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    Por romper acordo no caso Banestado, Youssef tem nova prisão preventiva

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    21/05/2014 16h20

    O doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato sob acusação de comandar um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado R$ 10 bilhões, teve uma nova prisão preventiva decretada por crimes que teria cometido no final da década de 1990.

    A nova prisão não tem relação com a Operação Lava Jato, cujas ações penais foram suspensas por decisão do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. Mesmo que o Supremo decida que a prisão de Youssef na Lava Jato seja ilegal, ele deve continuar preso.

    O Ministério Público Federal do Paraná reabriu uma ação penal de 2007 para pedir a nova prisão sob acusação de que Youssef rompeu um acordo de delação premiada. No acordo, feito em 2004, o doleiro prometera fornecer informações sobre a sua clientela em troca de uma punição menor.

    Os procuradores chegaram à conclusão que Youssef só entregou um pequeno círculo de políticos do Paraná, ligado do ex-governador Jaime Lerner, mas preservou seus principais clientes.

    Na ação penal de 2007, Youssef é acusado de ter aberto 43 contas bancárias em nome de "laranjas" em Londrina (PR) entre janeiro de 1998 e agosto de 1999, as quais movimentaram R$ 346 milhões, segundo acusação dos procuradores.

    Reprodução
    o doleiro Alberto Youssef, com equipamento que ele diz ter encontrado na cela
    O doleiro Alberto Youssef, com equipamento que ele diz ter encontrado na cela

    O doleiro é acusado de evasão de divisas, corrupção ativa e gestão fraudulenta de instituição financeira (uma empresa do doleiro, a Youssef Câmbio e Turismo, funcionava como banco sem ter autorização do Banco Central para isso).

    As contas foram usadas para operações que envolviam remessas ilegais de recursos. A acusação de corrupção deve-se ao fato de que o doleiro contou na delação que pagou para um gerente do Banestado para abrir as contas em nome de laranjas.

    Todos os processos antigos de Youssef, abertos durante o caso Banestado (2003-2007), serão reabertos agora sob acusação de ele ter quebrado o acordo de delação premiada. Todas as acusações são baseadas em confissões feitas pelo doleiro durante o acordo.

    As oito ações penais da Operação Lava Jato estão suspensas por decisão desta terça-feira (20) do ministro Teori Zavascki. Ele pediu que todos os processos fossem enviados ao Supremo para analisar se o juiz federal Sérgio Moro investigou ou não deputados federais como André Vargas (sem-partido-PR) e Luiz Argôlo (SDD-BA).

    Só o Supremo pode decidir pela abertura de investigações criminais contra deputados porque eles gozam de foro privilegiado. Zavascki havia suspendido as 12 prisões decretadas no curso da Operação Lava Jato na noite do último domingo (18), mas no dia seguinte voltou atrás após um pedido de explicação do juiz.

    No pedido enviado ao Supremo, o juiz relatou que havia risco de fugas dos doleiros, já que eles têm recursos abundantes no exterior, e que entre eles havia um grupo acusado de envolvimento com o tráfico de 750 quilos de cocaína para a Espanha.

    Youssef ficou enfurecido com o novo decreto de prisão, segundo advogados ouvidos pela Folha que estiveram na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, na tarde desta terça-feira (20).

    O doleiro e os outros presos haviam feito festa nesta segunda-feira quando receberam a notícia de que o Supremo resolvera soltar todos. No dia seguinte, Youssef recebeu duas notícias negativas ao mesmo tempo: o ministro mudara de opinião e manteve as prisões e a Justiça decretara uma nova prisão preventiva contra ele.

    OUTRO LADO

    O advogado de Youssef, Antônio Augusto Figueiredo Basto, disse à Folha que a rescisão do acordo de delação premiada, decidida pelo juiz, é nula porque a defesa não foi ouvida.

    Ainda segundo ele, Moro não poderia tomar essa decisão porque foi ele que assinou o acordo. "O juiz está comprometido emocionalmente, sentindo-se traído porque acha que o meu cliente violou um acordo de delação premiada. Um outro juiz deveria julgar se o acordo foi violado, não o Moro".

    Figueiredo Basto diz que respeita profundamente o conhecimento jurídico e a honestidade do juiz, mas não vê mais condições de ele continuar no caso.

    O advogado diz que nesta segunda-feira (19), antes de a nova prisão ter sido decretada, ele já havia enviado uma petição ao Supremo alertando que Moro poderia fazer isso. "Não sou profeta, mas o juiz já decretou prisões para não cumprir decisão do Supremo".

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