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    Família diz que motorista tentou salvar a filha durante queda de viaduto

    PAULO PEIXOTO
    DE BELO HORIZONTE
    LILIANE PELEGRINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELO HORIZONTE

    04/07/2014 14h36

    A família de Hanna Cristina Santos, 24, motorista do micro-ônibus atingido na queda de um viaduto em Belo Horizonte, afirmou nesta quinta-feira (4), que a jovem foi uma heroína e tentou salvar a filha durante o desabamento. Para os familiares, ela evitou que mais pessoas morressem no acidente.

    A filha da motorista, Ana Clara, de cinco anos, estava no micro-ônibus, perto da mãe. Segundo Tereza Cristina Santos, também irmã de Hanna, no dia do acidente foi a sobrinha quem pediu para acompanhar a mãe no ônibus. "Ela é muito grudada com a Hanna", disse.

    Ana Clara também se feriu. Ela está com a testa inchada, mas não sofreu lesões mais graves. A menina passou por exames durante a madrugada e teve alta do hospital na manhã desta sexta.

    "Ela viu o viaduto caindo e freou o ônibus, jogando para o lado dela. Coisa de mãe, para salvar a filha. Se não fosse o reflexo dela, muita gente teria morrido", disse Tiago Carlos Santos, irmão de Hanna, durante o velório dela. A mulher dele, Débora Nunes, trabalha como cobradora no ônibus da família e também estava no veículo no momento do acidente.

    "Minha mulher disse que deve a vida à Hanna", afirmou Tiago, que chamou a irmã de heroína. Débora foi ao velório em uma cadeira de rodas. Ela teve um corte profundo na cabeça e sofreu uma lesão grave no maxilar –e precisará ser operada. Muito abalada e machucada, ela não falou com a imprensa durante o velório de Hanna.

    O pai de Hanna, José Antonio Santos, diz que não consegue acreditar que a filha está morta. "Alguns minutos antes, ela me ligou e pediu a bênção. A minha filha era muito doce, uma menina alegre. Ela amava a profissão e foi uma heroína. Ela teve o instinto maternal e agiu como uma profissional. Salvou muitas vidas", disse.

    José Antonio diz que considera a neta como uma filha e que a criança deve ficar com os avós.

    A mãe de Hanna, Analina Santos, estava revoltada. "Estão dizendo nos jornais que a construtora está prestando toda assistência. Não está nada, é mentira! Não tem ninguém dessa construtora aqui, ninguém nos procurou", contou ela, entre lágrimas.

    "Como é que um viaduto cai? Isso não é acidente, é falta de responsabilidade", completou José Antonio.

    Segundo Tiago, o micro-ônibus da família tinha 23 assentos, mas ele não sabe dizer quantos passageiros estavam no coletivo quando houve o acidente.

    Editoria de Arte/Folhapress

    MOTORISTAS

    Motoristas que trabalhavam com Hanna também estiveram no velório. Tristes e indignados pela morte da jovem, eles disseram que estão preocupados com a segurança da categoria e dos passageiros de Belo Horizonte.

    "Ninguém mais tem confiança nesses viadutos e nessas obras. O da rua Montese já foi inclusive interditado há um tempo. Quem passa por cima está em risco, quem passa por baixo também", diz Geraldo Pinto da Silva, motorista da linha 65 do transporte de ônibus suplementar.

    "O prefeito mora em outra cidade e só anda de helicóptero, para ele não tem problema. Mas nós que estamos trabalhando e todos os cidadãos estão em perigo", acrescenta.

    José Tarcísio Leite, motorista da linha 70, a mesma de Hanna, também está apreensivo. "A gente pede a Deus, fecha o olho e passa. Dá muito medo de circular por ali", afirma.

    Os motoristas também se mostram preocupados com o futuro dos familiares de Hanna. "Eles todos vivem do ônibus, que agora está acabado. Ainda estavam pagando as prestações", afirma ele.

    Sobre Hanna, os colegas expressam admiração e pesar pela perda. "Ela era uma jovem muito determinada, que tinha o sonho de ser motorista e foi atrás disso", diz Geraldo. "Assim que ela chegou na idade de tirar carteira, foi batalhar para entrar na profissão. E dirigia muito bem, era muito dedicada, ótima motorista", completa José Tarcísio.

    "Como é que podem liberar um viaduto que não está 100% pronto e testado? O prefeito disse que é normal liberar obra em fase de acabamento, mas isso é irresponsabilidade. É como morar numa casa que não está acabada. A gente vai colocar a vida em risco?", questionou.

    ACIDENTE

    O viaduto desabou por volta das 15h e atingiu quatro veículos que passavam pela avenida Pedro 1º. Além de Hanna, o motorista de um carro que passava pelo local, também morreu no acidente. Charlys Frederico Moreira do Nascimento, 25, estava sozinho no veículos.

    A obra da prefeitura integrava uma das linhas do BRT (via rápida de ônibus) criadas para a Copa, e foi financiada pelo governo federal, por meio do PAC da Copa.

    Não se sabe ainda as causas do desabamento de boa parte da estrutura do viaduto. O prefeito Marcio Lacerda (PSB) afirmou que "certamente" houve um erro. "Não sabemos se é falha de projeto ou de construção. Serão feitas todas as perícias, um inquérito policial será aberto e essa análise será feita com cuidado", disse na quinta.

    Procurada pela reportagem, a construtora Cowan, responsável pela obra, afirmou que "lamenta profundamente". "Neste momento, a prioridade é o apoio às vitimas e aos familiares. A empresa informa que já enviou ao local a equipe técnica para iniciar as investigações", disse em nota.

    A presidente Dilma Rousseff lamentou o ocorrido e disse, após o acidente, que "coloca à disposição da prefeitura e das autoridades de Belo Horizonte no que for necessário". "Neste momento de dor, presto minha solidariedade às famílias das vítimas", afirmou.

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