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    Vice-presidente da Câmara agora diz que doleiro pagou viagem

    ANDRÉIA SADI
    EM BRASÍLIA

    02/04/2014 03h33

    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), mudou sua versão e reconheceu ontem ter viajado de graça em um jatinho cedido pelo doleiro Alberto Youssef, investigado pela Polícia Federal sob suspeita de participação num esquema bilionário de lavagem de dinheiro.

    Ontem, a Folha revelou que o doleiro havia emprestado a aeronave para o petista viajar de Londrina (PR) a João Pessoa (PB) durante as férias parlamentares de janeiro. O deputado levou mais sete pessoas no Learjet 45.

    Na segunda, Vargas disse pediu o avião porque voos comerciais estavam muito caros no período, mas que pagou o combustível. Ontem, afirmou que só aceitou embarcar porque imaginava se tratar de uma ''carona''.

    Segundo ele, quando soube que era um frete exclusivo, pediu à sua secretária para reembolsar Youssef das despesas de combustível, estimadas por ele em R$ 20 mil.

    "Entretanto, a proposta de reembolso foi negada", afirma sua assessoria em nota, acrescentando que o deputado teria sido informado dessa recusa somente ontem.

    Um voo de Londrina para João Pessoa, em um jato de versão inferior, um Learjet 35, custa cerca de R$ 110 mil, com combustível, segundo consulta feita pela reportagem à Líder Aviação, empresa especializada em fretamentos.

    A viagem de férias de Vargas foi discutida numa conversa entre ele e Youssef no dia 2 de janeiro, por meio de mensagens de texto interceptadas pela PF.

    Vargas diz conhecer o doleiro há 20 anos, e que Youssef, que está preso, é um empresário conhecido em Londrina, onde ambos vivem.

    "O que aconteceu comigo poderia ter acontecido a qualquer homem público. Eu imaginei que ele tivesse aprendido a lição pois a Justiça o tratou como herói quando ele fez delação premiada", disse.

    Youssef foi preso em 2003, nas investigações sobre o Banestado, que apurou remessas ilegais de US$ 30 bilhões entre 1990 e 2000. Na época, ele fez um acordo de delação premiada, pagou multa de R$ 1 milhão e obteve perdão por entregar clientes à PF.

    Exercendo o segundo mandato como deputado federal, Vargas era um dos cotados para disputar a Presidência da Câmara pelo PT em 2015. Ele se destacou nos últimos meses pela defesa, no Congresso, de petistas condenados por seu envolvimento com o escândalo do mensalão.

    Em outra conversa captada pela PF, Vargas e Youssef discutem um assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde. A transcrição não deixa claro qual era o assunto, mas a PF concluiu que o petista e o doleiro tinham um objetivo comum na pasta.

    Esse interesse giraria em torno da Labogen, empresa que, segundo a PF, foi usada por Youssef para remeter U$ 37 milhões ao exterior.

    A Labogen havia firmado acordo com a pasta para que um medicamento fosse produzido por laboratórios públicos, em dezembro. A parceria, porém, foi suspensa após o ministério ser informado sobre a investigação.

    Segundo a PF, Vargas disse a Youssef ter conversado com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, Carlos Gadelha.

    Vargas nega qualquer contato com Gadelha, e diz que o doleiro o procurou para saber como funcionavam as parcerias com a pasta. O ministério diz que Gadelha nunca tratou do assunto com o deputado.

    A oposição na Câmara disse ontem esperar que Vargas dê explicações ao Conselho de Ética da Casa.

    Colaborou MARIANA HAUBERT, de Brasília

    Editoria de Arte/Folhapress

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