Seis senadores e um deputado federal tiveram seus verbetes da Wikipédia alterados, com elogios ou críticas, a partir de computadores localizados dentro do Senado, mostra levantamento feito pela Folha a partir dos endereços de IP registrados em nome da Casa.

O principal caso é do senador José Agripino Maia (DEM-RN), que teve elogios incluídos e detalhes constrangedores de sua biografia retirados em seu verbete de dois IPs diferentes. "Sua atuação no Senado Federal foi marcada pela defesa da democracia voltada para os cidadãos", afirma trecho incluído.

O mesmo endereço de IP excluiu o seguinte trecho: "Em 1979 José Agripino, filho do governador biônico Tarcísio Maia, é empossado como prefeito biônico do Rio Grande do Norte pelo PDS, ex-Arena", partido alinhado ao regime militar.

Os IPs são como uma "digital" na internet, que serve para identificar de onde partiu o conteúdo publicado. A Wikipédia registra os IPs de todas as mudanças feitas de forma anônima em seu site –só é possível descobrir a origem exata, entretanto, caso o Senado procure em seus registros de rede.

Outros senadores que tiveram suas páginas alteradas são Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), Ataídes Oliveira (Pros-TO), Pedro Taques (PDT-MT), Serys Slhessarenko (PTB-MT) e Wellington Dias (PT-PI), além do deputado federal Josias Gomes (PT-BA).

Nenhuma delas, entretanto, foi tão extensa quanto a realizada no artigo sobre o senador Agripino Maia. As mudanças feitas em textos da Wikipédia são importantes porque, ao buscar o nome de um parlamentar na internet, a página aparece entre os primeiros resultados.

OUTRO LADO

Procurado, o gabinete do senador Agripino Maia informou que editar a Wikipédia não está entre as tarefas dos funcionários.

Disse, ainda, que desde 2009 a equipe desistiu de monitorar o serviço, por julgar contraproducente o acompanhamento do grande volume de alterações. Ainda segundo a assessoria de Agripino, os funcionários também não editam as páginas de outros políticos.

PLANALTO

Elogios ao ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha foram incluídos na Wikipédia por um funcionário do Palácio do Planalto, conforme a Folha revelou nesta terça-feira (29).

Fernando Ramos Silva ocupa o cargo de coordenador-geral de produção e divulgação de informações do Planalto e também é responsável por editar o Blog do Planalto.

A reportagem forneceu ao Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados) endereços de IP, datas e horários de acesso, junto a um pedido de identificação dos locais físicos em que esses IPs estão alocados.

O órgão disse que não poderia comentar o assunto por motivos legais, uma vez que a lei 5.615/70, que criou o Serpro, determina que a empresa e seus servidores "são obrigados a guardar sigilo quanto a elementos manipulados".

"A própria identificação e divulgação de órgão usuário do IP implicaria quebra de sigilo contratual, já que a empresa se compromete em garantir tratamento sigiloso para os dados e informações dos contratantes", disse a companhia federal em nota.

Questionada sobre o caso da página de Alexandre Padilha, a Presidência afirmou que não poderia se posicionar a tempo; sugeriu que o pedido fosse feito pela Lei de Acesso à Informação.