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    Dono de jatinho usado por Vargas confirma que doleiro pagou voo

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    10/07/2014 18h38

    O empresário Bernardo Tosto, sócio e administrador da Elite Aviation, empresa dona do jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef para o deputado André Vargas (sem partido-PR) viajar com a família em férias, confirmou que foi o doleiro quem custeou a viagem feita em janeiro deste ano. No entanto, ele afirma que uma empresa de aviação foi quem fez o contrato para a realização do voo. O empresário disse ainda que foi emitida nota fiscal mas alegou não poder identificar a empresa.

    A informação foi dada por Tosto ao Conselho de Ética da Câmara que investiga Vargas por quebra de decoro parlamentar devido ao seu envolvimento com o doleiro, preso desde março e acusado de comandar um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. O empresário foi arrolado como uma das oito testemunhas indicadas pelo relator do caso, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). No entanto, Tosto não aceitou depor pessoalmente no colegiado e respondeu por escrito a 12 perguntas enviadas por deputados.

    Pedro Ladeira/Sérgio Lima/Folhapress
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef
    O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), e o doleiro Alberto Youssef

    Questionado sobre se Vargas já havia utilizado a aeronave em questão ou outras de sua propriedade com custos pagos por Youssef, Tosto respondeu: "Pelo que sei, aquela foi a única vez. Não há registro na empresa de que ele tenha feito outro uso".

    Em março, a Folha revelou que Vargas viajou no jatinho emprestado pelo doleiro para passar férias em João Pessoa, Paraíba, com sua família. Em resposta ao jornal, o deputado afirmou na ocasião conhecer o doleiro há mais de 20 anos e disse ter pedido o avião porque voos comerciais estavam muito caros no período, mas alegou ter pago o combustível do jato Learjet 45.

    No entanto, no dia seguinte à publicação, ele mudou sua versão e disse que Youssef havia custeado as despesas com o voo e afirmou só ter aceitado embarcar porque imaginou que se tratava de uma "carona". Segundo ele, quando soube que era um frete exclusivo, pediu à sua secretária para reembolsar Youssef das despesas de combustível, estimadas por ele em R$ 20 mil. "Entretanto, a proposta de reembolso foi negada", afirmou sua assessoria em nota na época, acrescentando que o deputado teria sido informado dessa recusa no dia em que o caso foi revelado.

    Na resposta enviada ao Conselho de Ética, Tosto confirma que foi feito um vôo comercial em 2 de janeiro de Londrina, Paraná a João Pessoa, Paraíba, e afirma que uma nota fiscal foi emitida para o serviço prestado. O frete, segundo o empresário, era de ida e volta, mas ele não esclarece quando teria ocorrido o retorno do deputado. Ainda segundo Tosto, uma outra empresa de aviação não identificada por ele foi quem fez o contrato com a Elite Aviation.

    Tosto negou conhecer Youssef e Vargas e disse ter ficado sabendo do uso de seu avião apenas pelas notícias veiculadas. Ele disse também não ter tido conhecimento sobre uma tentativa de Vargas pagar os gastos oriundos do uso da aeronave. De acordo com o empresário, Vargas só teria utilizado um avião de sua empresa no episódio de janeiro.

    Questionado sobre se Youssef já havia custeado o uso de aeronaves para outros parlamentares ou outras pessoas, Tosto afirmou apenas que em "relação à empresa Elite, informo que o senhor Alberto Youssef não custeou a aeronave para parlamentares nem para outras pessoas".

    Vargas também responde ao processo por suposto envolvimento na negociação de contratos entre o laboratório Labogen e o Ministério da Saúde. De acordo com investigações da Polícia Federal na Operação Lava Jato, a Labogen teria sido usada para lavar US$ 37 milhões (R$ 85 milhões) oriundos dos negócios de Youssef ao simular importações.

    Vargas teria auxiliado o doleiro a conseguir um contrato no ministério para o laboratório no valor de R$ 31 milhões. Em uma das mensagens interceptadas pela PF, Vargas e o doleiro aparecem conversando sobre a Labogen e tratam o negócio como a oportunidade de "independência financeira". A suspeita da polícia é de que o doleiro seja o verdadeiro dono do laboratório.

    Desde que as denúncias contra Vargas começaram a ser publicadas, ele renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e pediu licença por 60 dias. Ele retomou o mandato em 14 de maio para se defender no conselho. No entanto, o PT, seu antigo partido, entrou com uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pedindo a perda do mandato de Vargas por infidelidade partidária. O autor do pedido é o advogado do PT, Marcio Silva.

    Delgado afirmou ontem que deseja concluir a instrução do processo dentro do prazo de 40 dias, que se completam em 29 de julho caso a Câmara não entre em recesso. Ele teria então, mais dez dias para ouvir André Vargas e concluir seu relatório que pode concluir se houve quebra de decoro parlamentar e indicar qual penalidade Vargas deveria sofrer, o que pode ir desde uma advertência até a cassação do mandato.

    Para o advogado de Vargas, Michel Saliba, o prazo de investigação do conselho é muito curto. "Esse prazo de 40 dias úteis é para inglês ver. Isso é um verdadeiro absurdo. Se querem um processo sério é preciso garantir o direito de defesa", disse.

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