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    Vargas e doleiro são réus no mesmo caso de corrupção no PR

    WILHAN SANTIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRINA

    08/04/2014 17h45

    O deputado federal André Vargas (PT-PR) e o doleiro Alberto Youssef, pivô do pedido de afastamento do parlamentar da Câmara dos Deputados nesta semana, são réus num mesmo escândalo de corrupção ocorrido no final dos anos 90 no Paraná.

    Vargas se licenciou do cargo após ter vindo à tona sua ligação com o doleiro. Eles respondem pelo caso na Justiça desde 1999.

    O chamado caso Ama/Comurb é o maior escândalo de corrupção da história de Londrina, base política de Vargas. No final da década de 1990, ao menos R$ 14 milhões, em valores da época, teriam sido desviados em licitações fraudulentas.

    Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PT), e o doleiro Alberto Youssef
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef

    O valor teria sido desviado em diferentes fatias. Em uma delas, em 1998, dos R$ 141 mil que saíram dos cofres municipais, R$ 120 mil acabaram com Youssef, e R$ 10 mil, com Vargas, segundo o Ministério Público do Paraná.

    Militante do PT à época, Vargas coordenava campanhas locais do partido, como a de Paulo Bernardo (atual ministro das Comunicações) à Câmara dos Deputados. A Promotoria suspeita que o dinheiro tenha abastecido essas campanhas.

    Já Youssef teria "lavado" (encoberto a origem) do dinheiro por meio de uma conta fantasma.

    O doleiro está preso desde o último dia 17, apontado pela Polícia Federal como um dos chefes de um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões, investigado na Operação Lava Jato.

    "Não podemos afirmar que há um elo entre Vargas e Youssef, mas há uma situação comum entre eles. Receberam dinheiro na mesma ocasião, fruto do mesmo desvio, no mesmo dia. Estão ligados ao mesmo núcleo do caso", afirmou o promotor Cláudio Esteves.

    Processado em 1999 por improbidade administrativa, Vargas foi absolvido da acusação em 2002, mas a Justiça o condenou a devolver os R$ 10 mil.

    O deputado, contudo, recorreu para não devolver o dinheiro, e o caso ainda tramita em segunda instância. A Promotoria também recorreu por entender que Vargas agiu com dolo (intenção) ao receber os recursos.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Youssef foi denunciado sob acusação de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Chegou a ser preso preventivamente por duas vezes, em 2000 e em 2001, em razão do processo, que ainda tramita em primeira instância em Londrina.

    "Esta lentidão da Justiça como um todo, incluindo o Ministério Público, está associada à reiteração da delinquência. Se esse processo tivesse sido julgado, Youssef não delinquiria novamente", afirmou o promotor Esteves.

    RELAÇÕES

    A relação entre Vargas e Youssef veio à tona no início do mês, quando reportagem da Folha revelou que o deputado petista pegou emprestado um avião com o doleiro para uma viagem com familiares ao Nordeste.

    Para justificar o caso, Vargas primeiramente disse, em relação ao doleiro, que "não sabia com quem eu estava me relacionando". No dia seguinte, disse ter imaginado que Youssef havia "aprendido a lição" em 2003, após a delação premiada no rastro das investigações sobre o Banestado, que apurou remessas ilegais de US$ 30 bilhões entre 1990 e 2000.

    Também vieram à tona diálogos e mensagens em que Vargas prometia ajudar o doleiro. "Acredite em mim. Você vai ver o quanto isso vai valer. Tua independência financeira e nossa também, é claro", dizia uma delas, enviada por Youssef.

    Vargas começou carreira política na década de 1980. Elegeu-se vereador na cidade em 2000 e chegou à Assembleia Legislativa do Estado dois anos depois. Em 2006, conquistou uma cadeira na Câmara dos Deputados, com 83.222 votos.

    Para as eleições de 2010, o PT investiu em Vargas. Do total de R$ 1,3 milhão que ele declarou ter gasto na campanha à Justiça Eleitoral, R$ 806 mil foram doados pelo partido. Teve 151.769 votos, a terceira maior votação do Paraná.

    OUTRO LADO

    A assessoria de Vargas em Londrina informou que o deputado não comentará o assunto no momento.

    A reportagem entrou em contato com o escritório do advogado de Alberto Youssef e aguarda resposta. Também contatou a assessoria do ministro Paulo Bernardo, e também não havia obtido resposta até a publicação desta reportagem.

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