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    PF investiga empresas que pagaram doleiro

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    28/06/2014 02h00

    As maiores empreiteiras do país, como OAS, Mendes Junior e UTC Constran, serão investigadas em 23 inquéritos abertos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.

    A suspeita é que repasses feitos por elas a uma empresa de fachada do doleiro Alberto Youssef, acusado de comandar esquema bilionário de lavagem de dinheiro, tenham servido para pagar propina ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

    O suborno teria origem em contratos superfaturados na refinaria Abreu e Lima, que está sendo construída pela estatal em Pernambuco, segundo a força-tarefa criada para apurar suspeitas de desvios de recursos da Petrobras.

    Divulgação/Petrobrás
    Vista da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco
    Vista da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco

    Costa é acusado de ter intermediado os contratos superfaturados da refinaria.

    Tanto Costa como Youssef estão presos em Curitiba em razão da Operação Lava Jato. O ex-diretor da Petrobras é réu num processo sob acusação de peculato –crime que funcionário público comete quando desvia dinheiro.

    O TCU (Tribunal de Contas da União) já apontou que o superfaturamento na refinaria Abreu e Lima chegou a R$ 1,32 bilhão até 2010. Orçada inicialmente em US$ 2,3 bilhões (R$ 5 bilhões), a refinaria deve custar US$ 20 bilhões (R$ 44 bilhões) quando ficar pronta, em 2015. Como diretor de distribuição da Petrobras entre 2004 e 2012, Costa era um dos responsáveis por este projeto em Pernambuco.

    Os 23 inquéritos foram abertos a partir de dois documentos da Operação Lava Jato: 1) um laudo da PF com 17 empresas que fizeram depósitos na conta da MO Consultoria, firma de fachada de Youssef; 2) um manuscrito encontrado pela PF que relaciona 13 fornecedores da Petrobras e relata a disposição de seis deles em contribuir com campanha política de pessoas ligadas a Costa.

    A MO Consultoria recebeu R$ 89,7 milhões de contratados e subcontratados da Petrobras, segundo o laudo da polícia. Os procuradores escreveram numa denúncia que "todos os recursos repassados à MO Consultoria são recursos de propina".

    Entre as empresas que fizeram pagamentos à MO, estão o Consórcio Rnest (formado pela EIT e Engevix), a Galvão Engenharia, a Construtora OAS e a OAS Engenharia.

    Muitas dessas empresas, segundo os procuradores eram subcontratadas pelo consórcio CNCC (no qual a Camargo Corrêa tem participação de 90% em Abreu e Lima) e teriam a função de repassar suborno. A CNCC também fez pagamentos diretos a Youssef, de R$ 29,2 milhões, segundo planilha apreendida no escritório do doleiro.

    O MENSALÃO, DE NOVO

    O documento manuscrito com as promessas de doações teria sido escrito por João Cláudio Genu, segundo a Folha apurou. Ele foi chefe de gabinete da liderança do PP em Brasília e recebeu R$ 2,9 milhões no mensalão para os líderes de seu partido. Condenado a quatro anos de prisão pelo Supremo no caso do mensalão, Genu cumpre pena em regime aberto.

    Ele trabalhava com o deputado federal José Janene (PP-PR), também investigado no mensalão, que morreu em 2010. Janene introduziu o doleiro Youssef no mundo político, segundo a PF, e indicou Costa para a diretoria da Petrobras. O documento manuscrito aponta que eles se rearticulavam para eleger um deputado federal após a condenação do mensalão.

    Costa disse à Folha, em entrevista publicada em 1° de junho, que o documento era sobre contribuição legal para a campanha de um deputado federal, não caixa dois.

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