2013, registrando de forma categórica que se trata de uma opinião do deputado no exercício do seu mandato.

    O partido não compartilha de forma nenhuma com qualquer manifestação preconceituosa ou que incite a violência contra qualquer grupo. Defendemos a pluralidade e a convivência pacífica entre as pessoas, sempre respeitando suas opiniões e diferenças.

    O PP não tem qualquer compromisso com o erro ou manifestação infeliz que por certo ocorre também com integrantes de outros partidos. As opiniões divergentes ocorrem, muitas vezes, entre membros da própria família, como acontecem, também, entre os membros dos partidos políticos.

    Por essa razão, o PP-RS manifesta, nesta nota, a sua posição e reafirma o seu compromisso na defesa de uma sociedade justa e plural, que começa pela liberdade de expressão, mesmo quando surgem opiniões com as quais discorda.

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