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    Coronel Paulo Malhães temia represálias contra seus familiares

    BERNARDO MELLO FRANCO
    DO RIO

    26/04/2014 03h17

    No depoimento em que admitiu publicamente ter torturado e matado presos políticos na ditadura militar, o coronel reformado Paulo Malhães disse ter medo de represálias contra sua família por causa da decisão de falar.

    Foi o único momento em que ele esboçou algum tipo de emoção diante de integrantes da Comissão Nacional da Verdade, que o ouviram por mais de duas horas em 25 de março, no Rio.

    "Tenho cinco filhos e oito netos. Com essas reportagens que saíram, eles estão sofrendo sanções", afirmou. Questionado se temia algum tipo de vingança, ele disse: "Não em mim. Nos meus filhos."

    O coronel nunca pediu proteção policial, mas manteve atitude de cautela ao se recusar a citar nomes de outros agentes da repressão que ainda estavam vivos. "Ele estava muito firme nisso. Só dizia o nome de quem já estava morto", conta Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio, que ouviu o militar no início do ano.

    No depoimento de março, Malhães chamou suas vítimas de "terroristas" e disse não ter arrependimento pelos crimes que cometeu. Ele chocou integrantes da comissão ao descrever como mutilava cadáveres para evitar que fossem identificados.

    "Quebrava os dentes. As mãos, [cortava] daqui para cima", explicou, apontando as próprias falanges.

    O militar demonstrou orgulho por seu papel na repressão. Disse que se considerava amigo do general Emilio Garrastazu Medici, que comandou o país no período mais duro do regime, entre 1969 e 1974: "Ele não era ditador, era presidente."

    Por ironia, Malhães impressionou pela semelhança física com outro tirano, o ex-ditador iraquiano Saddam Hussein (1937-2006).

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