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    Sem transporte, passageiros dormem em terminal e voltam a pé para casa

    DE SÃO PAULO

    22/05/2014 02h00

    No segundo dia da greve de ônibus em São Paulo, passageiros atravessaram a madrugada na rua, enquanto outros enfrentaram longas caminhadas e gastos extras entre a casa e o trabalho nesta quarta-feira (21).

    Pela primeira vez em suas vidas, as amigas Cássia Gomes, 30, e Matilde Dias, 60, viram-se obrigadas a passar a noite ao relento.

    As duas estiveram na tarde de terça-feira num hospital fazendo exames de rotina e depois foram ao terminal da Lapa, na zona oeste. Toparam com 120 ônibus bloqueando o local.

    Moradoras do bairro de Vila Anastácio, também na zona oeste, elas chegaram às 23h30 de terça no terminal. Sem alternativa, uniram-se a usuários que resolveram passar a noite ali, até o restabelecimento do transporte.

    "É um absurdo a gente ter de passar por uma situação dessa, com frio e fome", reclamou Cássia, cujo ombro servia de encosto para Matilde, que comentou: "Nunca pensei em dormir no frio".

    No mesmo banco em que estavam as amigas, mais cinco pessoas tentavam cochilar sentadas, expostas ao vento frio que soprava.

    Um pouco mais confortáveis que os usuários do transporte estavam os cerca de 50 cobradores e motoristas de ônibus que, em protesto, também passaram a madrugada no terminal Lapa.

    Protegidos do vento pelas portas e janelas fechadas dos ônibus, alguns tentavam dormir. Outros ficaram do lado de fora batendo papo.

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    A PÉ

    O almoxarife Cleiton Nogueira, 36, foi de ônibus para a região central para entrevista de emprego e, na volta, encontrou o Terminal Parque D. Pedro 2º fechado. "Moro em Ferraz de Vasconcelos. Agora, vou ter de pegar um metrô até Guaianazes e andar uma hora e meia até minha casa."

    Como Nogueira, muitos conseguiram chegar ao centro de ônibus e imaginaram que conseguiriam voltar.

    O ajudante Edson dos Santos, 23, afirmou que foi liberado pelo chefe por causa da greve. "Vim de ônibus, mas agora não tem mais", disse. "Agora, vou ter de gastar mais dinheiro. Porque terei de pagar o metrô e a integração do trem", reclama.

    Fiscal da loja Armarinhos Fernando, Valdemir Medeiros, 42, não sabia como vai voltar para casa. "Fico em pé o dia inteiro e depois não tem como voltar. Vai dormir todo mundo na praça da Sé."

    O ajudante de metalúrgico Roberto Jacinto da Silva, 56, afirmou que os mais pobres acabam sendo os mais prejudicados pela greve. "E a gente, que ganha menos que eles, como faz para voltar?"

    Em vários pontos da cidade, ônibus de viagem passaram a fazer as rotas dos coletivos em greve. O preço da tarifa era o mesmo: R$ 3.

    METRÔ MAIS TRANQUILO

    Depois das cenas de superlotação e desmaios da véspera, a estação Pinheiros, da linha 4-amarela do Metrô de São Paulo e da CPTM, teve um fim de tarde relativamente tranquilo nesta quarta.

    O fluxo de passageiros, embora intenso, ocorreu sem problemas, em meio ao reforço no número de seguranças.

    "A estação está bem mais cheia do que a média, mas mais rápido para embarcar", diz a assistente de atendimento Eliana Inês, 26, que fazia a baldeação do metrô para o trem.

    Em contraste, o terminal de ônibus anexo estava praticamente vazio –apenas uma linha operava.

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