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    Ex-presidente Lula quer sinais imediatos para acalmar o mercado

    NATUZA NERY
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    09/04/2014 03h15

    Para manter-se fiador de Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a ampliar sua influência no governo com o objetivo de garantir não só a reeleição da petista como assegurar mudanças agora e em um eventual segundo mandato de sua sucessora.

    Segundo interlocutores ouvidos pela Folha, Lula reafirmou à petista na última sexta-feira, em encontro em São Paulo, que trabalhará para conquistar a vitória nas eleições de outubro, mas deixou claro que espera mudanças na condução do governo.

    Ambos combinaram de intensificar os encontros privados e, assim, afinar a ação em áreas específicas da administração federal. A aliados, o ex-presidente reclamou no passado de ter defendido, em 2013, uma mudança na equipe econômica, hoje uma das áreas mais problemáticas do governo, mas alegou não ter sido ouvido pela pupila.

    Pesquisa Datafolha publicada no último domingo mostrou não só uma queda de seis pontos na intenção de voto da pré-candidata como detectou crescente pessimismo com a economia e medo generalizado na população em relação à inflação.

    Ricardo Stuckert/Instituto Lula
    Lula concede entrevista a blogueiros no Instituto Lula, em São Paulo
    Lula durante entrevista a blogueiros no Instituto Lula, em São Paulo

    Nos bastidores, porém, a avaliação é que não há mais espaço até a eleição para uma troca no comando do Ministério da Fazenda, decisão que poderia reverter parte da expectativa negativa.

    O problema é que uma substituição agora por alguém mais ortodoxo e afinado com o mercado do que o atual ministro, Guido Mantega, seria vista como admissão de erro por parte da petista e poderia ter consequências negativas.

    Conforme a cobrança interna, Dilma precisa reverter o "mau humor" fazendo sinalizações a partir de já. Ontem, em entrevista a blogueiros em São Paulo, o ex-presidente verbalizou essa demanda publicamente pela primeira vez.

    Esta é a segunda entrevista que o ex-presidente Lula concede a blogueiros. A primeira foi realizada em 2010. Além dos nove convidados, foram aceitas perguntas feitas por internautas pelo Twitter. Após deixar o cargo, Lula tem concedido raras entrevistas. Ele falou à Folha quando estava em tratamento contra o câncer, deu duas entrevistas ao "Valor Econômico" e uma para o "Correio Braziliense".

    Para ele, Dilma terá de "dizer claramente como a gente vai melhorar a economia brasileira". Uma das formas de recuperar a credibilidade é dar garantias de que o governo será rigoroso na área fiscal, na qual vem sendo acusado de ser negligente.

    Quanto menos uma administração economiza, mais pressão exerce sobre a inflação. Daí a importância de convencer o mercado de que a Fazenda e a própria presidente estão dispostos a adotar medidas para controlar os gastos públicos.

    TUTOR

    Segundo a Folha apurou, Dilma saiu "aliviada" da conversa com Lula na última sexta-feira. Conforme interlocutores, ela estava apreensiva com os rumores de que o presidente deseja voltar a se candidatar em outubro.

    Nesse período, o movimento "volta, Lula" ganhou mais adeptos no PT, no mercado, no Congresso e até entre empresários, que nos bastidores vêm criticando a presidente.

    A campanha corre tão forte nos bastidores que interlocutores presidenciais ponderavam ontem ser melhor uma intervenção branca de Lula que o isolamento de Dilma em relação ao padrinho. Um auxiliar assim definiu: "Lula voltou. Não como candidato, mas como tutor do governo".

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