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    'Presidente faz má política, a política do confronto', diz líder do PMDB

    NATUZA NERY
    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA

    16/03/2014 02h15

    Pivô da mais tensa crise de Dilma Rousseff com o Congresso, o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), verbalizou à Folha o que muitos aliados do governo dizem nos bastidores: "A presidente faz política, mas a má política, a política do confronto."

    "Não sei quem está fazendo articulação política hoje. É quase uma variação daquele filme: "atenção, passageiros, o articulador político sumiu", ironizou o peemedebista e expoente do chamado "blocão", grupo de congressistas de diversos partidos que, em votações, se posiciona contra o governo federal.

    Ao PT, reserva críticas fortes: diz que o partido não tem um projeto de aliança, mas de ''hegemonia''.

    Leia trechos da entrevista.

    *

    Folha - A presidente aceitou dois nomes do PMDB para a reforma ministerial. A bancada está satisfeita?
    Eduardo Cunha - A presidente não aceitou dois nomes do PMDB, ela indicou dois nomes dela. Se for do PMDB, será por acaso. A bancada abriu mão, disse que não queria indicar, não indicou.

    Mas não indicar significa rompimento?
    Não, rompimento é outra coisa. Continuamos na base, PMDB não vai participar de votação que prejudique as contas públicas.
    Consequentemente, quando o PMDB está com essa postura é porque não saiu da base. O que a gente colocou é que havia uma especulação pública por cargos. Como se o PMDB estivesse brigando para ter mais cargo, menos cargo. Aquilo estava incomodando a bancada. A decisão foi: cansamos de sermos bancados como fisiológicos.

    Mas este é o histórico de imagem do PMDB.
    Não é o histórico desta bancada que tenho a honra de liderar hoje.

    A relação com PMDB sempre foi tensa, mas agora parece que se agravou. Dilma mal dialoga com Michel Temer, seu vice-presidente. Mas dá atenção a você. O senhor hoje tem mais importância que ele hoje no PMDB?
    Imagina, não passa pela minha cabeça ter mais importância que quem quer que seja dentro do partido. Cada um dentro de sua instância. Sou líder da bancada.

    Mas o senhor, hoje, tem liderança maior que a do PMDB. Tem deputados de outros partidos que ouvem suas orientações.
    Veja bem, vamos falar do batizado blocão. No momento que a bancada do PMDB na Câmara decidiu não indicar nomes, surgiu um movimento de revolta de partidos da base aliada para com o processo hegemônico do PT. Houve uma confluência de visões e interesses de que todos são queixosos do tratamento recebido pelo governo, que não são de cargos, mas do processo hegemônico de ocupação do PT.

    O senhor topa ser candidato a presidente da Câmara ano que vem?
    Não sou candidato a presidente da Câmara. O candidato é Henrique Eduardo Alves e apoio sua reeleição integralmente.

    Pedro Ladeira/Folhapress
    O líder do PMDB na Câmara deputado Eduardo Cunha (RJ), pivô da crise entre o governo e o PMDB durante entrevista para a Folha, no gabinete da liderança do partido
    O líder do PMDB na Câmara deputado Eduardo Cunha (RJ), pivô da crise entre o governo e o PMDB durante entrevista para a Folha, no gabinete da liderança do partido

    O problema do PMDB hoje é a presidente Dilma?
    Não tenho condição de te responder se ela é o problema. Veja bem: não é a primeira vez que acontecem situações como as que estamos vivendo hoje. É bom você historiar: Depois da votação da Petrobras, eu fui agredido pelo presidente do PT no meu estado [o prefeito de Maricá, Washington Quaquá]. Ele tem uma verborragia, parece que andou agredindo os partidos da base aliada de novo essa semana.

    Mas a presidente Dilma poderia enquadrá-lo, mas não o faz. Diante disso, ela é o problema?
    Eu não sei se ela poderia. Ela é governo, chefe de estado, ele é partido. Só acho o seguinte: que o líder do PMDB não provocou a crise.

    Então quem provocou?
    O presidente do PT quando vem querendo colocar na gente pecha de fisiologista atrás de cargos ou outro tipo de favores.

    Mas não é a primeira vez que vocês são chamados de fisiológicos, inclusive na sua liderança.
    E eu reagi. Só que no meio desse processo que estamos vivendo de uma reforma ministerial que está se arrastando há seis meses, na qual o PMDB está sendo execrado em praça pública como pedinte de cargo, o que não é. Queremos virar a página desse episódio.

    Dilma trata o Congresso como ele merece?
    O problema de tratar como merece... cada um dá o seu respeito. O Congresso reagiu essa semana o tratamento que foi dado. Na verdade, essa semana a votação refletiu muito mais uma insatisfação do tratamento dado ao Congresso que necessariamente o tema. Na hora que o presidente do PT me atacou, ao invés de se resolver o problema, resolveram me demonizar por ter sido atacado. É surreal.

    Essa campanha não vem do PT, vem do Planalto.
    Eu não sei de onde vem, o fato é que eu vejo publicado coisas dessa natureza. Vocês podem fazer as ilações com suas informações.
    Então o senhor se sente querido pela presidente.
    Imagina, eu não quero ser querido. Quero ser respeitado. Ela sempre me tratou com respeito todas as vezes que eu estive com ela.

    Na última reunião de Dilma, Lula e a coordenação da campanha do PT, ficou definido como estratégia derrotar e isolar o senhor.
    Que tamanho eu tenho para isso? Não é uma super dimensão do meu papel? Será que não estão buscando centrar no inimigo algo que não existe para disfarçar a raiz do verdadeiro problema? Quando Rui Falcão [presidente nacional do PT] fala em chantagem, toma lá dá cá, o que ele tem a dizer do que eles oferecem a outros partidos para cooptar quando querem? Ou você acha que determinado partido deixou a aliança porque foi convencido, achou bonito, ou porque foi cooptado? Isso não é toma lá dá cá?

    Existe risco de rompimento real?
    Só a convenção nacional poderá dizer.

    Se não for uma aliança com o PT, o PMDB pende para que lado?
    Nenhum lado. Veja bem, não há possibilidade de o PMDB ter participado do governo e virar oposição, não teria menor cabimento. Seria neutralidade, não haveria outra alternativa.

    O sr. diz que seu partido não é fisiológico
    É que nós cansamos daquela discussão, a bancada cansou. O partido não tem nada contra a indicação para ocupação de ministérios, simplesmente optou por não fazê-lo.

    Mas não fez porque a presidente não aceitou os nomes que vocês queriam indicar.
    Quais nomes? Me prove que eu indiquei. Eu nunca estive com a presidente da República tratando do assunto ministério.

    A presidente da República não gosta do sr., deputado! Claro que o sr. não iria negociar com ela..
    Então você não pode dizer que eu indiquei.

    O Michel Temer fez isso
    Se ele discutiu, especulou opções da ideia dele, não da bancada.

    O sr. vê tratamento diferenciado entre o PMDB do Senado e da Câmara?
    Se o PT tem 17 correntes internas, o PMDB ao menos tem duas. Isso é claro. Sempre foi assim.

    Se existe dois PMDBs e lá o presidente do Senado é uma figura que não topa muito com o sr., vocês vivem brigando nos bastidores
    Tenho a melhor relação com ele.

    Tem o quê (Risos)?
    (Silêncio. Rosto vermelho.)

    Não é um erro estratégico lutar em várias frentes numa guerra, Senado, Palácio do Planalto?
    Tem divisão, mas não guerra. Se nós conseguimos chegar na posição de aliança com o PT, chegamos porque chegamos unidos.

    Os ministros que cuidam da articulação política são hábeis?
    Quem cuida da articulação política no governo? Preciso saber primeiro, é bom me informar. Não sei quem está fazendo articulação. Se alguém não está fazendo, é porque a presidente não delegou. É uma variação daquele filme, 'atenção senhores passageiros, o articulador político sumiu'.

    Está dizendo que Dilma não faz política?
    Ela faz política, mas faz a má política, a política do confronto.

    Como faz para o PMDB perder a imagem de fisiológico?
    É ter um candidato a presidente e ganhar eleição.

    Não é entregar todos os cargos e manter apoio a projetos de interesse do governo da ocasião, sem toma lá da cá?
    Interesse do governo não necessariamente é bom. A bancada fez exatamente isso, entregou os cargos.

    O seu aliado Fábio Cleto segue vice-presidente da Caixa.
    A bancada não decidiu que ia entregar os cargos existentes, decidiu que não indicaria ministros agora.

    Então a bancada é só metade fisiológica?
    Da minha parte pode entregar todos, se for essa a vontade da bancada. A bancada até quis deliberar isso, se você quer saber. Optar por entregar os cargos aí sim significa ruptura. Os espaços mínimos que o PMDB ocupa no governo, inferiores ao que tinha com Lula quando nem fazia parte da aliança eleitoral, assim são porque apoiamos a eleição. Isso não é fisiológico. O que é fisiológico é fazer toma lá dá cá. Por isso temos que disputar a presidencial.

    E há candidato?
    Infelizmente, não.

    O sr. bateu nessa tecla de que o PMDB quer respeito, ela respeita o Michel Temer?
    Tem que perguntar para ele. Às vezes o papel dele como vice é confundido com o de dirigente partidário, e esse papel misto talvez seja o defeito de origem. Ela sempre o tratou com respeito das vezes em que eu estava junto. Ele tem tamanho de vice-presidente da República e para ser presidente.

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