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    Perfil: as metamorfoses de Dilma no primeiro mandato

    NATUZA NERY
    VALDO CRUZ
    DE BRASÍLIA

    21/06/2014 02h00

    A candidata Dilma Rousseff que será oficialmente lançada neste sábado (21) para disputar as eleições de outubro está bem distante daquela consagrada na convenção de 2010. Com a queda brusca de sua popularidade, a presidente foi submetida a uma transformação que a colocou, a contragosto, no figurino de uma candidata tutelada por seu partido e seu antecessor, o ex-presidente Lula.

    Na avaliação de interlocutores, se Dilma tivesse disputado sua reeleição em outubro de 2011, teria sido a "candidata-faxineira", fruto da imagem de tolerância zero com acusados de desvios.

    Se fosse em 2012, entraria em cena a "candidata-intervencionista", resultado sobretudo da tentativa de controlar tarifas nas concessões de infraestrutura.

    Lula Palomanes/Folhapress

    Já em 2013, as corrosivas manifestações de junho teriam lançado a petista à condição hipotética de "candidata-fraca". De lá para cá, o enfraquecimento político de Dilma, refletido nas sondagens eleitorais, forçou uma nova mudança de perfil.

    Para não se afogar na onda do "Volta, Lula", sempre oportunista nos momentos de maior vulnerabilidade presidencial, a presidente que chega à convenção deste sábado precisou ao longo do ano se distanciar da figura tradicional e se aproximar de uma nova Dilma. Que fala com a imprensa, oferece jantar a empresários e bancadas políticas e, sobretudo, segue quase à risca os conselhos do padrinho e do PT.

    Dilma subiu a rampa do Planalto com a marca de gestora competente embalada na propaganda oficial. Os primeiros desafios ao estilo durona só começaram a ser notados com a saída de Antonio Palocci do primeiro escalão.

    Com Palocci ministro, as dificuldades de diálogo com o setor privado se resumiam a anedotas de bastidor. Naquela época, o centralismo de Dilma sequer era visto como um traço que emperrava a produção do governo.

    O vento só mudaria em 2012, combinado com a crise econômica que se encarregaria de agravar a desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

    O primeiro a verbalizar preocupação com o impacto do estilo pessoal na agenda presidencial foi seu criador, o ex-presidente.

    Uma conversa reservada relatada à Folha resume bem essa ideia: Lula diz que Dilma, quando ministra da Casa Civil, era um Pelé. Mas confessa que o craque não conseguiu manter o mesmo rendimento na condição de presidente da República.

    Os reparos ao jeitão da sucessora não cessaram mais. Na avaliação do ex-presidente, Dilma fez diferença em sua equipe. Mas, como presidente, não soube dialogar com subordinados, com o PT e com o empresariado.

    O resultado foi o avanço das queixas de assessores, raiva de petistas e um clima de má vontade entre empresários, com reflexos sobre investimentos no país.

    PORTA FECHADA

    Nos três primeiros anos de governo, ela fechou-se para o partido, o que alimentou até intrigas de que estaria se distanciando de Lula. Escolheu a dedo seu círculo próximo de assessores –nenhum deles lulistas– e não se esquivou do difícil papel de dizer não a correligionários.

    Embora pareça mais influenciável agora que está mais dependente da ajuda do partido e de seu padrinho, a nova candidata presidencial ainda guarda um enigma: ninguém sabe exatamente como será o futuro da economia em um possível segundo mandato. A dúvida é se ela vai dobrar a aposta no modelo que adotou nos últimos anos ou se fará correções.

    AJUSTES GRADUAIS

    Segundo assessores, a tendência é fazer alguns ajustes, de forma gradual. Não dará uma paulada nos preços administrados –como a conta de luz–, segurados para conter a inflação.

    O mercado cobra por medidas fiscais mais realistas e exige a liberação de preços como o da gasolina e o da energia, controlados por ela com corda curtíssima.

    Lula enxerga Dilma reconhecendo mais os erros cometidos no passado, e já vê na petista disposição em adotar novo estilo num segundo mandato.

    Auxiliares próximos, porém, dão definição diferente. Acham que Dilma mudou para fora, não para dentro.

    Nos encontros informais, mostra-se gentil, agradável e bem-humorada –"um papo excelente". Já nas reuniões de trabalho, transforma-se.

    A equipe do Minha Casa, Minha Vida cunhou expressão que exprime isso. Para eles, o programa ganhou outro nome: "Minha Casa, Minha Vida, Nosso Inferno".

    Durante seu mandato, Dilma colecionou episódios que só fizeram reforçar um sentimento de insatisfação em relação a seu comando. Até Lula sentiu-se, em determinados momentos, vítima de ações da presidente.

    Não gostou das comparações que ela faz insinuando, contra os críticos, que suas taxas de inflação são inferiores ao do antecessor no mesmo período de governo.

    Sempre que isso ocorre, o ex-presidente resmunga: "Só que eu peguei juros muito mais altos."

    PRONUNCIAMENTOS

    Na política, Dilma protagonizou pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e TV, uma exigência que seu partido fazia há tempos e só foi acatada agora, após queda nas pesquisas. De janeiro para cá, foram três, todos com indiretas aos adversários.

    O convencimento ocorreu em reunião no Palácio da Alvorada, no início do ano. "Ou fazemos disputa política ou não estancaremos a sangria", disse um dos coordenadores da pré-campanha, conforme relatos de presentes. Até então, ela temia ser acusada de uso da máquina pública.

    Os protestos de 2013 não só sugaram sua popularidade como também inocularam nas pesquisas de opinião um pessimismo até hoje persistente no eleitorado.

    As ruas de junho, com seu efeito cáustico nas sondagens de opinião, deram o primeiro sinal de alerta. E as ondas do "Volta, Lula" terminaram o chacoalhão.

    Editoria de Arte/Folhapress
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