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    Dirceu cogitou fazer greve de fome na prisão

    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    01/05/2014 02h00

    O ex-ministro José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão, e apoiadores do lado de fora do Complexo Penitenciário da Papuda cogitam uma série de ações caso o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, decida não autorizá-lo a trabalhar.

    A movimentação exaspera o governo e racha o PT. Segundo a Folha apurou, Dirceu chegou até a cogitar uma medida extrema: fazer greve de fome. Pessoas próximas ao petista pensaram em uma data, por volta de 20 de maio, como possível início da abstinência alimentar.

    Do presídio, porém, Dirceu aproveitou o dia de visitas na quarta-feira para descartar, por meio de intermediário, essa possibilidade. Há cerca de 15 dias, pessoas de sua confiança indicaram essa disposição em conversas reservadas.

    O assunto, porém, deveria ser mantido em sigilo por duas razões: não se tratava de uma decisão tomada e, poderia, segundo aliados, provocar um efeito inverso em Joaquim Barbosa, fazendo com que custasse ainda mais a despachar sua decisão, ou simplesmente, levando-o a recusar o pedido.

    Conselheiros do ex-ministro argumentaram ainda que, aos 68 anos e com problemas de pressão, não seria recomendável a Dirceu fazer greve de fome.

    Caso a autorização não saia, há outra alternativa em estudo: uma campanha internacional, com mobilização de simpatizantes pelo Brasil, inclusive nas redes sociais, e representações em organismos internacionais para argumentar que Dirceu tem sido mantido injustamente em regime fechado.

    Em vídeo dentro da cadeia, Dirceu reclamou do regime fechado. "Nós nunca questionamos o regime carcerário. O meu problema é o regime prisional, regime fechado", queixou-se na terça-feria (29) o petistas a deputados que foram checar as suas condições de prisão no presídio da Papuda, em Brasília.

    Todos os condenados no julgamento com direito a regime semiaberto já obtiveram autorização para trabalhar fora da prisão, menos Dirceu.

    Conforme integrantes do governo, a mais "perigosa" dentre as reações considerada seria dirigida a Luiz Inácio Lula da Silva. Nos bastidores, muitos apoiam ações para expor o ex-presidente e pressioná-lo a defender o correligionário. Só não agiram ainda de forma organizada até agora porque não tiveram o aval do ex-ministro. Pessoas próximas a Dirceu afirmam que Lula e dirigentes petistas viraram as costas para o petista.

    Recentemente, entretanto, o presidente do PT, Rui Falcão, tentou visitá-lo pela segunda vez no presídio depois de ouvir relatos sobre seu estado de solidão. O dirigente, porém, foi desencorajado pela própria equipe do detento para evitar melindrar Joaquim Barbosa.

    Dividido em tendências, o PT vive hoje, no ano da eleição, episódios de forte divisão interna que têm potencial de provocar o maior racha da história do partido.

    Há o grupo "zedista", que cobra transformar a defesa dos condenados do mensalão em bandeira do partido; o lulista, integrado por aqueles que torcem pelo retorno do ex-presidente como candidato ao Planalto; e o dilmista, esse minoritário.

    Já tendo de administrar desgastes com o movimento "volta, Lula", o Palácio do Planalto quer distância de confusões relacionadas ao ex-ministro para evitar a contaminação da campanha.

    O receio, contudo, não se limita a outubro. Se Dilma for reeleita, auxiliares preveem que, ao sair do cárcere para o regime aberto –o que poderia ocorrer ainda este ano, dadas as possibilidades legais–, Dirceu terá ainda mais influência junto ao partido e adotará posicionamento crítico em relação à presidente.

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