• Poder

    Sunday, 05-May-2024 18:03:31 -03

    Protestos de junho de 2013 são marco final da redemocratização, diz filósofo

    RICARDO MENDONÇA
    DE SÃO PAULO

    12/03/2014 15h35

    Junho de 2013 não foi apenas o mês das maiores manifestações de rua no país desde a campanha das Diretas-Já, entre 1984 e 85. É também a data que marca o fim do longo processo de redemocratização do país.

    A opinião é do filósofo Marcos Nobre, ex-colunista da Folha, apresentada hoje cedo numa mesa de debate do seminário "1964: 50 anos depois", promovido pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em parceria com o Sesc São Paulo.

    Para Nobre, a redemocratização do país começou entre 1979 e 1980, após o fim do bipartidarismo imposto pela ditadura, quando começam a surgir alguns novos partidos no país, como o PT e o PDT. Ele divide esse grande intervalo em dois períodos.

    O de 1979 a 1994 seria marcado por um tipo de comportamento que ele chama de "progressismo", quando os protagonistas eram as figuras que haviam deixado suas diferenças de lado para conseguir se unir pelo fim da ditadura.

    O segundo subperíodo da redemocratização é o que vai de 1994 a 2013, quando o que predominou, segundo sua interpretação, foi a cultura política da "governabilidade", a concepção de que os governos só seriam viáveis se conseguissem manter maiorias avassaladoras no parlamento.

    As manifestações de junho de 2013, para ele, quebraram esses dois paradigmas. Diferentemente do que ocorria antes, disse, "foi o momento que todos foram para a rua, mas ninguém abriu mão das diferenças". A ideia de necessidade de formação de enormes maiorias para governabilidade, da mesma forma, também teria sido colocada em xeque, afirma.

    Nobre dividiu a mesa com o pesquisador Brasílio Sallum Jr., que afirmou não concordar mais com o termo "redemocratização" para descrever a transição da ditadura para a atual democracia.

    Para Sallum, a expressão "redemocratização" tornou-se inadequada porque esse processo não se limitou ao reestabelecimento das regras vigentes antes de 1964, mas num sistema muito mais complexo e sofisticado.

    "Não foi só uma mudança de regime político, mas uma mudança que envolveu as relações do Estado com o mundo econômico e com outros Estados", afirmou. "Imaginava-se que [o processo de redemocratização] teria se encerrado com a Constituição de 1988 e a eleição de 1989, mas foi além. O impeachment [de Fernando Collor, em 1992] qualificou essa democracia [...] E ela ganhou outro complemento com a eleição de Lula [em 2002], entraram em cena personagens que estavam fora", explicou.

    Sallum entende que o Brasil fez uma transição "muito bem sucedida" da ditadura para a democracia. "Quero chamar a atenção para isso: fizemos a transição sem romper nenhuma regra institucional. A crise ocorreu por esvaziamento da capacidade do regime anterior em aplicar as regras."

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024