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    Petrobras não era balcão de negócios, diz ex-diretor que esteve preso

    MATHEUS LEITÃO
    DE BRASÍLIA

    10/06/2014 11h41

    Pedro Ladeira/Folhapress
    CPI da Petrobras no Senado ouve ex-diretor da área internacional da Petrobras Paulo Roberto Costa
    CPI da Petrobras no Senado ouve ex-diretor da área internacional da Petrobras Paulo Roberto Costa

    Em depoimento realizado nesta terça-feira (10) na CPI da Petrobras no Senado, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou que a estatal "não era um balcão de negócios" ao negar que tenha participado de uma "organização criminosa".

    A declaração foi dada no início da sessão que acontece no Senado – enquanto Costa fazia um histórico sobre os mais 30 anos que passou como funcionário da Petrobras.

    "Repudio com veemência que a [Petrobras] era organização criminosa. [A Petrobras] não era balcão de negócios, uma casa de negócios. [...] Colocaram alguns dados sem fundamento, sem o direito de eu colocar a minha posição. Isso não tem fundamento nenhum", disse.

    É o primeiro depoimento de Costa na CPI do Senado, requerimento de convocação foi apresentado pelo líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), no início de junho.

    Investigado por suspeita de corrupção e envolvimento com um bilionário esquema de lavagem de dinheiro, Costa foi solto no dia 19 de maio após decisão do ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal).

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    O ex-diretor foi preso no dia 17 de março na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, por envolvimento com o doleiro Alberto Youssef. Costa é acusado de participar de esquema comandado por doleiros que movimentou, de forma suspeita, R$ 10 bilhões. A Polícia Federal afirma que o esquema pode ter desviado R$ 400 milhões.

    Em resposta aos senadores, Costa também comentou a polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo ele, foi um bom negócio independente das cláusulas "Marlim" e "Put Option", responsáveis pelo prejuízo de U$ 530 milhões na compra da refinaria.

    A cláusula "put option" determinava, em caso de discordância entre a Petrobras e a belga Astra Oil, que a estatal seria obrigada a comprar o restante das ações. Já a "Marlim" dava à outra sócia uma garantia de rentabilidade mínima de 6,9% ao ano.

    Em 2006, o Conselho de Administração da Petrobras, presidido à época por Dilma Rousseff, autorizou a compra dos primeiros 50% da refinaria de Pasadena, que pertencia à empresa belga Astra Oil.

    Somente em março deste ano a presidente Dilma criticou o resumo feito em 2006 por Nestor Cerveró, então diretor internacional, que baseou a compra da primeira metade de Pasadena. Dilma definiu o relatório de "incompleto" por omitir, na transação para compra da refinaria, justamente a existência das cláusulas "put option" e "Marlim".

    Após um processo na Câmara Internacional de Arbitragem, a Petrobras teve que comprar em 2008 - obrigada por essas cláusulas - a metade restante de Pasadena. Diante do novo montante gasto, a compra de Pasadena acabou sendo um mau negócio com prejuízo para o Brasil.

    "Independente dessas cláusulas, eu acredito que foi um bom negocio naquele momento. A Put Option é uma cláusula padrão. Não acho que, por causa dessas cláusulas, a Petrobras deixaria de fazer um bom negócio", afirmou Costa.

    Ele negou que tenha participado das decisões sobre a compra de Pasadena. De acordo com Costa, a compra da refinaria era importante para aproximar do mercado norte-americano, "maior mercado de derivado do mundo". Costa explicou que ninguém consome "petróleo cru", mas sim os derivados.

    ABREU E LIMA

    Em entrevista a Folha logo após ser solto, Costa negou irregularidades nos negócios da estatal e afirmou também que não houve superfaturamento na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, a maior obra da Petrobras, que está sendo investigada. Na CPI, ele repetiu o raciocínio e defendeu o negócio.

    Com custo inicial estimado em US$ 2,5 bilhões (R$ 5,6 bilhões), Abreu e Lima deverá custar US$ 18,5 bilhões (R$ 41,5 bilhões) quando ficar pronta, em 2015. "A Petrobras errou", disse Costa. "Divulgou o valor de US$ 2,5 bilhões sem saber quanto a refinaria iria custar, sem um projeto."

    A oposição boicota a CPI exclusiva do Senado por considerá-la "chapa branca" e criou outra, com a participação de deputados e senadores, para também investigar os negócios da Petrobras. Nela, acredita a oposição, haverá mais liberdade para investigar. O depoimento da presidente da Petrobras, Graça Foster, está previsto para amanhã.

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