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    Justiça envia ao Supremo investigação sobre deputado André Vargas

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    07/04/2014 17h22

    A Justiça federal no Paraná decidiu remeter para o Supremo Tribunal Federal a parte da investigação da Operação Lava Jato que contém diálogos e mensagens do deputado federal André Vargas (PT-PR), vice-presidente da Câmara dos Deputados, com o doleiro Alberto Youssef.

    Vargas anunciou nesta segunda-feira (7) que vai se licenciar do cargo. Mesmo assim, só o Supremo tem poderes para investigá-lo.

    No despacho que encaminha parte da investigação ao Supremo, o juiz da 13ª Vara Federal diz: "Revendo os autos constato que, entre os diversos fatos investigados, foram colhidos, em verdadeiro encontro fortuito de provas, elementos probatórios que apontam para relação entre Alberto Youssef e André Vargas, deputado federal".

    Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef

    Ainda segundo o despacho, é "prematura a afirmação de que tal relação teria natureza criminosa".

    O deputado viajou de Londrina (PR) a João Pessoa (PB) num jatinho pago pelo doleiro Alberto Youssef, conforme a Folha revelou na última quarta-feira. A viagem custa R$ 110 mil.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Mensagens de celular do deputado para o doleiro sugerem que um financiamento de R$ 31 milhões do Ministério da Saúde, para a produção de um medicamento, foi obtido por meio de "contatos políticos". A parceria foi assinada em dezembro do ano passado, quando o ministro era Alexandre Padilha (PT), candidato ao governo de São Paulo.

    A informação de que um político teria ajudado o doleiro a conseguir o financiamento foi prestada por um dos sócios da Labogen, Leonardo Meirelles, que decidiu colaborar com a Polícia Federal. A Labogen, que estava quebrada, com dívidas de R$ 54 milhões, tornou-se parceira da EMS, o laboratório com o maior faturamento do país, de R$ 5,2 bilhões em 2012.

    Em conversas reveladas pela revista "Veja" no último fim de semana, o deputado sugere que é sócio do doleiro. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e a nossa também, é claro".

    O doleiro foi preso no último dia 17 sob acusação de remessa ilegal de dólares para o exterior, lavagem de dinheiro, corrupção de funcionários públicos e financiamento ao tráfico de drogas.

    A Folha revelou tanto o caso do jatinho quanto o da suposta influência política para obtenção do financiamento de R$ 31 milhões.

    Vargas disse em pronunciamento na semana passada que encaminhou o pedido do doleiro como faz com outras demandas que chegam ao seu gabinete. Ele disse que é amigo de Youssef há 20 anos, mas não teve qualquer interferência nas fases posteriores da parceria com o Ministério da Saúde.

    O advogado de Youssef, Antônio Augusto de Oliveira Basto, diz que a eventual influência política no financiamento obtido por Youssef "não é crime". "O lobby político é a coisa mais comum desse país. É usado por empresários, juízes e associação de trabalhadores. Pedir ajuda a político não é crime".

    O Ministério da Saúde cancelou a parceria depois de questionamentos da reportagem da Folha e decidiu investigar as condições em que a parceria foi negociada.

    Padilha diz apoiar o fim da parceria e a apuração.

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