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    Copa do Mundo injeta R$ 30 bilhões na economia brasileira, diz Fipe

    CLAUDIA ROLLI
    ÉRICA FRAGA
    DE SÃO PAULO

    14/07/2014 02h00

    O crescimento do Brasil seria ainda mais fraco neste ano se o país não tivesse sediado a Copa do Mundo.

    Apesar de o impacto do evento na economia ser considerado pequeno, a exemplo do que ocorreu em outros países, parte do setor de serviços e comércio viu, de forma pontual, a receita aumentar com o Mundial. A avaliação é de analistas, empresários e entidades de classe de 15 segmentos consultados.

    Com o evento esportivo, R$ 30 bilhões devem ser injetados na economia, segundo estimativa da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para o governo.

    O valor equivale a cerca de 0,6% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. E está próximo daquilo que eventos de grande porte, como a Olimpíada, trouxeram de incremento à economia de países que sediaram esses torneios.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O cálculo da Fipe partiu do impacto econômico da Copa das Confederações, realizada há um ano em seis cidades, que acrescentou R$ 9,7 bilhões ao PIB.

    Considera efeitos diretos e indiretos do torneio, investimentos públicos e privados em infraestrutura, gastos de turistas e do comitê da Fifa.

    Para o banco Itaú, o torneio deve incrementar o PIB entre 1% e 1,5% –efeito que começou em 2011, com o início das obras, que geraram emprego e renda no país.

    O placar final do impacto na economia, ainda no campo das projeções de analistas, está próximo do que ocorreu em outros países que sediaram o evento desde 1982.

    DESEMPENHO

    Ao comparar o desempenho de nove países, Bráulio Borges, economista da LCA Consultores, concluiu que o PIB teve aceleração de um ponto percentual, em média, no ano da Copa e arrefecimento de 0,5 ponto percentual no ano seguinte.

    Para o levantamento, ele comparou o crescimento do PIB no ano anterior ao do torneio com a variação nos dois anos seguintes em oito Copas. Isso ocorreu em sete países: Espanha, EUA, França, Coreia do Sul, Japão, Alemanha e África do Sul. Só não ocorreu no México e na Itália.

    A presidente Dilma Rousseff deve anunciar nos próximos dias o impacto final na economia. Pelos últimos dados, considera-se que as despesas com infraestrutura somem R$ 22,5 bilhões; as operacionais,
    R$ 1,2 bilhão; e os gastos de turistas, R$ 6 bilhões.

    Para o professor Wilson Rabahy, da Fipe, os números não devem ficar longe disso. Mas, diz, o que importa é o que virá após a Copa.

    "As obras já feitas devem gerar novos investimentos em regiões como a do Itaquerão (zona leste de SP), a do Mineirão (BH) e ao redor do Maracanã (RJ)". O destaque, segundo ele, é do setor de transporte terrestre e aéreo.

    O fato de o Brasil ainda ser uma economia "bastante fechada" amplia as possibilidades de ganhos com a maior integração com o exterior gerada pelo Mundial, avalia Caio Megale, economista do Itaú Unibanco.

    "Os efeitos positivos para o Brasil tendem a ser maiores do que para outros países mais integrados à economia global que já sediaram a Copa, como Alemanha e Japão."

    A visibilidade que o país ganhou tem de se transformar em receita não pontual, mas ao longo prazo, diz o professor Mauro Rochlin, da FGV.

    "A Espanha conseguiu mudar o patamar de seu turismo após sediar a Olimpíada, em 1992. Passou de 10 milhões de turistas por ano para 20 milhões. Esse é o desafio que está posto ao Brasil."

    POR SETOR

    O efeito da Copa em 14 segmentos da economia consultados pela Folha é avaliado de forma distinta por entidades empresariais que representam um mesmo setor.

    Caso do comércio, por exemplo. Se por um lado a Fecomercio SP estima perda no varejo com os 64 feriados em dias de jogo nas 12 cidades-sede do torneio; por outro lojistas de itens relacionados ao torneio (artigos pessoais, televisores) preveem receita adicional de R$ 863 milhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio.

    "A venda de móveis pode ser afetada em uma rede, por exemplo, mas a de televisores, aumentou. Há uma compensação, no varejo, que deve ser considerada", diz Fernando de Castro, vice-presidente do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), que representa 56 empresas varejistas de dez diferentes segmentos.

    O mesmo ocorre com o setor de hotelaria. Enrico Ferme, presidente da Abih (associação da indústria de hotéis), avalia que a ocupação dos hotéis nas 12 cidades aumentou, em média, entre 6% e 8% durante o evento.

    Mas, em São Paulo, que depende do turismo de negócios, a taxa ficou abaixo da média com o cancelamento de eventos neste ano.

    Na construção civil, R$ 35 bilhões foram movimentados desde 2007, quando Brasil foi anunciado para sediar Copa de 2014, segundo dados de sindicatos dessa área.

    Apesar dos efeitos positivos no caixa de parte das empresas do setor, os impactos muitas vezes não se estendem pela cadeia produtiva. A indústria de máquinas já informou que as obras de estádios não foram suficientes para reverter a retração do setor. "Enfrentamos queda cavalar de produção", diz Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq.

    As vendas de máquinas e equipamentos no mercado interno caíram 30% entre janeiro e maio deste ano em comparação a igual período de 2013. O faturamento decorrente de encomendas ligadas à Copa representaram menos de 5% do faturamento do setor nos últimos anos.

    No setor de transporte, as empresas que atendem linhas de ônibus que ligavam as cidades-sede da Copa tiveram aumento de 20% no número de passageiros, segundo Paulo Porto Lima, presidente da Abrati, associação que representa o setor.

    Na indústria têxtil, o Mundial não foi capaz de atenuar a perda de competitividade do setor. A expectativa de que aumentaria a demanda por camisetas foi frustrada, segundo a Abit, associação que reúne a indústria têxtil e de confecção.

    A produção do setor encolheu em abril e maio, e a importação de camisetas mais que dobrou de janeiro a maio deste ano em relação a igual período de 2010, quando ocorreu a Copa da África do Sul.

    Colaborou DIMMI AMORA, de Brasília

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