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    Doleiro pagou gado a deputado, indica PF

    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA

    06/05/2014 02h00

    Depois de revelar que Alberto Youssef providenciou um jato para a viagem de férias do então vice-presidente da Câmara dos Deputados, as investigações da Polícia Federal indicam agora que o doleiro também bancou de um a dois caminhões lotados de bezerros para o deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA).

    Pivô da Operação Lava Jato sob suspeita de integrar esquema bilionário de lavagem de dinheiro, o doleiro Youssef aparece nas investigações em intensa comunicação com o deputado Argôlo.

    Em uma das conversas a que a Folha teve acesso, em dezembro do ano passado, "LA", como é o apelido de Argôlo nas mensagens, segundo a PF, passa a Youssef a conta bancária de uma pessoa e de uma empresa e pede o depósito total de R$ 110 mil.

    "Esses 110 resolvem tudo, 50 de um e 60 de outro, diga que você consegue, vá", escreve Argôlo em mensagem de texto. Youssef, então, responde: ''Ok, vou correr atrás para fazer bjo."

    Uma das contas fornecidas pelo deputado é de Júlio Gonçalves de Lima Filho (indicação de depósito de R$ 60 mil). A outra (R$ 50 mil) é em nome de União Brasil Transporte e Serviços.

    A Folha entrou em contato com Júlio, que disse ser um comerciante de gado na Bahia. Ele confirmou ter feito negócios com o deputado.

    "Comprei garrote [bezerros de até 4 anos de idade] para ele e família dele. Vendi um caminhão, dois caminhões de garrote para ele, mais ou menos", disse. Teriam sido cerca de 60 garrotes na faixa de R$ 1.000 cada um.

    O comerciante diz ter sido apresentado ao deputado por amigos do ramo de gado. "Todo mundo conhece ele aqui na Bahia como deputado e fazendeiro", afirmou.

    Após a primeira mensagem, no mesmo dia, Argôlo volta a pressionar o doleiro para que o pagamento seja feito. "E aí?". Youssef responde: "Mandei fazer". O deputado questiona: "Os dois?". O doleiro diz que sim.

    Argolo era filiado ao PP antes de migrar para o Solidariedade, em outubro do ano passado. O PP é a legenda que apadrinhou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também preso na Lava Jato, na estatal.

    "LA" aparece em outras mensagens interceptadas pela Polícia Federal em diálogos com Youssef. Diversas vezes o parlamentar aparece cobrando repasses dizendo estar "sofrendo pressão".

    Em setembro, o deputado diz ao doleiro: "A gente vai dominar esse país". Youssef responde: "Se Deus quiser vamos sim".

    No mês passado, a revista "Veja" publicou que Argôlo pedira R$ 120 mil para Youssef, que transferiu para o chefe de gabinete do deputado. Segundo a revista, Argôlo nega que o ''LA'' do relatório policial seja ele.

    A Folha entrou em contato com o gabinete do deputado, mas ele não respondeu até a conclusão desta edição. A reportagem também tentou localizar os representantes da União Brasil Transportes, mas não conseguiu.

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