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    Rio de Janeiro

    Com popularidade em baixa, Cabral deixa governo do Rio

    BERNARDO MELLO FRANCO
    FABIO BRISOLLA
    DO RIO

    03/04/2014 03h21

    Braços abertos, ar confiante, peito estufado. A imagem de Sérgio Cabral (PMDB) passeando de bicicleta em Paris, em maio de 2008, virou símbolo de um primeiro mandato dos sonhos para o governador do Rio.

    Com prestígio no país e no exterior, o peemedebista pedalava sobre uma trilha de boas notícias, pavimentada pela retomada de investimentos no Estado e pela escolha do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016.

    O retrato lembra pouco o governador que renuncia hoje, com a pior avaliação em sete anos. Ele deixa o sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB), em um incômodo quinto lugar nas pesquisas para a eleição de outubro.

    A marcha de Cabral para o topo começou com uma guinada política. Eleito em 2006 com o apoio dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho, ele rompeu com o casal antes mesmo da posse, forçando sua ida para o PR.

    Ao mesmo tempo, aproximou-se do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem tinha feito dura oposição no Senado. A aliança rendeu frutos: o Rio ultrapassou São Paulo e passou a liderar o ranking de repasses federais, chegando ao valor recorde de R$ 11 bilhões em 2013.

    O BNDES também abriu os cofres para financiar obras de infraestrutura. Só a expansão do metrô até a Barra da Tijuca recebeu R$ 4,3 bilhões. Cabral inaugurou, no fim de 2008, a primeira UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), que permitiu retomar favelas comandadas pelo tráfico. "A UPP é a melhor coisa que ele deixa", diz a antropóloga Alba Zaluar, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

    Em 2010, o peemedebista foi reeleito com desempenho recorde: dois terços dos votos no primeiro turno e apoio de 91 dos 92 prefeitos do Estado. A exceção era no município de Campos, último reduto do clã Garotinho.

    A vitória marcou o auge da popularidade e o início do declínio de Cabral. Seis meses depois, o governador seria atingido pela revelação de amizades muito próximas com empresários que recebiam verbas e incentivos de seu governo.

    As primeiras suspeitas vieram à tona na queda de um helicóptero na Bahia, que matou sete pessoas em junho de 2011. Cabral havia voado para Porto Seguro em um jato do empresário Eike Batista para festejar o aniversário de Fernando Cavendish, dono da construtora Delta.

    Dez meses depois, Anthony Garotinho vazou fotos do governador com o empreiteiro em Paris, onde Cavendish e secretários do Estado do Rio de Janeiro dançaram com guardanapos na cabeça.

    "Isso trincou a vidraça do governador. O PMDB enterrou as investigações sobre a Delta em Brasília, mas a imagem de Cabral foi comprometida", diz o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio.

    Em 2013, a má fase se agravou com suspeitas de uso indevido de helicópteros do Estado e com a morte do pedreiro Amarildo de Souza, que teria sido torturado na UPP da Rocinha. Nas manifestações de junho do ano passo, Cabral se tornou o principal alvo da ira popular.

    Em baixa, viu a aprovação do seu governo cair de 55% para 20%, segundo o Datafolha. Depois de sonhar com a Vice-Presidência da República, Cabral perdeu o apoio do PT e deixa o cargo sem saber se terá força para tentar uma vaga no Senado.

    Editoria de Arte/Folhapress
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