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    BB, Caixa e outros órgãos gastam R$ 9 mi em ingressos da Copa para VIPs

    FILIPE COUTINHO
    DE BRASÍLIA

    04/06/2014 12h31

    Um grupo de milionários, empresários e parceiros "estratégicos" vai assistir aos jogos da Copa do Mundo sem pagar nada, com ingressos pagos por bancos e outros órgãos públicos ou de economia mista.

    No total, a Folha mapeou compras de R$ 9,1 milhões em ingressos. As compras foram acertadas com a operadora da Fifa desde 2012 —bem antes da liberação deste último e concorrido lote de ingressos.

    A maior fatia, R$ 5 milhões, foi paga pelo Banco do Brasil, empresa de economia mista que tem o governo federal como o principal acionista. O BB não revela quantos ingressos comprou, nem para quais jogos.

    Os ingressos serão distribuídos a clientes escolhidos a dedo pelo banco. A prioridade do BB é o segmento "ultra high", para clientes com investimentos acima dos R$ 50 milhões. Representantes de grandes empresas também foram agraciados pelo banco.

    A Caixa Econômica, por outro lado, abriu os cofres para agradar a seu público interno. No total, serão 480 ingressos, para 14 partidas, a R$ 1,8 milhão. A campanha "Bateu é Gol", destinada aos donos das lotéricas, distribuiu 320 ingressos, a R$ 1,5 milhão.

    O resto foi para a campanha de incentivo "Vai Brasil", destinados aos empregados do banco. O melhor jogo pago pela Caixa é da fase de quartas de final. Em Brasília, o BRB, banco cujo acionista majoritário é o governo do Distrito Federal, gastou R$ 1,2 milhão em 30 ingressos para clientes para cada um dos sete jogos na capital.

    Na arena de Recife, uma empresa do governo de Pernambuco garantiu com a Fifa um camarote para os cinco jogos que acontecerão no local. A compra foi feita pela administração do Porto de Suape, que selecionará executivos de empresas "estratégicas" para irem aos jogos e, também, visitarem o complexo.

    O camarote tem 18 lugares —dois representantes do porto vão ciceronear os empresários. A ideia é, a cada jogo, mudar o grupo de convidados. A ação custará R$ 745 mil.

    No Rio, o Brasil Resseguros comprou R$ 411 mil, para jogos na capital fluminense. A compra foi feita em março. Em outubro, foi finalizado o processo de privatização da estatal —entre os principais acionistas está o Banco do Brasil.

    A Folha questionou esses órgãos se entre os recebedores de ingressos havia políticos. Banco do Brasil, BRB, Caixa e o Porto de Suape negaram. O Brasil Resseguros informou que os ingressos irão para "clientes selecionados em função de parcerias negociais".

    Editoria de Arte/Folhapress

    RECOMENDAÇÃO

    Nos últimos meses, promotorias de diversos Estados recomendaram aos governos locais que não usem dinheiro público para comprar ingressos. Em Brasília, por exemplo, a promotoria do DF afirma que a compra pode se enquadrar em "irregularidade e desvio de finalidade na despesa pública, pois o gasto não almeja o atendimento do interesse público".

    O Ministério Público do DF avalia se o caso do BRB, por ser um banco, se enquadra na recomendação. O banco respondeu aos questionamentos da promotoria, que analisa a documentação. O governo de Pernambuco também recebeu recomendação similar.

    Em 2013, apesar de questionado pelo MP do DF, foram adquiridos ingressos e camarotes no valor de quase R$ 3 milhões por outra estatal do governo distrital. A compra foi parar na Justiça.

    OUTRO LADO

    Os bancos públicos e órgãos que compraram ingressos para a Copa do Mundo defendem a prática. Segundo o Banco do Brasil, estratégia semelhante é adotada pelos concorrentes de mercado. "O Banco do Brasil adquiriu ingressos para convidar os melhores clientes do segmento de alta renda e representantes de grandes empresas, como parte de sua estratégia de marketing".

    A justificativa do BRB vai na mesma linha do Banco do Brasil. O banco disse ainda que a compra foi feita antes da recomendação do Ministério Público.

    "O BRB esclarece que se trata de uma ação estratégica de negócio e mercadológica, comum no segmento de varejo bancário, e que visa a consolidação da marca na cidade, perante seus clientes e a população", disse.

    A Caixa, por sua vez, disse que a compra serviu como incentivo para os funcionários e donos de lotéricas que bateram metas. A administração do Porto de Suape disse que o complexo serve como "âncora" para investimentos em Pernambuco.

    "O camarote é exclusivo para que representantes de Suape recepcionem executivos de empresas consideradas estratégicas para Pernambuco, para o adensamento e/ou estímulo de cadeias produtivas".

    A administração de Suape esclarece, ainda, que a compra foi feita antes da recomendação do Ministério Público, dentro da legislação, e que tem receita própria, sem depender de repasses do governo. O Brasil Resseguros informou que a "aquisição de ingressos para competições esportivas é uma das ações de relacionamento voltada, exclusivamente, para clientes selecionados em função de parcerias negociais".

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