Há cerca de duas semanas, o PTB pegou de surpresa o Palácio do Planalto e a cúpula do PT ao anunciar que apoiaria Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial. O PTB garante 37 segundos de tempo de televisão ao candidato.
A decisão foi anunciada exatamente um mês após Dilma Rousseff se reunir com dirigentes do PTB para receber oficialmente o apoio da legenda, em Brasília. A presidente chegou a elogiar a fidelidade do partido no Legislativo, e recebeu afagos de Cristiane Brasil, filha do ex-deputado Roberto Jefferson, preso no processo do mensalão.
"Eu respeito muito a senhora [..] Na minha família, lealdade é um valor e o Brasil inteiro teve prova disso", disse Cristiane.
No dia da convenção do PT, no último dia 21, o PTB estragou a festa que relançou Dilma candidata: anunciou o rompimento e a adesão ao tucano. "A gente avalia que essa decisão estava tomada há muito tempo, e só foi anunciada no dia do evento do PT para criar um fato político", disse à Folha um membro da campanha dilmista.
Na avaliação de petistas, as condições de acordo entre o PTB e a campanha tucana foram negociadas pelos "caciques'' dos partidos.
Nos bastidores, os deputados federais da legenda, que mantêm o apoio a Dilma, vão na mesma linha: afirmam que a migração para a chapa de Aécio foi comandada, entre outros, por Roberto Jefferson, que, embora preso, continua controlando o partido.
Como os deputados não foram contemplados nos acordos partidários, acabaram se rebelando contra a decisão. O líder da sigla na Câmara, Jovair Arantes (GO), diz acreditar que os cargos que a bancada mantêm no governo federal –na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e na Susep (Superintendência de Seguros Privados)– serão mantidos.
No Planalto, a avaliação é que o senador Gim Argello (PTB-DF) também atuou pelo tucano. Assessores de Dilma relatam que o senador dava sinais de descontentamento após ter sido rifado da disputa por uma vaga no Tribunal de Contas da União.
Pedro Ladeira - 8.abr.2014/Folhapress | ||
O senador Gim Argello (PTB-DF) no plenário da CCJ |
Integrantes do governo fazem uma espécie de "mea culpa'': o Planalto não deu "o peso adequado'' às ameaças do PTB e deixou a legenda escapar. A título de comparação, citam que também não levaram a sério os diversos alertas do PMDB do Rio, que, insatisfeito com a candidatura de Lindbergh Farias (PT), também aderiu ao tucano.
A chapa ficou conhecida como "Aezão'', uma combinação do nome do candidato tucano com Luiz Fernando Pezão, governador do Rio e candidato à reeleição.
Petistas e parlamentares da base aliada ouvidos pela Folha criticam a condução de Aloizio Mercadante (Casa Civil) nas negociações.
Após o susto com o PTB, o Planalto atuou para segurar o PR, que também ameaçava abandonar Dilma se não fosse contemplado com cargos. A estratégia funcionou, e a presidente entregou a cabeça de César Borges, ministro dos Transportes, condição da legenda para fechar com a campanha petista.
A ofensiva de Mercadante para não perder também o PR incluiu uma operação para reforçar o palanque do partido no Rio de Janeiro.
O candidato ao governo do Rio, o deputado Anthony Garotinho, ajudou a conter a rebelião pró-Aécio no PR. Em troca, o Planalto operou para que o aliado Pros, até então inclinado a apoiar Lindbergh, ficasse com Garotinho.
[an error occurred while processing this directive]