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    General da ditadura relata diálogos com presos políticos; ouça

    CRISTINA GRILLO
    DO RIO

    24/05/2014 02h00

    Em depoimento gravado, entregue pelo Ministério Público Federal à Justiça do Rio, o general José Antonio Nogueira Belham, 79, conta episódios relativos às prisões do jornalista Cid Benjamin, 65, e da cineasta Lúcia Murat, 66, à época militantes do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro).

    Segundo ele, Murat teria recebido a visita do então todo-poderoso general Sylvio Frota e do general Rodrigo Otávio, que, na versão de Belham, era vizinho da casa da família dela e a quem ela chamava de tio.

    "A menina fez uma cena de chorar, soluçando, agarrada ao general Rodrigo Otávio. 'Puxa vida, as más companhias, o que fizeram de você, era uma menina tão boazinha.' Então, olhando para o general Frota, ele disse 'se eu conseguir tua liberdade, você jura que vai abandonar essa vida?' Ela disse 'juro'."

    Segundo Belham, após a saída dos generais da carceragem, ele ouviu Murat gargalhando com as outras presas e dizendo: "Esses velhos broxas, pensando que nos convencem, nós já temos a nossa convicção".

    Logo depois, Frota teria ligado para Belham pedindo a soltura da presa. O então comandante do DOI teria perguntado se o general poderia voltar lá. "Ele voltou, deixei ele no corredor, entrei e provoquei para que ela repetisse o que tinha dito, e ela repetiu. O general Frota ficou possesso."

    Ouça trecho em que Belham fala da prisão de Lúcia Murat:

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    Lúcia Murat diz que jamais conheceu o general Rodrigo Otávio. Contou que uma vez Sylvio Frota percorreu a carceragem onde ela estava ferida por torturas. "Lembro que abriram a porta e me mandaram ficar de pé. O Frota entrou, olhou, e saiu."

    O general refere-se a Cid Benjamin como "um homem forte, professor de judô, caratê". Tão forte e bom de briga que, segundo Belham, três equipes foram escaladas para prendê-lo.

    O general conta que Cid Benjamin chegou ao DOI com dois ferimentos, de coronhadas, na cabeça. Sem anestesia no DOI, Belham afirma que ofereceu a Benjamin a possibilidade de escolher entre esperar para ser levado a um hospital ou fazer a sutura sem anestesia.

    Ouça trecho em que Belham fala da prisão de Cid Benajmin:

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    "Quero que o senhor me faça um favor, me ceda um cigarro. Acendi, ele deu duas tragadas e disse que estava pronto. O Jacarandá [o major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá, que, segundo Belham, cuidava dos presos feridos] costurou e ele só trancava os dentes. Era um cara muito forte, recebia muito bem a dor", diz o general no depoimento.

    Em viagem ao interior do Rio, Cid Benjamin não foi encontrado para comentar o depoimento do general Belham.

    Editoria de Arte/Folhapress
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