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    Delator indica que CPTM ajudou cartel

    FLÁVIO FERREIRA
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    29/03/2014 03h15

    Um dos delatores do cartel dos trens e documentos examinados pelo Ministério Público de São Paulo oferecem indícios de que diretores da CPTM colaboraram para que empresas do setor fraudassem a licitação da atual linha 5-lilás do Metrô.

    A Promotoria diz que a CPTM passou por cima de regra do edital e permitiu que seis empresas antes divididas em três consórcios compusessem um consórcio único, o Sistrem, para concluir a concorrência com "injustificável rapidez" em 2000.

    Unidas após a fase de pré-qualificação, as seis empresas venceram a licitação, após disputa com o consórcio Metrô Cinco. O preço dos trens e sistemas é de R$ 1,6 bilhão, em valores correntes.

    Em depoimento sigiloso à Promotoria em outubro de 2013, o ex-diretor de sistemas de transportes da Siemens Jan Hochen Orthmann afirmou que, em 2000, procurou o diretor de Operações da CPTM para pedir que ele ajudasse a incluir a multinacional espanhola CAF no "grande consórcio" Sistrem, que viria a ganhar a concorrência.

    Orthmann disse não recordar o nome do diretor, mas à época o cargo era ocupado por João Roberto Zaniboni, indiciado pela Polícia Federal sob a suspeita de ter recebido US$ 836 mil do cartel.

    O contrato da linha 5 foi assinado por Zaniboni e outros dois ex-diretores da CPTM que também foram indiciados pela PF sob suspeita de suborno: Ademir Venâncio e Oliver Hossepian.

    No testemunho, Orthmann não revelou o que ocorreu depois da conversa com o diretor da CPTM, mas a CAF acabou entrando no consórcio Sistrem, liderado pela Alstom e Siemens.

    O depoimento foi apresentado como prova na denúncia entregue à Justiça contra 30 executivos de 12 empresas acusadas de cartel.

    A acusação da Promotoria aponta que "há indícios concretos de possível conluio entre integrantes da CPTM e das empresas do consórcio Sistrem para implementação do acordo anticompetitivo, visando, mediante fraudes, reduzir a concorrência".

    A Corregedoria do governo paulista, que também investiga o contrato, achou indícios de que o rearranjo das empresas limitou a disputa.

    OUTRO LADO

    A CPTM afirma em nota que "nunca compactuou" com práticas ilegais e a licitação seguiu regras de bancos de fomento internacionais.

    A Alstom diz que não permite práticas anticoncorrenciais. A Siemens afirma estar "comprometida com a defesa dos negócios limpos". A CAF não quis se pronunciar.

    O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende Zaniboni e Venâncio, afirma que seus clientes nunca ajudaram empresas em licitações.

    Marcelo Martins de Oliveira, defensor de Oliver Hossepian, afirma que o cliente dele nunca se envolveu em negócios ilícitos na CPTM.

    Eduardo Knapp - 23.ago.2013/Folhapress
    O ex-diretor da CPTM João Zaniboni chega ao Ministério Público, em SP, para depor
    O ex-diretor da CPTM João Zaniboni chega ao Ministério Público, em São Paulo, para depor

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