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    Comissão aponta 17 centros clandestinos usados na ditadura

    LUCAS FERRAZ
    DE SÃO PAULO

    07/04/2014 22h20

    A Comissão Nacional da Verdade apresentou nesta seginda-feira (7) um estudo que aponta 17 centros clandestinos utilizados em todo o país pelas Forças Armadas na ditadura (1964-85) para torturar presos e desaparecer com os corpos dos militantes executados.

    Elaborado pela historiadora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Heloísa Starling, assessora do grupo, o relatório, ainda preliminar, afirma que a criação e o funcionamento desses centros faziam parte da política de enfrentamento dos militares contra os opositores.

    Eles eram montados em casas, apartamentos, sítios e fazendas com a participação de militares e, em alguns casos, policiais que atuavam na repressão. A maioria dos imóveis era emprestada por empresários amigos do regime.

    De acordo com o organograma apresentado pela comissão, todos os centros clandestinos eram de conhecimento dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Além dos presos que morreram nos locais, o relatório identifica os agentes da repressão que atuaram em cada um deles.

    "Os centros não eram autônomos, subterrâneos ou controlados por paramilitares, como podem sugerir alguns, mas faziam parte da estrutura de inteligência e repressão da ditadura", afirmou Heloísa Starling.

    O centro mais famoso foi a Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), que operou entre 1971 e 74. Pelo menos 14 militantes morreram no local. A única sobrevivente é Inês Etienne Romeu, que passou por lá entre maio e agosto de 1971.

    Na zona sul de São Paulo, a Fazenda 31 de Março era mantida por militares e policiais. Na propriedade, em 1970, morreu sob tortura Joaquim Câmara Ferreira, à época o mais importante nome da esquerda armada.

    No Pará, durante a campanha do Exército no combate à guerrilha do Araguaia, pelo menos 24 guerrilheiros foram executados, depois de presos, na Casa Azul. Os restos mortais deles nunca foram encontrados.

    Além de ocultar a prisão de opositores, os centros eram usados para sessões de tortura, execuções e esquartejamentos, forma de tentar impedir a identificação futura dos corpos, conforme relatou à comissão um ex-militar.

    Mas as casas clandestinas também eram usadas para cooptar militantes de esquerda e transformá-los em infiltrados dentro das próprias organizações. O relatório aponta uma casa no bairro do Ipiranga, em São Paulo, e um apartamento na área central de Brasília montados com essa finalidade.

    De acordo com o estudo, os informantes da esquerda (chamados de "cachorros") frequentavam os centros para passar informações, receber instruções dos agentes e apanhar o dinheiro que recebiam pelos serviços.

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