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    PF investiga empresa ligada a deputado da BA

    SEVERINO MOTTA
    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA
    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO

    14/05/2014 02h00

    Flagrado em diálogos suspeitos com o doleiro Alberto Youssef na operação Lava Jato, o deputado federal Luiz Argôlo (SDD-BA) é ligado a uma das empresas alvo de uma nova operação da Polícia Federal deflagrada ontem.

    A União Brasil Transportes e Serviços, um dos focos da PF na operação 13 de Maio, que veio à tona ontem na Bahia para investigar desvios de recursos públicos, é a mesa para a qual o deputado pediu um depósito de R$ 50 mil a Youssef, de acordo com diálogos interceptados pela PF na Lava Jato.

    A sede da empresa é em Alagoinhas, na Bahia, e entre seus proprietários há dois ex-funcionários de Argôlo: Edmilson e João Batista Ouais. Eles foram assessores do parlamentar quando ele era deputado estadual.

    Hoje, somente Edmilson figura no quadro societário da empresa. Seu irmão, João Bastista, deixou a empresa em 2009. Dois anos depois conseguiu uma vaga como assessor parlamentar de Argolo na Câmara dos Deputados.

    Apesar de ter sido sócio da União Brasil –empresa que tem 57 veículos registrados em seu nome– e ter recebido, em setembro passado, R$ 41,6 mil da Câmara a título de "vantagens indenizatórias", a PF descobriu que João Batista mora numa casa simples no interior da Bahia, é aposentado do INSS e vende cervejas, refrigerantes, salgadinhos e carvão na porta de sua casa para complementar a renda.

    Devido à incompatibilidade entre seu estilo de vida e seu passado como empresário e assessor de Argolo na Câmara, a Folha apurou que uma das suspeitas da polícia é que o deputado seja o verdadeiro dono da União Brasil.

    Uma investigação sobre o parlamentar, no entanto, depende de aval do STF (Supremo Tribunal Federal). Por isso, Argôlo não foi um dos alvos da operação deflagrada ontem.

    Há ainda outra conexão da empresa com o deputado. Entre 2011 e 2012 a União Brasil recebeu R$ 30 mil do gabinete de Argolo, que contratou a empresa para lhe prestar serviço de locação de veículos.

    O chefe de gabinete do deputado, Vanilton Bezerra, nega que a empresa seja de propriedade do parlamentar. "Eu lhe afirmo, lhe dou em cartório que não é dele", diz.

    Segundo Bezerra, a empresa foi contratada por ser de Alagoinhas, base do parlamentar, apesar de o deputado saber que os donos eram seus ex-servidores. "Já viu o tamanho de Alagoinhas? É relativamente pequena. É mais cômodo locar um carro lá que em Salvador".

    Argôlo deve apresentar hoje no Conselho de Ética da Câmara sua defesa sobre suspeitas de seu envolvimento com o doleiro Youssef, pivô da Lava Jato.

    A Folha ligou nos celulares e telefones da União Brasil e dos dois irmãos, mas não os localizou.

    Em dezembro do ano passado, "LA", como é o apelido de Argôlo nas mensagens da operação Lava Jato, passa a Youssef a conta bancária de uma pessoa e de uma empresa e pede o depósito total de R$ 110 mil. Um dos destinatários do dinheiro é a União Brasil Transporte e Serviços.

    Na operação deflagrada ontem, 19 suspeitos de integrar um esquema de desvio de recursos públicos praticados em prefeituras de 20 cidades da Bahia foram presos.

    O esquema também teria ramificações em Aracaju (SE) e Brasília.

    Entre os presos estão dois prefeitos, seis ex-prefeitos, quatro vereadores, cinco secretários municipais e nove funcionários públicos, todos da Bahia. A PF diz que a organização criminosa, utilizando empresas de fachada e laranjas, desviou pelo menos R$ 70 milhões em recursos públicos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica), além de outros repasses de origem federal, estadual e municipal.

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