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    Lava Jato

    Ex-diretor da Petrobras fez lobby no governo

    ANDRÉIA SADI
    FILIPE COUTINHO
    DE BRASÍLIA

    28/04/2014 03h14

    Preso e apontado como sócio de um bilionário esquema de lavagem de dinheiro investigado pela Polícia Federal, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa reuniu-se com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para tratar de investimentos numa refinaria no Ceará.

    Uma deputada federal e um empresário também estiveram na audiência, que ocorreu em 25 de fevereiro deste ano e contou ainda com a presença do secretário de Petróleo da pasta, Marco Antônio Martins Almeida.

    O Ministério de Minas e Energia confirmou o encontro. A pasta informa que foram agendadas duas audiências, solicitadas pela deputada federal Gorete Pereira (PR-CE), para tratar de assuntos referentes a investimentos numa refinaria no Ceará.

    Na primeira reunião, no dia 15 de janeiro, a deputada foi ao ministério acompanhada apenas pelo empresário Sérgio Canozzi. Na segunda, no mês seguinte, Paulo Roberto Costa os acompanhou.

    Nenhuma das audiências consta da agenda oficial do ministro Edison Lobão, disponível no site do órgão. Segundo a Folha apurou, Canozzi e Costa fizeram lobby pela estatal chinesa Sinopec. A intenção era que a chinesa se associasse à Petrobras para viabilizar os investimentos na refinaria cearense.

    O governo federal e a petroleira brasileira já vinham negociando uma parceria com a Sinopec para completar as obras da Premium II. O plano de negócios de Costa e Canozzi é mencionado em um e-mail encontrado num computador do ex-diretor da Petrobras, ao qual a Folha teve acesso, durante buscas da Operação Lava Jato.

    Em 23 de dezembro de 2013, Canozzi enviou um e-mail a Costa, em que diz estar esperando para se reunir com o ministro "nos próximos dias". "Estou fazendo o possível para termos o assunto da refinaria resolvido imediatamente", escreveu.

    No dia 4 de janeiro deste ano, o empresário lista como prioridade número um o nome "Lobão", seguido por: ''Garantem nossos amigos que serei recebido na semana entrante, conforme tua disponibilidade seria conveniente irmos os dois". Canozzi foi recebido em 15 de janeiro.

    Entre os documentos apreendidos também estão cartões de visita da deputada federal, de Martha Lyra Nascimento, chefe da assessoria parlamentar de Minas e Energia, e do secretário Marco Antônio. Foi Martha Lyra quem Gorete procurou para solicitar a audiência com Lobão.

    Nos papéis recolhidos pela Polícia Federal, ainda há o registro de dois encontros agendados entre Costa e Canozzi, nos dias 10 e 11 de fevereiro deste ano. A reportagem não conseguiu obter informações sobre o encaminhamento dado pelo ministério ao negócio envolvendo a Sinopec e a Petrobras após as reuniões com a deputada, Costa e Canozzi.

    Segundo o advogado de Canozzi, Marcelo Mascarenhas, Paulo Roberto Costa foi convidado para ir à reunião e dar uma posição técnica sobre o projeto. "Em função da refinaria do Ceará, nossos interesses eram totalmente privados, representando empresas privadas interessadas no projeto que está atrasado há mais de cinco anos. O motivo da reunião era esclarecer se o projeto iria ir adiante ou não, com isso tivemos audiência com a maior autoridade na matéria", disse.

    De acordo com o advogado, Canozzi desconhecia as suspeitas contra Costa e que os acordos contratuais entre os dois sempre foram cumpridos.

    De acordo a com a deputada, ela foi procurada por Canozzi por meio de um amigo comum para tratar da refinaria. Gorete afirma que a instalação da refinaria e os investimentos são um "sonho dos cearenses".

    Na primeira reunião no ministério, Canozzi relatou a reclamação dos chineses, que dizem não ter sido recebidos pela presidente da Petrobras, Graça Fostes, e sim por diretores da estatal.

    Na reunião, segundo Gorete, o ministro Lobão afirmou que Graça receberia um representante da estatal chinesa que tivesse poder de decisão. Na segunda reunião, com a presença de Paulo Roberto Costa, a deputada afirma que ficou acertado que os chineses enviariam representantes. O ex-diretor da Petrobras, segundo Gorete, ficou calado a maior parte do tempo.

    "Só vi essas essas pessoas duas vezes na vida. É um sonho dos cearenses ter a refinaria e queria saber do ministério se o projeto ia ser para agora. Um deputado nesses casos é como um 'pedinte de luxo'. Temos interesse em trazer esses investimentos e empregos para o nosso Estado", disse a deputada Gorete Pereira.

    Editoria de Arte/Folhapress

    PRISÃO

    Fernando Fernandes, advogado de Paulo Roberto Costa, disse que não tem conhecimento se ele atuou como representante da estatal chinesa, mas ressaltou que não haveria ilegalidade nisso. "Ele não está impedido de representar qualquer empresa depois de sua aposentadoria da Petrobras", disse.

    Costa, que ocupou o cargo de diretor de abastecimento e refino da Petrobras entre 2004 e 2012, foi preso no dia 20 de março por tentar destruir provas e documentos que o envolviam com um esquema de lavagem de dinheiro que, segundo a PF, era comandado pelo doleiro Alberto Youssef.

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