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    Prefeitos do Paraná fazem ofensiva contra Tribunal de Contas do Estado

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    28/07/2014 12h45

    Numa iniciativa inédita no país, prefeitos do Paraná se uniram para tentar diminuir os poderes –sobretudo na aplicação de multas– do Tribunal de Contas do Estado.

    Eles afirmam que o órgão é "excessivamente formalista" e pune por "erros burocráticos", o que inviabiliza a gestão das cidades e desencoraja prefeitos a disputarem eleições.

    Na semana retrasada, os gestores municipais entregaram à Assembleia um projeto de lei para diminuir a possibilidade de multas por descumprimentos da Lei de Responsabilidade Fiscal.

    "Hoje é um perigo ser prefeito. Você coloca teu patrimônio em risco por bobagem", diz o presidente da AMP (Associação de Municípios do Paraná), Luiz Sorvos (PDT). "Um recibo que falta já dá em multa. Está errado."

    O TCE montou uma comissão e vai analisar a proposta. Reservadamente, porém, membros do órgão afirmam que a iniciativa é "perigosa" por querer "flexibilizar" a atuação do tribunal.

    Os prefeitos paranaenses, por outro lado, afirmam que estão sendo "sufocados" pelo órgão, que abranda as punições ao governo estadual e engrossa com os municípios, que têm menos estrutura e menor poder político.

    Entre as sugestões, está a de que o TCE apure, comprove e quantifique os danos ao erário, e aponte de quem é a responsabilidade (se do prefeito ou de outro servidor) para, só então, punir.

    Pela proposta, só seria afastado preliminarmente o gestor que tiver irregularidades comprovadas, não apenas indícios, e que aja de má-fé ou ilegalmente. Despesas desnecessárias ou acima da média de mercado, por exemplo, deixariam de ser punidas com multa.

    Também é proposto um prazo de 30 dias para que as irregularidades sejam corrigidas, além de diminuição do valor da multa (de 10% a 30% do dano para 5%).

    Os prefeitos negam que a intenção seja enfraquecer o tribunal. "Nós queremos bom senso e isonomia com relação ao Estado", afirma Sorvos. "Se tem dolo, não se pode contemporizar. Mas a maioria dos prefeitos é séria, bem intencionada. Não dá para criminalizar."

    PREFEITO SE MATOU

    A sugestão da AMP é que a lei, caso aprovada, seja chamada de Lei Silom Schimidt, em homenagem ao ex-prefeito (PSD) de Santa Helena (cidade a oeste do Paraná) que se matou no ano passado após ter sucessivas contas desaprovadas no tribunal.

    O TCE do Paraná afirma que é um dos tribunais que menos aplica multas no país, e que os valores são baixos: a média dos últimos três anos foi de R$ 800 por multa. O projeto de lei não começou a tramitar na Assembleia. Os deputados ainda negociam com o presidente do TCE um acordo sobre a proposta.

    A Atricon (Associação Nacional dos Tribunais de Contas) entende que mudanças na lei orgânica do TCE só podem ser propostas pelo próprio órgão, e diz que ingressará com ação no STF (Supremo Tribunal Federal) caso isso seja descumprido.

    Já a Assembleia do Paraná sustenta que pode, sim, propor as mudanças, e diz que colocará o projeto em pauta até meados de agosto.

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