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    Assembleia de MT comprou 4 milhões de litros de gasolina de firma suspeita

    RODRIGO VARGAS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CUIABÁ

    21/05/2014 20h26

    A Assembleia Legislativa de Mato Grosso comprou, de 2009 a 2011, mais de quatro milhões de litros de combustíveis de uma empresa suspeita de operar um grande esquema de corrupção e caixa dois no Estado.

    A rede de postos de combustíveis Amazônia Petróleo, do empresário Gércio Mendonça Jr., é investigada pela Polícia Federal no âmbito da operação Ararath, que teve a quinta fase deflagrada nesta terça-feira (20).

    A operação investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro e desvio de recursos com ramificações em todos os Poderes de Mato Grosso.

    O governador Silval Barbosa (PMDB) foi alvo de buscas em sua casa e chegou a ser preso por posse ilegal de arma. Havia um pedido de busca contra o senador Blairo Maggi (PR-MT), antecessor de Barbosa, negado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

    O empresário Mendonça Jr. aceitou colaborar com a investigação e entrou em delação premiada (quando fornece informações em troca de benefícios na acusação).

    Ele afirmou operar uma espécie de "banco clandestino" com suas empresas, recebendo aportes de outras empresas e de bancos privados e repassando a terceiros por indicação de políticos.

    'INDÍCIOS ROBUSTOS'

    Presidente afastado da Assembleia, o deputado José Riva (PSD) foi preso na operação. Outro detido foi Éder Moraes (PMDB), secretário da Fazenda na gestão Maggi e da Copa no governo Barbosa, que seria o principal operador do suposto esquema.

    Em ofício que determinou a prisão de Riva, o ministro do STF José Dias Toffoli aponta a existência de "indícios robustos" de que o deputado, "ao se beneficiar da instituição financeira informal [operada por Mendonça Jr.], obteve vantagem ilícita e ocultou recursos dela resultantes por longo arco temporal".

    Em depoimento à PF, o empresário Mendonça Jr. disse ter feito depósitos a empresas a pedido de Riva.

    A PF afirma que, mesmo afastado da presidência da Assembleia desde 2013, por força de uma outra ação, de improbidade administrativa, Riva "continua a utilizar toda a estrutura física e funcional da presidência como se nunca houvesse sido suspenso".

    Segundo informações prestadas pela Assembleia de MT à ONG Moral, que pediu dados por via judicial, o Legislativo do Estado comprou 4,139 milhões de litros de combustíveis da Amazônia Petróleo entre 2009 e 2011.

    Só as compras de 2009, segundo a ONG, representaram um aumento de 245% em relação as aquisições do ano anterior, feitas de outra empresa.

    Procurada, a Assembleia não informou o valor dos repasses nem o total de veículos que mantém.

    Segundo cálculo da ONG Moral, considerando uma média de consumo de 8km/litro, o volume de 148 mil litros por mês (média de 2011) seria suficiente para rodar cerca de 1,1 milhão de kms por mês -ou 27 voltas em torno do planeta.

    Ainda segundo a ONG, se cada carro rodasse 100 km por dia e cinco dias por semana, seriam necessários 592 veículos para consumir o combustível comprado.

    OUTRO LADO

    A Assembleia Legislativa de MT não se manifestou sobre as investigações da PF.

    O advogado de José Riva, Válber Melo, afirmou, por meio de assessoria de imprensa, que a prisão do deputado foi "injustificada" e que já entrou com um pedido de revogação.

    Segundo ele, o deputado nunca se recusou a prestar informações à investigação. O advogado não comentou as suspeitas contra o cliente.

    O advogado de Silval Barbosa, Ulisses Rabaneda, disse que o governador "não tem conhecimento" dos fatos apurados pela PF. Afirmou ainda que não houve dolo na manutenção da arma sem registro.

    Em nota sobre a operação, Barbosa ainda disse ter "convicção" de que "todos os fatos serão esclarecidos".

    O advogado do ex-secretário Moraes afirmou que ainda se informava sobre as suspeitas e que ele irá se defender oportunamente. Mendonça Jr., em nota, apenas confirmou que está colaborando com a apuração, sem fornecer mais informações.

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