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    Em ataque a Dilma, Campos diz que Brasil só cresceu até o governo Lula

    DANIEL CARVALHO
    DO RECIFE

    24/02/2014 16h15

    A cerimônia de lançamento da candidatura ao governo de Pernambuco do secretário da Fazenda, Paulo Câmara (PSB), serviu também para uma série de críticas à gestão Dilma Rousseff, provável adversária do governador Eduardo Campos (PSB-PE) na eleição presidencial deste ano.

    Nesta segunda-feira (24), no Recife, num auditório lotado de prefeitos, vereadores, líderes partidários e pessoas passando mal de tanto calor, Campos fez uma série de críticas ao governo Dilma e afirmou que o Brasil cresceu somente até 2010, último ano do governo do ex-presidente Lula.

    Logo no início de sua fala num hotel da cidade –o mesmo onde lançou sua candidatura ao governo, em 2006 e 2010, e a do hoje prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), em 2012–, Campos fez uma retrospectiva histórica dos últimos 60 anos. Citou o suicídio de Getúlio Vargas (1954), o golpe militar (1964), as Diretas Já (1984) e o início do processo de estabilização econômica (1994).

    "Esse ciclo foi secundado por um importante ciclo construído com a chegada [eleição] do presidente Lula ao governo em 2002. E hoje o Brasil vive, há três anos, com um baixo crescimento econômico, metade do que cresce a América Latina e metade do que cresce o mundo, diferente do período anterior", disse Campos.

    Ao defender que o mundo vive um momento de mudanças e que é preciso fazer um debate sem "rinha", Campos disse ser necessário "reconhecer o que foi feito de certo", mas só fez críticas ao governo Dilma, sem citar o nome dela uma única vez.

    "Nós estamos, cada dia mais, vendo a vulnerabilidade dos fundamentos macroeconômicos que não vão segurar as conquistas que foram efetivamente colocadas na vida de milhões de brasileiros das periferias das grandes cidades e do interior", disse o pré-candidato à Presidência.

    A cerimônia contou com representantes de 12 partidos aliados do governador em Pernambuco que compõem a "Frente Popular": PSB, PMDB, PSDB, PCdoB, PV, PDT, PPS, PR, PTN, PSD, PPL e PTC.

    Apesar de estar ladeado no evento por velhos caciques da política pernambucana, como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB), o deputado Inocêncio Oliveira (PR), o ex-governador de Pernambuco Joaquim Francisco (PSB) e o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Guilherme Uchôa (PDT), Campos voltou a defender a nova política.

    "A nova política no Brasil hoje é mudar o governo que está aí", afirmou o governador.

    O governador agradeceu ao "apoio generoso e decidido dos mais velhos" e se emocionou ao citar o escritor paraibano Ariano Suassuna.

    "Eu tenho a honra de olhar nos seus olhos, como olharia para os olhos do meu pai e do meu avô, e dizer 'eu não o decepcionei'", afirmou. Campos é neto do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes (1916-2005) e filho do escritor Maximiniano Campos.

    Dos nomes cotados para disputar o governo, dois deles, os secretários Tadeu Alencar (Casa Civil) e Danilo Cabral (Cidades), não foram chamados para compor a mesa do governador.

    O ex-secretário de Governo Maurício Rands (PSB), o vice-governador, João Lyra Neto (PSB), e o ex-ministro Fernando Bezerra (PSB) ficaram próximos a Campos na solenidade.

    A primeira-dama, Renata Campos, também ficou do lado de fora, na porta do auditório, único local onde por onde passava algum ar. Ela chegou a ajudar uma jornalista que passou mal por causa do calor. Um homem chegou a vomitar.

    PAULO CÂMARA

    Após meses de especulações e campanhas internas, o governador Eduardo Campos oficializou a chapa governista que disputará o Palácio do Campos das Princesas.

    Foram confirmados os nomes do secretário da Fazenda, Paulo Câmara (PSB), para governador, do deputado federal Raul Henry (PMDB) para vice e do ex-ministro Fernando Bezerra (PSB) para o Senado.

    Em seu discurso, Campos apresentou duas frentes que devem ser exploradas durante a campanha de Câmara.

    Ele será apresentando como o responsável pela nova partilha do ICMS no Estado e pelo FEM (Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento Municipal), medidas do governo estadual que ajudaram municípios que não conseguiam fechar suas contas por causa da redução do FPM (Fundo de Participação dos Municípios), do governo federal.

    "[Paulo Câmara] vai dar conta da campanha e de, em quatro anos, fazer muito mais do que eu pude fazer. Até porque eu vou ajudar [como presidente]", disse Campos.

    O pré-candidato ao governo procurou usar seu discurso para mostrar que atende às expectativas tanto dos pessebistas que defendiam a escolha de um nome técnico quanto às do que queriam um político para a disputa.

    Câmara deve enfrentar o senador Armando Monteiro Neto (PTB), que deve concorrer com apoio do PT.

    Câmara deve se desincompatibilizar do cargo após o Carnaval. Seu substituto ainda não foi escolhido, mas a tendência é que o secretário-executivo, José Francisco Neto, assuma a vaga.

    PRETERIDOS

    Todos que discursaram procuraram afagar o ego do vice-governador, João Lyra Neto, e do ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra, os dois preteridos que mais ficaram incomodados por não poder disputar o governo.

    Lyra Neto deixou a cerimônia sem dar entrevistas. Já Bezerra procurou se mostrar conformado e empolgado com a vaga de candidato ao Senado.

    "Isso já é página virada", afirmou. "Era uma expectativa que eu acalentava há algum tempo [ser candidato a governador], mas estou feliz em estar sendo útil à Frente Popular de Pernambuco", disse Bezerra.

    Ex-ministro do governo Dilma, ele disse reconhecer os avanços "dos últimos 12 anos", mas endossou o discurso de Campos de que "é evidente o baixo crescimento do Brasil".

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