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    Lava Jato

    Empreiteiras repassaram R$ 31 mi a firmas de doleiro

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    18/04/2014 03h14

    Uma planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef, preso em março sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro, aponta um dos modos como empreiteiras podem ter pago propina a agentes públicos para firmar contratos com a Petrobras, segundo a Polícia Federal.

    O documento registra o repasse de R$ 31 milhões por dois consórcios e uma empresa a firmas controladas pelo doleiro Youssef.

    As empreiteiras citadas na planilha foram contratadas para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a obra mais cara da Petrobras atualmente.

    Trata-se dos consórcios CNCC (formado por Camargo Corrêa e Cnec) e Conest (Obebrecht e OAS) e a Jaraguá Equipamentos. À Folha, todas negam ter negócios com as empresas de Youssef (leia texto abaixo). Mas, em entrevista ao jornal "O Globo", o presidente da Jaraguá reconheceu ter pago comissão ao doleiro.

    A suspeita da PF é que os R$ 31 milhões listados na planilha sejam propina para funcionários públicos e políticos que ajudaram as empreiteiras em questão a conseguir os contratos para tocar a obra da refinaria.

    Os destinatários dos valores repassados pelas empreiteiras, segundo o documento, são as empresas MO Consultoria, Rigidez e GFD. Segundo a PF, elas pertencem ao doleiro, o que ele nega.

    Os valores lançados na planilha foram pagos entre julho de 2009 e março de 2013, num período de 3 anos e 7 meses.

    O maior valor registrado no documento é contabilizado ao consórcio integrado pela Camargo Corrêa: R$ 29,2 milhões, divididos em 35 transferências. A Jaraguá aparece com quatro pagamentos, num total de R$ 1,7 milhão. O consórcio Conest é citado uma só vez, com pagamento de R$ 184,2 mil.

    PROPINA

    Não é a primeira vez que surgem menções a CNCC, Camargo Corrêa e Jaraguá na Operação Lava Jato, que prendeu, além do doleiro, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e outros investigados. O doleiro disse, numa conversa revelada pela Folha no último mês, que havia feito pagamentos para a Camargo Corrêa de R$ 12 milhões.

    O consórcio CNCC também já havia aparecido numa planilha enviada via e-mail ao doleiro por uma gerente da Sanko Sider, maior fornecedora de tubos para a Petrobras. Nessa planilha, a CNCC é associada a "comissões" de R$ 7,95 milhões.

    Uma das hipóteses investigadas pela PF é que a planilha dos R$ 31 milhões contenha o nome dos verdadeiros pagadores da propina.

    Paulo Roberto Costa é um dos executivos que ajudaram a implantar o projeto da refinaria em Pernambuco, quando ocupava a diretoria de refino e abastecimento da estatal.

    SUPERFATURAMENTO

    O custo da refinaria, orçada em US$ 2 bilhões (R$ 4,5 bilhões) quando começou a ser construída, em 2007, deve chegar a cerca de US$ 18 bilhões (R$ 40,2 bilhões).

    O TCU (Tribunal de Contas da União) já apontou indícios de superfaturamento nos preços de Abreu e Lima.

    A própria presidente da Petrobras, Graça Foster, reconheceu em depoimento ao Senado, na última terça, que a obra teve um sobrepreço. A estatal vem sendo alvo de polêmica nas últimas semanas em virtude de questionamentos sobre contratos que deram prejuízo à empresa.

    OUTRO LADO

    As empreiteiras que integram os consórcios citados na planilha apreendida pela Polícia Federal dizem que nunca fizeram negócios com as empresas cujo controle é atribuído a Alberto Youssef.

    Em nota, o consórcio CNCC, formado por Camargo Côrrea e Cnec, diz que "não tem nenhum relacionamento comercial com as empresas citadas e desconhece anotações feitas por terceiros".

    A Odebrecht, do consórcio Conest, diz que nem ela nem o consórcio fizeram repasses à GFD. A OAS, parceira da Odebrecht, não se pronunciou.

    A Jaraguá também nega ter feito depósitos na conta da GFD. Questionada pela Folha se não seriam comissões pagas ao doleiro para obter negócios na Petrobras, a empresa não respondeu.

    O advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto diz que nenhuma das empresas mencionadas na planilha é de Youssef. "Isso é mera ilação da Polícia Federal. Não existe nenhum vínculo entre o Alberto, essas empresas e as empreiteiras. Também não existe prova que vincule o Alberto a qualquer lobby feito junto à Petrobras".

    De acordo com o advogado, Youssef nunca teve negócios com a Jaraguá, como disse o presidente da empresa.

    A Petrobras não quis se pronunciar sobre a planilha.

    Editoria de Arte/Folhapress

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