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    'Foi um equívoco', diz vice-presidente da Câmara sobre uso de jato de doleiro

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    02/04/2014 19h12

    Dois dias após as primeiras denúncias de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, o vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), foi ao plenário da Casa para explicar o episódio em que pegou emprestado um jatinho do doleiro para uma viagem de férias.

    Sem dar explicações concretas sobre o episódio, Vargas afirmou apenas ter se arrependido. "Em relação ao avião, eu reconheço: fui imprudente. Foi um equívoco. Deveria ter exigido um contrato. Deveria ter quitado. E peço desculpas aqui por ter exposto a minha família. [...] Compareço aqui com serenidade, com o coração machucado, mas leve", disse o deputado nesta quarta-feira (2).

    Ele afirmou ainda que não sabia que o doleiro estava sendo investigado até duas semanas atrás e recontou o pedido de empréstimo feito a Youssef. "No final do ano passado, procurei Alberto Youssef porque ele havia sido dono de um hangar na minha cidade e pedi para que ele viabilizasse uma aeronave para a minha viagem de início de ano e portanto, em troca do combustível".

    O petista disse que tentou fazer o pagamento mas descobriu que o avião havia sido fretado e por isso não teria como arcar com o combustível. "Coisa que eu descobri com maior detalhe agora em função da ampla cobertura da mídia".

    Como a Folha revelou, Vargas viajou em um jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef, pivô da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que apura esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões em operações suspeitas.

    Ao deixar o plenário, Vargas não quis falar com a imprensa. Questionado sobre se havia convencido o plenário da Casa, disse apenas: "cabe ao plenário decidir". O deputado foi à Câmara apenas para fazer o discurso nesta quarta.

    VOO

    A viagem de Londrina, no Paraná, a João Pessoa, na Paraíba, foi discutida em uma conversa entre os dois por um serviço de mensagem de texto, no dia 2 de janeiro, segundo documentos da investigação da PF aos quais a Folha teve acesso.

    De acordo com a troca de mensagens de um aplicativo chamado "BBM", Youssef agendou voo em jato particular para Vargas às 6h30 em avião de prefixo PR-BFM.

    Na segunda, Vargas disse pediu o avião porque voos comerciais estavam muito caros no período, mas que pagou o combustível. Na terça-feira, afirmou que só aceitou embarcar porque imaginava se tratar de uma ''carona''. Ele reconheceu ter viajado de graça na aeronave.

    Segundo ele, quando soube que era um frete exclusivo, pediu à sua secretária para reembolsar Youssef das despesas de combustível, estimadas por ele em R$ 20 mil.

    "Entretanto, a proposta de reembolso foi negada", afirma sua assessoria em nota, acrescentando que o deputado teria sido informado dessa recusa somente na terça-feira.

    Em outra conversa, Vargas e Youssef discutem, segundo a PF, um assunto de interesse do doleiro no Ministério da Saúde. A transcrição não deixa claro que assunto seria esse, mas indica que ele teria sido tratado com o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Gadelha.

    É citada a empresa Labogen, cuja folha de pagamento é de R$ 28 mil mensais e que, segundo a Operação Lava Jato, que prendeu o doleiro, teria sido usada por Youssef para fazer remessas ilegais de US$ 37 milhões ao exterior.

    Segundo Vargas, é comum que parlamentares recebam em seus gabinetes prefeitos, presidentes de sindicatos e empresários que vão em busca de orientações e podem apresentar pedidos. Foi nesse contexto, segundo ele, que Youssef foi recebido para tratar da parceria entre a Labogen e o Ministério da Saúde. O deputado afirmou ainda que nunca esteve no órgão para discutir qualquer contrato do laboratório e o conteúdo da mensagem diz respeito apenas a um encontro que teve com um representante da Labogen no aeroporto.

    "Procurado por um empresário da minha cidade, que havia apresentado uma perspectiva de um laboratório para fazer uma parceria com o Ministério da Saúde, fiz como fiz com vários outros empresários, o orientei na forma da lei, e naquilo que eu tinha conhecimento", disse.

    "Nunca estive com Gadelha ou com funcionários que estão lá e nunca estive no Ministério da Saúde para tratar desse referido projeto. No vazamento que a mídia tem acesso, eu digo, a reunião com Gadelha foi boa porque encontrei o representante oficial da Labogen no aeroporto que disse que tinha tido uma boa reunião com Gadelha. Portanto, nunca estive no MS para discutir qualquer projeto da Labogen e em nenhum órgão do governo", explicou.

    Editoria de Arte/Folhapress

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