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    Documentos enfraquecem a tese de reação ante um risco comunista

    RICARDO MENDONÇA
    DE SÃO PAULO

    01/06/2014 02h00

    Há pelo menos duas possibilidades de interpretação para as palestras dos anos 70 em que empresários da Fiesp diziam ter conspirado desde 1962 e doado materiais para militares golpistas de 1964.

    Uma hipótese é que as doações tenham sido mais um meio de aproximação institucional do que parte de uma conspiração política. Mas nos anos 70, no auge da ditadura, seria conveniente propagar que tinham propósito "revolucionário" desde o início.

    No fim de 1963, o 2º Exército (com jurisdição em São Paulo) passou a ser liderado pelo general Amaury Kruel, ex-chefe do Gabinete Militar de Jango. Kruel só se juntou aos golpistas em 1964, horas antes de Jango cair. Difícil imaginar que empresários paulistas soubessem, com meses de antecedência, que o 2º Exército trairia o presidente.

    Outra possibilidade é que as doações fossem parte do esforço dos adversários de Jango para fomentar um ambiente hostil ao presidente.

    Na época, os governadores ainda tinham forte influência sobre as unidades militares em seus Estados. Dessa forma, as doações podem ter servido para fortalecer nos meios militares o então governador Adhemar de Barros, que se dizia um combatente da "comunização do país" e apoiou os golpistas em 1964.

    Para o cientista político Marcelo Ridenti, da Unicamp, as duas interpretações são factíveis. "Os empresários podem ter exagerado ao falar da própria colaboração. Mas eles não inventaram essas histórias do nada. Onde há fumaça, há fogo", disse Ridenti.

    O historiador Marcos Napolitano, outro especialista no período, diz que os documentos da ESG enfraquecem a tese de que o golpe foi reativo, a ideia de que a motivação para derrubar Jango teria sido a necessidade de deter um golpe de esquerda.

    Editoria de Arte/Folhapress
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