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    Doleiro contratou ex-assessor de Padilha para laboratório

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    27/04/2014 03h00

    O executivo supostamente indicado pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha para trabalhar no laboratório Labogen, controlado pelo doleiro Alberto Youssef e investigado pela Polícia Federal, foi, de fato, contratado no final de 2013 para o cargo de diretor institucional da empresa em Brasília.

    Pela função, na prática uma espécie de lobista, Marcus Cezar Ferreira de Moura recebe R$ 25 mil por mês, segundo a Folha apurou, apesar de o salário registrado em carteira ser de cerca de R$ 4.000.

    Moura trabalhou com Padilha como promotor de eventos do Ministério da Saúde entre maio e agosto de 2011. Recebia R$ 4.042,06, segundo a assessoria da pasta.

    Lucas Sampaio - 14.mar.2014/Folhapress
    Instalações do laboratório Labogen em Indaiatuba, SP
    Instalações do laboratório Labogen em Indaiatuba, SP

    Relatório da Polícia Federal diz que o executivo foi "possivelmente" indicado para o cargo por Padilha, segundo mensagem de texto enviada por celular pelo deputado federal André Vargas (sem partido-PR) ao doleiro.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O ex-ministro nega com veemência que tenha feito a indicação e disse que vai processar Vargas por citá-lo em mensagem para o doleiro.

    Youssef é réu em três ações penais, abertas na última semana, após investigações da Operação Lava Jato o acusarem de comandar esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões.

    O Labogen era um laboratório quebrado, com dívidas trabalhistas e fiscais de R$ 54 milhões, quando começou a ser usado por Youssef para fazer remessas ilegais de dólares, segundo a PF.

    As investigações mostram que o doleiro tinha planos mais ambiciosos para o laboratório do que apenas o envio de dólares para fora do país.

    Com a influência política de André Vargas, até há poucas semanas vice-presidente da Câmara dos Deputados, ele conseguiu em dezembro de 2013 fechar uma parceria com o Ministério da Saúde de R$ 31 milhões. À época, o ministro era Padilha.

    A parceria foi cancelada pela pasta depois que a Folha revelou que o doleiro era o dono oculto da Labogen e obtivera o acordo e um sócio de grande porte, o laboratório EMS, por meio da influência política de Vargas.

    NOVOS INVESTIDORES

    Em meados de 2013, o doleiro começou a procurar novos investidores para o negócio. Chegou, então, ao empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, que foi ministro do ex-presidente Fernando Collor. Leoni Ramos chegou a comprar uma participação no laboratório por meio de outras empresas, segundo a PF.

    Youssef e o novo parceiro passaram a buscar um executivo que desse ar de respeitabilidade ao laboratório, que na prática havia falido.

    A nova fachada era essencial para que o Labogen fosse aprovado no Ministério da Saúde. O grupo de Leoni Ramos chegou a indicar um executivo que trabalhara para a General Electric, mas a ideia não prosperou, porque faltava a ele traquejo político.

    Chegaram então ao nome de Marcus Cezar de Moura. O ex-assessor do ministério vinha do PT do Amazonas e havia passado pelo Geap, fundação privada que administra planos de saúde de servidores federais, onde ele trabalhara como assessor parlamentar.

    A revelação de que Padilha teria indicado o ex-assessor para o laboratório do doleiro teve impacto negativo na campanha do petista, hoje pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.
    outro lado

    Marcus Cezar de Moura não quis falar à Folha.

    Padilha disse, por meio de sua assessoria, que é mentira que tenha indicado o assessor para o Labogen e que nunca despachou com ele.

    O advogado de Youssef, Antônio Augusto Figueiredo Basto, diz que seu cliente fez lobby para o laboratório, o que não é crime.

    A assessoria de Leoni Ramos informa que um fundo de investimentos do empresário chegou a assinar uma promessa de compra do laboratório, mas desistiu do negócio ao analisar a situação do Labogen.

    O advogado Haroldo Nater, que defende Leonardo Meirelles, sócio da Labogen, diz que a interpretação da Polícia Federal de que o laboratório é uma empresa de fachada é "um equívoco", porque ele detém patentes avaliadas em R$ 30 milhões.

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