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    Barbosa 'quebrou barreiras raciais', dizem entidades negras

    DE SÃO PAULO

    29/05/2014 17h20

    Lideranças negras e representantes de entidades afro-brasileiras lamentaram a aposentadoria do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, e disseram que o ministro foi referência ao "quebrar barreiras raciais" no comando de uma corte de magistrados brancos. "É entristecedor que uma personalidade da estatura dele se aposente. Ele tem uma importância histórica no processo de criação de um novo Brasil", afirmou José Vicente, presidente da ONG Afrobras.

    Segundo Vicente, Barbosa "cumpriu papel simbólico ao sinalizar que um negro pode chegar tão longe". "Ele criou uma perspectiva de que é possível estar no Supremo e que devemos estar representados", acrescentou.

    O presidente do Supremo comunicou no início da tarde desta quinta-feira (29) aos colegas que vai se aposentar em junho, quando começar o recesso do Judiciário. "Tenho uma informação de ordem pessoal a trazer. Eu decidi me afastar do Supremo Tribunal Federal no final deste semestre, no final de junho. Afasto-me não apenas da Presidência mas do cargo de ministro. Requererei meu afastamento do serviço público após quase 41 anos", disse.

    Para a desembargadora aposentada do TJ-BA (Tribunal de Justiça da Bahia) Luislinda Valois, que diz ser "a primeira juíza negra do Brasil", a população negra "está órfã". "O que temos agora? No Executivo, por exemplo, temos 39 ministros e apenas uma negra –que nem em ministério está, está em secretaria com status de ministério", disse, em referência à ministra Luiza Bairros (Promoção da Igualdade Racial). "Via de regra, o negro nunca ocupa espaço de poder. As dificuldades continuam, mas ele era uma esperança para todos nós".

    O fundador e presidente do bloco carnavalesco Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, disse que Barbosa foi "uma representação muito importante para mostrar que essa cara branca do Brasil precisa mudar".

    "Ele foi importante porque enfrentou uma parte da elite do Brasil. É uma pena que ele tenha saído. Eu gostava dele porque não importava o partido, saiu da linha, ele condenava", disse.

    Para Elisa Larkin Nascimento, diretora-presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro Brasileiros no Rio de Janeiro, o ministro "representou não só a população negra, mas a população do Brasil na consolidação da jurisprudência e institucionalidade do jurídico brasileiro". "Eu e meu marido, o [ativista social] Abdias Nascimento, apoiamos a nomeação dele para o Supremo em 2003. Para mim, ele fortaleceu e viabilizou a função do judiciário no equilíbrio dos poderes da república e lutou contra distorções históricas nesse equilíbrio", afirmou.

    Editoria de Arte/Folhapress

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