• Poder

    Tuesday, 30-Apr-2024 21:42:34 -03

    Sentença judicial diz que Maluf tratou de dinheiro no exterior

    FLÁVIO FERREIRA
    MÁRIO CÉSAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    17/03/2014 03h15

    Pressionado pelo Deutsche Bank a revelar a origem de US$ 200 milhões que movimentou no exterior, o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP) tratou pessoalmente com advogados encarregados de dar explicações ao banco e admitiu que controlava uma das empresas que administraram os recursos, segundo documentos obtidos pelas autoridades da Ilha de Jersey.

    Desde que a existência desse dinheiro foi revelada, há quase 13 anos, Maluf nunca reconheceu publicamente ser o proprietário dos recursos. Em todas as manifestações sobre o caso, sua defesa insiste que ele "não tem e nunca teve contas no exterior".

    Mas a sentença da corte da Ilha de Jersey, que no ano passado condenou empresas da família Maluf a devolver à Prefeitura de São Paulo US$ 32 milhões (equivalentes a R$ 75 milhões), descreve em detalhes tratativas dele e de seus advogados com o Deutsche Bank e não deixa dúvidas sobre sua ligação com os recursos encontrados em Jersey.

    As autoridades da ilha concluíram que o dinheiro foi desviado de obras construídas quando Maluf foi prefeito de São Paulo, de 1993 a 1996.

    O Deutsche Bank começou a fazer questionamentos sobre a origem dos recursos de Maluf em 1999, quando uma nova lei contra a lavagem de dinheiro em Jersey obrigou os bancos a se informar melhor sobre os seus clientes.

    O Deutsche movimentou recursos de quatro empresas controladas pela família do deputado, Durant, Kildare, Macdoel e Sun Diamond. Numa de suas cartas aos advogados de Maluf, o banco alemão disse que o dinheiro movimentado por uma dessas empresas "foi além do que pode ser considerado normal".

    Em agosto de 1999, o empresário Flávio Maluf, filho do deputado, disse numa carta ao banco que parte do dinheiro representava recursos aplicados por ele mesmo e seu pai em fundos de investimento conhecidos como trusts.

    Nessa época, o próprio Maluf escreveu ao Deutsche Bank para dizer que a carta do filho tinha sua aprovação e refletia seus interesses como dono do dinheiro depositado num desses fundos, controlado pela Sun Diamond, segundo a sentença de Jersey.

    Em março de 2000, o banco alemão insistiu para obter "uma explicação sobre a origem dos fundos em cada caso" e alertou que sua assessoria jurídica já havia recomendado o congelamento dos recursos das empresas.

    Um dos advogados de Maluf mandou então um mensagem ao Deutsche para pedir mais tempo e lembrar os alemães de que "a exigência de confidencialidade da família Maluf é imperativa".

    Em maio de 2000, Maluf reuniu-se com seus advogados em Monte Carlo, no principado de Mônaco. Segundo a sentença de Jersey, ele falou de sua trajetória e dos negócios da família, e deu explicações sobre um processo judicial recente contra ele.

    A reunião resultou em nova troca de correspondências entre a família e o banco. Numa das cartas citadas pela sentença, Flávio Maluf disse que o dinheiro em Jersey era de comissões obtidas por ele em negócios particulares.

    O filho de Maluf escreveu também que ele e o pai estavam "extremamente chateados" com as cobranças feitas pelo banco e queriam encerrar logo o "infeliz episódio".

    Em fevereiro, o Deutsche Bank resolveu pagar uma indenização de US$ 20 milhões (R$ 47 milhões) aos cofres públicos no Brasil para evitar uma ação do Ministério Público Estadual na Justiça.

    OUTRO LADO

    Consultado sobre o conteúdo da sentença da Ilha de Jersey, Adilson Laranjeira, assessor do deputado Paulo Maluf (PP-SP), limitou-se a afirmar que "a reportagem se baseia em documento sem identificação e apócrifo [falso, ou sem autoria conhecida], e foi feita para vender jornal".

    A Folha enviou à assessoria de Maluf os principais trechos da sentença judicial, que foi obtida pelo jornal junto à própria corte de Jersey.

    Editoria de arte/Folhapress

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024