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    Rio de Janeiro

    Gravações ligam aliado de Paes a propina

    DO RIO

    25/07/2014 21h39

    Gravações de áudio e vídeo, reveladas pelos sites das revistas "Veja" e "Época", mostram o ex-secretário de Governo do prefeito Eduardo Paes, o deputado federal Rodrigo Bethlem (PMDB), 43, admitindo receber propina na Prefeitura do Rio, além de ter uma conta na Suíça.

    Bethlem, que tenta a reeleição, foi filmado por sua ex-mulher, a empresária Vanessa Felippe, 38, filha do presidente da Câmara de Vereadores, Jorge Felippe (PMDB).

    De acordo com as gravações, Bethlem, que deixou a secretaria de Governo em abril passado, teria desviado recursos em convênios da prefeitura carioca na área social. A propina chegaria a R$ 70 mil por mês.

    De acordo com a edição online da revista "Veja", o deputado federal confessou os desvios em uma discussão com Vanessa. Eles se divorciaram após 16 anos.

    Vanessa Felippe instalou câmeras escondidas pela casa. A ex-mulher também gravou conversas com Bethlem. Numa delas, ele mencionaria ter conta na Suíça.

    Manter dinheiro no exterior não é crime, desde que o recurso seja declarado à Receita Federal. A conta na Suíça não consta das declarações de bens que apresentou à Justiça Eleitoral em 2006, 2010 e agora em 2014, quando disputa a reeleição para deputado federal.

    No registro de áudio, o deputado afirma que sua principal fonte de renda era um convênio da prefeitura chamado Cadastro Único. "Eu tenho de receita em torno de R$ 100.000 por mês", afirma, explicando que do contrato retirava entre R$ 65.000 e R$ 70.000 por mês.

    CONVÊNIO

    Segundo a "Veja", o convênio a que Bethlem se refere foi fechado com uma ONG chamada Casa Espírita Tesloo. Assinado em 2011 por R$ 9,6 milhões, tinha o objetivo de atualizar o cadastro feito pela prefeitura para 408 mil famílias receberem os programas sociais do governo federal, como o Bolsa-Família.

    Bethlem se licenciou da Câmara em 2009 e passou pelas pastas de Ordem Pública, Assistência Social e, por fim, a Secretaria de Governo da cidade do Rio. Ele é candidato a um novo mandato de deputado.

    OUTRO LADO

    A Prefeitura do Rio emitiu nota na noite desta sexta (25), após tomar conhecimento das denúncias contra o ex-secretário de Governo Rodrigo Bethlem. Na nota, a prefeitura informa que decidiu abrir investigação dos contratos citados nas reportagens, referentes à época em que Bethlem ocupava o cargo de secretário municipal de Assistência Social. A prefeitura informa que não possui mais convênio com a Tesloo.

    A nota diz ainda que "o município espera que o deputado preste os esclarecimentos necessários sobre as denúncias em questão".

    Bethlem atribuiu as acusações da ex-mulher a um desequilíbrio psiquiátrico.

    Leia a transcrição do áudio publicada pela revista 'Época':

    Rodrigo Bethlem - Para resumir bastante o enredo... (ininteligível) Eu hoje.. Quer dizer, hoje não... porque esse mês, por acaso, deu um furo danado porque minha principal fonte de receita, que é um convênio, o único convênio que eu tenho ininteligível, o CadÚnico, o cara simplesmente prestou contas...

    Vanessa - Por que você está falando baixo? Não tem ninguém aqui.

    Bethlem - Ham?

    Vanessa - Fala baixo por quê?

    Bethlem - Porque eu simplesmente estou paranoico com isso. Só isso...

    Vanessa - Paranoico por quê?

    Bethlem - Telefone... (ininteligível)

    Vanessa - Paranoico por quê?

    Bethlem - Telefone. Você não sabe que esses caras entram no telefone e vira um autofalante?

    Vanessa - E você tem motivo para estar paranoico?

    Bethlem - Como todo mundo. Você acha que alguém vai te denunciar amanhã por quê? Você acha que o (ininteligível) está atrás de mim, por quê?

    Vanessa - Por quê?

    Bethlem - Porque eu sou alvo, Vanessa.

    Vanessa - Por que você é alvo?

    Bethlem - Ué, não sei. Inimigo, sei lá por quê... Bom, é... Eu hoje...

    Vanessa - Quanto você botou de empregada?

    Bethlem - Sete mil e duzentos reais.

    Vanessa - Bom, dá cinco e quinhentos, sem colocar carteira assinada, nada disso.

    Bethlem - Carteira assinada é INSS (ininteligível).

    Vanessa - Não. Aqui cinco e quinhentos só os salários mais dois e quatrocentos de diarista, fora o Tiago da piscina e a mulher do jardim.

    Bethlem - (ininteligível)

    Vanessa - Então, cinco e quinhentos é o efetivo de empregada.

    Bethlem - Então, mas (ininteligível) sete e duzentos...

    Vanessa - Sem impostos, carteira, nem nada.

    Bethlem - Carteira é INSS só que você paga. Tá aqui. São seiscentos reais.

    Vanessa - De uma empregada?

    Bethlem - De todos.

    Vanessa - Bom que seja, tá. Cinco e duzentos mais dois e quatrocentos.

    Bethlem - O que é dois e quatrocentos? É trezentos e vinte por...

    Vanessa - Trezentos e cinquenta.

    Bethlem - Trezentos e vinte que tava pagando.

    Vanessa - Ah é? Enquanto quanto é que dá?

    Bethlem - Dá mil e duzentos.

    Vanessa - Tem mês que são cinco, tem mês que são quatro.

    Bethlem - Bota mil e quinhentos, pronto.

    Vanessa - Não. Botei mil e quatrocentos, botei menos.

    Bethlem - (ininteligível) Bom de qualquer forma dá menos de sete e duzentos, dá seis e oitocentos, seis e seiscentos.

    Vanessa - Dá sete e seiscentos.

    Bethlem - Por que sete e seiscentos.

    Vanessa - Cinco e duzentos e mais dois e quatrocentos, que tem a outra diarista de mil reais.

    Bethlem - Que diarista de mil reais.

    Vanessa - Tem uma cozinheira e tem uma diarista da casa.

    Bethlem - Então ficou uma empregada só aqui?

    Vanessa - Porque a gente não encontra empregada. Eu tô louca atrás de empregada.

    Bethlem - (ininteligível) Vou ser bastante prático, bastante direto.

    Vanessa - (ininteligível) Não quero ficar brigando por centavo não.

    Bethlem - Não, não vamos ficar brigando por centavos. Porque minha tese é outra. Minha tese é o seguinte. Eu ganho hoje, Vanessa, entre... é... o que eu tenho hoje de receita, esse mês, infelizmente, furou porque o cara não prestou contas e eu, efetivamente (...)(ininteligível)... mandei (ininteligível) até o cara prestar contas. Por isso que estou fodido desse jeito, minha principal receita.

    Vanessa - Espera aí (ininteligível), Rodrigo... Só um minutinho. R$ 7.600 (ininteligível) empregados.

    Bethlem - Tá, então você aumenta mais R$ 400 naquela conta que te dei.

    Vanessa - Então, você escreve aí... Dá R$ 24.850, é isso?

    Bethlem - Isso. Bom, deixa eu concluir pra você...

    Vanessa - Você estava falando do, do... do treco...

    Bethlem - É... prestou contas... (ininteligível).

    Vanessa - do negócio de... de... Qual é o nome do negócio?

    Bethlem - Quando isso?

    Vanessa - É um negócio de, sei lá..Um trecho que você estava falando da... da Secretaria.

    Bethlem - É um convênio que eu tenho, cadastro único.

    Vanessa - Hã, o que que tem isso?

    Bethlem - É minha principal fonte de renda hoje. O cara não prestou conta direito, o cara é um idiota, um imbecil. Não pude pagar o cara este mês, não recebi. Tava prestando conta, prestou agora, enfim. Também é uma receita que eu tenho até... certa até fevereiro, até março, porque é um convênio de sete meses. É... outra coisa que eu quero te dizer é o seguinte...

    Vanessa - E quanto dá isso.... E quanto dá isso por mês?

    Bethlem - Eu tenho... eu tenho de receita é cerca de R$ 100 mil por mês. É o que eu tenho tudo junto.

    Vanessa - Quanto dá CadÚnico por mês?

    Bethlem - Em torno de uns R$ 65, R$ 70 mil. Depende do que ele receber, entendeu? Se tiver alguma glosa. Se ele prestar contas, se não tiver executado todo o serviço, tem uma glosa. Fora isso, tem o lanche e meu salário.

    Vanessa - Lanche? Que lanche?

    Bethlem - O lanche que é servido pro... O cara que vende lanche para todas as ONGs é meu amigo.

    Vanessa - Ah, achei que era lanche mesmo... E quanto é de lanche?

    Bethlem - Em torno de R$ 15 mil, hoje. O cara tá vendendo metade do que deveria vender.

    Vanessa - Até quando?

    Bethlem - Claro, até quando existir o convênio... Até quando ele (ininteligível)

    Vanessa - E por que que o tal do treco é até fevereiro?

    Bethlem - Porque o convênio acaba, tem prazo fixo, que é só para fazer o cadastro de todos os que estão faltando.

    Vanessa - Hum... salário?

    Bethlem - (inaudível) Bom, outra coisa que quero te dizer é o seguinte. Eu estou com o firme propósito, obviamente, vou ter que ver lá na frente como é que eu vou fazer, mas eu pretendo me desligar da secretaria. Estou tendo ver se consigo me... me ajustar um pouco financeiramente. Eu pretendo me desligar da secretaria em abril ou maio. Aproveitar (...) fico mais livre pra campanha, sou mais útil agora livre e coisa e tal e efetivamente começar a me reposicionar. Se eu não fizer isso não vou fazer... a política (...) cada vez é maior. Então, é.. (...). A minha intenção era deixar com você por mês R$ 45 mil reais.

    *

    A conta na Suiça

    Bethlem - Se você quer saber, olha, eu, em termos de mágoa, eu acho que a eu que tive com você dificilmente você vai ter uma igual comigo.

    Vanessa - Tá, tá bom...

    Bethlem - Dificilmente.

    Vanessa - Caramba... (...)

    Bethlem - Dificilmente... Acho pouco provável.

    Vanessa - Você tem uma amante um ano e meio, faz e acontece, fala de mim para meio mundo, eu não abro a boca para falar de você. E você que tem mágoa de mim?

    Bethlem - Mas eu nunca cheguei para você e disse: "olha, se você sair desse sofá aqui de casa, eu vou na Polícia Federal contar que você ficou aqui pegando dinheiro um ano da sua assessora... Você vai (ter de ir lá) pra devolver o dinheiro.

    Vanessa - Eu falei isso para você?

    Bethlem - O que que você disse pra mim, Vanessa? (ininteligível) Você guarda tão bem as coisas (...).

    Vanessa - Espera aí, de quem você pegava dinheiro, que assessora?

    Bethlem - Você por acaso não disse que eu ia...

    Vanessa - Que assessora que você pegava dinheiro?

    Bethlem - Você por acaso não disse que se, por acaso eu não desse a metade para você, muita gente ia gostar de saber que eu tinha conta na Suíça?

    Vanessa - Quando... Eu disse isso onde?

    Bethlem - Aqui. Eu sentado ali e você aqui.

    Vanessa - Que... que conta na Suíça?... Deixa eu te explicar uma coisa... Que conta na Suiça?... E como é que eu poderia dizer isso... primeiro, pra eu dizer isso, eu tenho que, no mínimo, pra dizer tem que provar. Provar que você tem uma conta na Suiça.

    Bethlem - Vanessa você disso isso (...) Eu não passei mal à toa, Vanessa. Eu não sou débil mental.

    Bethlem - Então, vou narrar para você, para você refrescar a sua mente. Você virou para mim e começou a falar que você tinha que ter metade do que tinha. Eu falei assim: "bom, tudo bem, então quero saber se eu vou ter metade do que você vai ter também, porque se você me ajudou a ser a pessoa que eu sou, eu imagino que eu tenha contribuído na sua vida para você ser a pessoa que você é também (ininteligível). Agora você me escuta...

    Vanessa - Não. Você tem que abrir um parêntese aí.

    Bethlem - Abre parêntese não, agora você vai me escutar.. Você acabou de falar, você acabou de falar?

    Vanessa - Fala o que você quer dizer.

    Bethlem - Aí você começou com essa conversa ((ininteligível), que você teria direito a metade do que eu ganho

    Vanessa - Eu sou casada com comunhão de bens total.

    Bethlem - Num momento de raiva, que você não lembra, você lembra sempre os que outros dizem. Num momento de raiva, quando eu virei para você e disse: "Bom, Vanessa, se você quer ter metade de tudo o que eu tenho pelo resto da minha vida..."

    Vanessa - Rodrigo, eu sou casada com você com comunhão total de bens.

    Bethlem - Sim. Até o momento que a gente se separa, Vanessa. Daqui para frente, não é mais.

    Vanessa - Meu Deus do céu!

    Bethlem - Daqui para frente não existe mais vínculo. Se você ganhar na loteria, R$ 20 milhões daqui a (ininteligível)

    Vanessa - Eu não jogo na loteria, Rodrigo.

    Bethlem - Se você supostamente ganhasse R$ 20 milhões, R$ 20 milhões seriam seus, não são dez meus e dez seus, porque meu vínculo acabou com você e você comigo... Mas, tudo bem, essa é sua tese. Aí eu fui... falei assim, tudo bem, eu quero dizer o seguinte: o que você ganhar metade também é meu? Porque se eu sou o que eu sou hoje e você me ajudou a ser quem eu sou hoje, eu imagino que tenha tido influência na sua vida do que você é hoje, para o bem ou para o mal.

    Vanessa - (ininteligível)

    Bethlem - Deu eu acabar de falar.

    Vanessa - (ininteligível)

    Bethlem - Aí eu falei isso para você. Aí você disse: "não, mas é diferente porque agora que estou começando meu negócio. Você está saindo da minha agora, eu estou começando meu negócio, coisa e tal". Não diferente não... A gente começou o bate-boca por aí. E eu disse a você: "não, eu não concordo". Aí você falou assim: "você vai ter por bem ou por mal".

    Vanessa - Eu disse isso?

    Bethlem - Disse e "vai ter que colocar no papel". Eu falei: "Vanessa, no papel eu não vou colocar porque não há condições de colocar isso no papel. Eu assinar isso significa que vou fazer a confissão de um crime, que eu não fazer nunca". Aí você virou e falou o seguinte: "Não, você vai assinar o papel, você sabe por quê?... porque eu tenho certeza, crime por crime, eu tenho certeza que muita gente ia gostar de saber que você tem uma conta na Suíça".

    Vanessa - Rodrigo, como é que eu posso ter dito uma coisa dessas. Eu não teria nem como provar que você tem uma conta na Suíça.

    Bethlem - Então, Vanessa, eu tive... eu tive uma ilusão...

    Vanessa - Só um minutinho...

    Bethlem - Então, Vanessa...

    Vanessa - O que que eu, Vanessa, sei de conta na Suíça, pra provar que você tem uma conta na Suiça? Me diga.

    Bethlem - Você está careca de saber que fui à Suíça para abrir uma conta lá.

    Vanessa - Não, só me diga uma coisa...

    Bethlem - Não seja hipócrita...

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