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    Grella classifica como falha e equivocada ação da PM em protesto

    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    20/06/2014 19h46

    O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, criticou, na noite desta sexta-feira (20), a ação da Polícia Militar durante o protesto que terminou em depredações na quinta, na zona oeste da capital. Segundo ele, a atuação da corporação foi falha e contrária à orientação da pasta.

    Grella afirmou que não deu aval para o acordo estabelecido entre a PM e o MPL (Movimento Passe Livre), que organizava o ato. O coronel Leonardo Torres Ribeiro, da PM, disse após a manifestação que os policiais acompanharam o ato de longe em respeito a esse acordo. Com isso, a polícia chegou ao local apenas após a depredação de concessionárias e agências bancárias.

    O secretário afirmou em entrevista concedida à Folha que o episódio de quinta será inserido no inquérito do Deic que desde 2013 investiga se os manifestantes compõem uma organização criminosa. Ele também falou sobre a possibilidade de responsabilizar o MPL pelas depredações, tanto na esfera criminal como na civil –o que dependeria de ação do Ministério Público.

    O ato reuniu cerca de 1.300 pessoas e começou de forma pacífica na avenida Paulista. Na marginal Pinheiros, porém, quando a maior parte dos manifestantes deixava a via para encerrar o ato no largo da Batata, mascarados promoveram depredações por ruas da região.

    Leia a entrevista na íntegra:

    *

    Houve acordo entre a PM e o MPL? O sr. deu aval?
    Muito pelo contrário. Eu só soube do acordo depois, porque a nossa orientação era completamente diferente. Como no dia da abertura da Copa, nossa orientação era naquele sentido, para que se preservassem as vias principais, garantisse o direito de manifestação, mas que esse direito não se transformasse em ato de vandalismo. Não tinha o nosso aval, não tem o nosso aval e não é essa a orientação.
    O único acordo possível é de que a PM garanta a ordem pública.

    O sr. avalia que a PM foi ingênua?
    Acho que sim, houve um equívoco, houve uma falha, nisto [acordo] e no tempo de resposta da atuação da PM quando os atos de vandalismo se colocaram mais fortemente.

    Isso será objeto de apuração da Corregedoria?
    Nós estamos avaliando para saber que medidas tomar. Evidentemente foi uma atitude equivocada, assim como nos parece que houve uma falha no tempo de resposta.

    O acordo teve a ver com o receio da PM de se expor para a mídia internacional?
    Não acredito. Nós tivemos uma atuação [diferente] no dia da abertura da Copa. Não acredito que isso possa ter qualquer tipo de interferência porque é o dever da polícia garantir a ordem pública.

    O MPL, uma vez que fez um acordo e assumiu a liderança do ato, pode ser responsabilizado?
    Acredito que sim, porque a gente tem assistido nas manifestações do MPL sempre à presença dos "black blocs". Quem convoca uma manifestação, tem que liderá-la e ter controle sobre aqueles que participam. Temos manifestações numerosíssimas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto [MTST], por exemplo, que acontecem pacificamente, sem nenhum ato de vandalismo, porque tem um líder que garante isso.
    Eu não tenho dúvida que o MPL tem contribuído, porque eles dão o ambiente para que grupos violentos aproveitem esse tipo de manifestação para depredar patrimônio privado e público e ameaçar pessoas. Em certa medida, eles têm responsabilidade, sim.

    Eles podem ser indiciados?
    Eu não quero fazer um juízo de valor sobre o aspecto criminal porque seria prematuro, a conduta tem que ser avaliada no âmbito de um inquérito policial.

    Esse inquérito será instaurado?
    Já existe um inquérito [no Deic, departamento que investiga o crime organizado] que apura esses atos de vandalismo, que é trabalhoso, depende de quebra de sigilo na internet. Esse episódio de ontem irá também para esse inquérito, que apura organização criminosa [com penas mais duras] sem prejuízo dos fatos específicos dos danos causados.
    Agora, é uma responsabilidade que pode ser até civil pelos danos causados e pelo prejuízo causado à população, que se vê prejudicada no direito de ir e vir.

    Houve momentos em que manifestantes tentaram dissuadir algumas pessoas de promover quebra-quebra. Isso atenua a situação do MPL?
    Tudo tem que ser avaliado. Nós vimos cenas dos próprios manifestantes tentando impedir atos de vandalismo. Então o problema não é com o manifestante em si, mas com esse grupo que prega a violência como forma de se manifestar. O problema maior não é dos manifestantes, mas dos líderes desse movimento [MPL] que convocam as manifestações e depois não têm controle sobre ela.

    Então, a polícia já sabe quem são os líderes, já que negociou com eles.
    Tem os líderes do MPL, que têm essa responsabilidade porque não conseguem controlar nem impedir [depredações], e tem os líderes dos grupos que praticam violência.

    Na segunda-feira (23) estão previstos protestos. A PM fez acordos para essa ocasião também?
    Não há acordo. A nossa diretriz que está sendo reiterada é clara: a polícia tem que assegurar o direito de manifestação, mas também a ordem pública. Qualquer ato que se esboce no sentido de vandalismo vai ser contido, como foi sempre, inclusive no dia da abertura da Copa.

    Naquele dia, houve queixas dos manifestantes, que não puderam fazer qualquer deslocamento porque foram dispersados antes. Como o sr. avalia?
    Nós todos vimos cenas de indivíduos arrancando postes. O propósito não era de fazer manifestação, mas sim de depredar e impedir a livre circulação.

    Existe determinação para que não se deixe ocupar a Radial Leste, por causa da Copa?
    Existe para essa e para outras vias de grande circulação. Ontem [quinta, 19/6] não poderia ter acontecido na marginal Pinheiros.

    Algumas pessoas especularam, principalmente em redes sociais, que a polícia estava deixando as pessoas depredarem para desmoralizar o movimento. Como o sr. avalia isso?
    Não acredito nessa estratégia. Como eu disse, foi um equívoco da polícia não estar presente, não acompanhar como sempre fez.

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