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    Análise: Efeito eleitoral depende de mais investigação

    FERNANDO RODRIGUES
    DE BRASÍLIA

    23/03/2014 03h00

    Quem acompanha política há algum tempo se lembra da funesta previsão de Jorge Bornhausen em meados de 1992. O experiente articulador disse que a CPI do Collorgate não iria dar em nada. No final daquele ano, Fernando Collor deixou o Planalto após sofrer um impeachment.

    Esse caso atual envolvendo a Petrobras e a compra de uma refinaria nos EUA está longe de ser algo parecido com o que foi o Collorgate. Mas seu impacto na eleição de outubro é igualmente imprevisível. Tudo dependerá da profundidade das investigações que serão feitas e do que será encontrado ao final.

    A Petrobras quase sempre aparece em campanhas eleitorais. João Santana, o marqueteiro de Lula, tem convicção de que em 2006 o discurso estatizante do PT venceu de lavada a imagem neoliberal do PSDB.

    Por coincidência, foi justamente em 2006 que foi fechada a negociação da Petrobras para comprar uma refinaria nos EUA. Hoje, sabe-se, a operação teria produzido um prejuízo de US$ 1 bilhão para a petroleira brasileira.

    Dilma Rousseff presidia o Conselho de Administração da Petrobras em 2006. Comandou a reunião na qual o péssimo negócio foi firmado.

    Descoberto esse fato, a presidente ficou com duas opções à frente. Uma era continuar a martelar que tomou a decisão de acordo com recomendações técnicas. A outra era admitir que foi tudo um grande equívoco, mas que ela foi induzida ao erro por ter recebido informações pouco detalhadas.

    Dilma fez o que se chama "damage control" (controle de danos).

    Passados alguns dias, nota-se que a presidente optou por falar um pouco mais agora para tentar evitar que o tema volte a esquentar em um momento dramático, no meio do processo eleitoral.

    Só que muitos no governo, na Petrobras e no PT consideraram a estratégia um erro.

    Porém e se, mais adiante, aparecessem algumas das milhares de páginas do processo, indicando que teria sido possível evitar a compra danosa da refinaria nos EUA? Ao dizer de uma vez que considerou o negócio um erro e que não teve acesso a todos os dados, a presidente espera ter conquistado uma blindagem para mais adiante.

    É claro que sai trincada a imagem de gestora competente, sempre vendida para Dilma em suas propagandas.

    O que ainda não está claro é se haverá tempo, até outubro, para que mais fatos apareçam com o potencial de provocar impacto nas urnas.

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