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    Lava Jato

    Doleiro preso pela PF afirma que recebeu '12 mi' de empreiteira

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    22/03/2014 03h45

    O doleiro Alberto Youssef disse numa conversa telefônica interceptada pela Polícia Federal que recebeu 12 milhões da empreiteira Camargo Corrêa, sem detalhar se o valor era em dólar ou real, segundo documentos obtidos pela Folha. O diálogo ocorreu em outubro de 2013.

    A PF trabalha com a suspeita de que o dinheiro possa ter sido usado para pagar propina a políticos ou a funcionários públicos. Outra hipótese dos policiais é que o doleiro estaria lavando recursos que a empresa obteve de maneira ilícita.

    A Camargo Corrêa não quis comentar a menção feita pelo doleiro de que era credor de 12 milhões da empreiteira.

    Sérgio Lima - 18.out.2005/Folhapress
    O doleiro Alberto Youssef durante um depoimento prestado à CPI dos Correios, em 2005
    O doleiro Alberto Youssef durante um depoimento prestado à CPI dos Correios, em 2005

    Youssef foi preso na segunda-feira (17) pela Operação Lava Jato, deflagrada para apurar lavagem de dinheiro.

    O doleiro é um velho conhecido da PF. Ele foi preso em 2003, nas investigações sobre o Banestado, que apurou remessas ilegais de US$ 30 bilhões nos anos 1990 e 2000. Youssef fez um acordo de delação premiada, pagou uma multa de R$ 1 milhão e obteve perdão por entregar alguns clientes à PF. Na sua volta ao mercado paralelo de dólar, trabalhou até para um traficante que foi preso com 700 quilos de cocaína.

    COMISSÕES

    Na mesma operação, a PF apreendeu uma planilha sobre "comissões", enviada por e-mail, na qual aparece a sigla CNCC no campo dos clientes, "em provável referência ao Consórcio Camargo Corrêa". Os valores das comissões na planilha é de R$ 7,9 milhões. O consórcio faz parte das obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, orçada em R$ 9 bilhões.

    O relatório da polícia diz que as comissões "indicam o envolvimento de Alberto Youssef com o pagamento de propina a agentes públicos".

    A planilha com as comissões foi enviada por uma empresa chamada Sanko-Sider, fornecedora de tubos de aço para a Petrobras.

    A empresa também fornece tubos de aços para a transposição do rio São Francisco, na parte da obra próxima à Aracaju (SE), num contrato de cerca de R$ 10 milhões.

    As comissões eram pagas pela Sanko-Sider para duas empresas controladas pelo doleiro, segundo a PF: MO Consultoria e GDF Investimentos. Uma das hipóteses da PF é que a Sanko-Sider repassava a políticos dinheiro que recebia da Petrobras.

    O diretor comercial da Sanko-Sider, Marcio Bonilha, aparece na Operação Lava Jato mantendo diálogos com o doleiro, a quem chama de "presidente" ou "presi".

    Em 2008, Bonilha teve a sua prisão decretada pela Operação João de Barro da PF, que investigava o desvio de recursos públicos.

    Anteontem, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, que tinha relações com o doleiro, foi preso por ocultar documentos. Costa ajudou a elaborar o contrato de compra da refinaria de Pasadena, que está sob investigação por ter provocado um prejuízo milionário à estatal.

    Ele começou a ser investigado pela PF porque ganhou do doleiro um Land Rober Evoke, no valor de R$ 250 mil.

    Os telefonemas interceptados indicam que o doleiro tinha outros negócios com o ex-diretor da Petrobras, um deles de R$ 9 milhões, que a PF ainda não sabe qual foi.

    O doleiro faz um desabafo sobre aparentes reclamações de Costa: "Ele acha que foi prejudicado, você tá entendendo? Porra, foi prejudicado... o tanto de dinheiro que nós demos pra esse cara. Recebi 9 milhões em bruto, 20% eu paguei, são R$ 7 [milhões] e pouco. Vê quanto o Paulo Roberto levou".

    O Ministério da Integração Nacional informou que não possui contratos com o Consórcio CNCC, tampouco com a Sanko.

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