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    CNBB afirma que golpe de 1964 foi um 'erro histórico'

    DE BRASÍLIA

    03/04/2014 13h25

    Por ocasião dos 50 anos do golpe de 1964, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) afirmou nesta quinta-feira (3) em nota que a tomada do poder naquele ano foi "um erro histórico" do qual setores da Igreja Católica fizeram parte.

    Apesar de dizer que alas da igreja inicialmente apoiaram o golpe, a entidade ressalta que houve mudança de posição após a constatação de atos que vinham sendo adotados pelo regime militar –como perseguição, violência e morte de presos políticos.

    Em sua manifestação, a CNBB disse que nem todos os danos causados pelo regime militar foram devidamente reparados. "Se é verdade que, no início, setores da igreja apoiaram as movimentações que resultaram na chamada revolução', com vistas a combater o comunismo, também é verdade que a igreja não se omitiu diante da repressão tão logo constatou que os métodos usados pelos novos detentores do poder não respeitavam a dignidade da pessoa humana e seus direitos", diz a nota.

    De acordo com o presidente da CNBB, o cardeal d. Raymundo Damasceno, "aos poucos a igreja foi percebendo que a finalidade desse movimento, desse golpe, que foi para preservar o país do comunismo, foi tomando outra direção, tortura, arbitrariedade, repressão a todas as formas de expressão".

    "Com o passar do tempo, a igreja foi percebendo seus excessos, seus desvios, então a igreja se opôs", avaliou.

    Beto Barata/Folhapress
    Dom Raymundo Damasceno (à dir.), na sede da CNBB, no DF
    Dom Raymundo Damasceno (à dir.), na sede da CNBB, no DF

    RESPONSABILIDADES

    O consultor da Comissão Nacional da Verdade Jorge Atílio Iulianelli disse não ver avanços na manifestação da entidade católica. "A nota, infelizmente, não é um avanço, na medida em que a igreja não reconhece a responsabilidade institucional, atribuindo a culpa a apenas uma parcela da instituição", afirma.

    Iulianelli atua na análise do papel da Igreja Católica durante o regime militar. Ele recorda que, três meses após o golpe de 1964, a CNBB divulgou nota elogiando a ação militar, que acudiu os brasileiros e freou a "marcha acelerada do comunismo", sem derramamento de sangue.

    A nota da CNBB dizia o seguinte: "Transborda dos corações o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada. Ao rendermos graças a Deus, que atendeu às orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos militares que, com grave risco de suas vidas, se levantaram em nome dos supremos interesses da nação, e gratos somos a quantos concorreram para libertarem-na do abismo iminente".

    O papa à época, Paulo 6º, também se manifestou a favor do regime.

    Iulianelli diz ainda que a igreja também foi um espaço para críticas à ditadura e para o fortalecimento democrático da política brasileira. "A igreja tem essa situação de ambiguidade. A resistência ao regime teve muito mais força do que a complacência. Mas não reconhecer a complacência é um erro."

    SAÚDE

    A CNBB também se manifestou a favor do projeto de lei de iniciativa popular conhecido por Saúde + 10, que determina o repasse de 10% das receitas brutas da União para a saúde.

    O projeto conseguiu 2 milhões de assinatura e foi entregue à presidência da Câmara em agosto. Segundo a entidade, é um "descaso e omissão explícita" dos poderes Legislativo e Executivo que esse projeto esteja há oito meses parado.

    "Ignorar o Saúde + 10 é aumentar ainda mais o descrédito e o desencanto do povo com a política e com os políticos", afirmou a entidade, em nota.

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    O QUE DISSE A CNBB

    Em 1964 "Logo após o movimento vito-rioso da revolução, verificou-se uma sensação de alívio e de esperança [...]. Deus nos livrou do perigo comunista [...], agradecemos aos militares"

    Hoje "Aos poucos, a igreja foi perce- bendo que a finalidade desse golpe, que foi para preservar o país do comunismo, foi toman-do outra direção –tortura, arbitrariedade, repressão"

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