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    Doleiro soube antes sobre ação da PF e discutiu fuga

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    01/05/2014 02h00

    Dois doleiros presos na Operação Lava Jato, deflagrada em março pela Polícia Federal, souberam com antecedência que eram alvo da ação e falaram em fugir.

    Segundo relatório de investigação da PF e decisão da Justiça federal do Paraná, Alberto Youssef avisou Nelma Kodama –acusados de operar no mercado paralelo de dólares– sobre a iminência da operação Lava Jato e ambos discutiram possível fuga.

    O aviso foi dado por Youssef em 13 de março, dois dias antes de Nelma ser presa no aeroporto de Guarulhos (SP) quando tentava embarcar para Milão, com € 200 mil escondidos na calcinha.

    Na mensagem, o doleiro escreve: "Outra coisa: amanhã vai ter operação. Então você sabe o que fazer".

    Nelma então oferece o que o juiz federal Sérgio Moro chama de "uma espécie de rota de fuga através de helicóptero disponível no Campo de Marte em São Paulo".

    A frase literal da doleira é a seguinte: "Se quiser temos um agusta no marte, à nossa disposição, OK? tá na mão". Agusta é uma marca anglo-italiana de helicópteros.

    Para o juiz, o doleiro não fugiu porque aparentemente não tinha conhecimento exato de tudo que iria ocorrer.

    Youssef foi preso na Operação Lava Jato no dia 17 de março, sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou R$ 10 bilhões e teria laços políticos com integrantes do PT, do PMDB e do PP.

    A PF está analisando o material apreendido para tentar descobrir como eles teriam sabido com antecedência sobre a operação.

    Os policiais temiam que a prisão de Nelma, dois dias antes de a PF deflagrar as prisões e buscas da operação, pudesse alertar os alvos.

    O temor tinha um motivo: antes da prisão, Nelma havia mandado auxiliares esconderem material que tinha num escritório e R$ 5 milhões em jóias que guardava em casa.

    Nelma adora moda, luxo e celebridades. Em e-mails, usa codinomes com os nomes das atrizes Cameron Diaz, Angelina Jolie e Greta Garbo.

    Nelma já foi condenada em 2011 a três anos e meio de prisão por ser doleira. Recebeu pena considerada pequena porque fez delação premiada –disse que contaria detalhes sobre o mercado de câmbio.

    OUTRO LADO

    O advogado de Nelma, Marden Maues, diz que a interpretação de que sua cliente e Youssef conversavam sobre a operação da PF e fuga é equivocada. "Eles falavam de operações financeiras. Quando a PF divulgar a íntegra do diálogo, isso vai ficar claro".

    O advogado de Youssef, Antônio Augusto Figueiredo Basto, diz que seu cliente não soube anteriormente da operação da PF. "É bobagem imaginar vazamentos numa instituição como a PF".

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