• Poder

    Monday, 20-May-2024 06:04:56 -03
    [an error occurred while processing this directive]

    Doações a condenados do mensalão desqualificam o Judiciário, diz Mendes

    DANIEL CARVALHO
    DE JABOATÃO DOS GUARARAPES (PE)

    14/02/2014 22h18

    O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse na noite desta sexta-feira (14) que as arrecadações promovidas na internet para ajudar os presos do mensalão a pagar as multas pelas quais foram condenados são uma tentativa de desqualificar o processo judicial.

    "O conjunto da obra acaba sendo um modelo de contestação da seriedade do processo judicial como um todo. E isso não pode ocorrer. A iniciativa [das vaquinhas], no sentido de descredenciar, de desqualificar a decisão judicial, isso não pode ocorrer", afirmou o ministro em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, antes de dar uma palestra sobre os 25 anos da Constituição a alunos de direito da Faculdade Guararapes.

    Antes, o ministro esteve com o governador Eduardo Campos (PSB-PE) na inauguração da reforma da sede do governo de Pernambuco.

    Mendes enviou nesta semana uma carta ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que cobrou do ministro do STF explicações sobre suspeitas levantadas acerca das doações para os petistas.

    Alan Marques/Folhapress
    O ministro Gilmar Mendes, em sessão do Supremo Tribunal Federal
    O ministro Gilmar Mendes, em sessão do Supremo Tribunal Federal

    O ministro admitiu que a carta em que sugere a realização de uma vaquinha para ressarcir "pelo menos parte dos R$ 100 milhões subtraídos os cofres públicos" foi uma ironia.

    Questionado se a carta era uma resposta irônica ao senador, Mendes disse que "sim" e prosseguiu: "Imagino que os militantes se disponham a cumprir alguns dias nos presídios. Seria possível? Em suma, são questões que nós precisamos levar em conta".

    "Se se trata de fato desse amplo trabalho de solidariedade, nós estamos a falar de desvios que montam a mais de R$ 100 milhões. Vai haver também uma campanha para essa devolução?", disse o ministro, ao defender uma reflexão mais profunda sobre o assunto.

    "Sabedor que há um desvio de quase R$ 100 milhões, que tem que voltar aos cofres públicos, certamente ele [Suplicy] vai tomar a iniciativa. Ou não?"

    Assim como na carta encaminhada a Suplicy, Gilmar Mendes disse que a pena aplicada aos condenados é intransferível.

    "Se amanhã nós pudermos transferir as penas, por exemplo, alguém é condenado a pagar 40 salários mínimos ou 40 cestas básicas e ele transfere para terceiros, obviamente que ele não está cumprindo a pena", afirmou.

    "Começar a conceber pena para que o outro pague, de fato, parece impróprio", completou.

    OUTRO LADO

    O coordenador jurídico do PT, Marco Aurélio Carvalho, que coordena a coleta de recursos, diz que "o tom intimidatório do ministro acabou não funcionando". Mendes já havia criticado as vaquinhas para Delúbio Soares e José Genoino.

    No segundo dia de doações, a coleta para José Dirceu já conseguiu arrecadar R$ 225,7 mil.

    Ele afirma ainda que, se tem vontade de fazer política, o ministro deveria deixar o Supremo e se lançar candidato.

    A mesma afirmação foi feita pelo ex-presidente Lula na semana passada, sem citar Gilmar Mendes.

    "O prazo para desincompatibilização dos ministros do STF [eles podem deixar o cargo até abril para se candidatar] está expirando. Se o Gilmar Mendes quiser ser candidato a algum cargo, vai ter o nosso reconhecimento e o nosso respeito. Caso contrário, ele tem que se recolher ao recato próprio aos ministro da Corte."

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024