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    Rio de Janeiro

    'O que eu tinha a declarar, já o fiz', diz coronel do atentado ao Riocentro

    OSNI ALVES
    DO RIO

    31/07/2014 12h55

    O coronel do Exército Wilson Dias Machado foi ouvido nesta manhã de quinta (31) pela Comissão Nacional da Verdade. Apesar do assunto que envolve o militar há 33 anos, ele se mostrou calmo e sorridente ao entrar na sala, cumprimentando alguns dos presentes. Se de um lado da mesa havia quem esperava por respostas, do outro se prezou pelo silêncio.

    Machado era capitão, proprietário e supostamente o motorista do carro que explodiu por volta das 21h no Riocentro, zona oeste do Rio, em 30 de abril de 1981. O artefato estourou no colo do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que morreu na hora.

    "Já prestei todo esclarecimento à Justiça Militar por três vezes, além de outras duas vezes ao Ministério Público Federal. Inclusive, fui julgado pelo Supremo Tribunal Militar", declarou à Comissão para justificar que não faria novas afirmações sobre o caso.

    Anoibal Philot - 1.mai.1981/Agência o Globo
    Corpo do sargento que morreu no atentado do RioCentro
    Corpo do sargento que morreu no atentado do RioCentro

    Ele acrescentou que fez parte do destacamento de operações, unidade do Exército, no período de agosto 1980 a abril de 1981, e que antes disso atuou no Amazonas e depois no Hospital Central do Exército. À Justiça, ele nega que tenha participado do atentado ao Riocentro.

    Coordenador da Comissão Nacional da Verdade, o professor Pedro Dallari disse ao coronel que não se tratava de um julgamento, e que o militar não estava ali sendo acusado de algum crime. "Nosso objetivo é resgatar a história", falou, tentando cativar Machado a colaborar.

    Defensor do militar, o advogado Rodrigo Rocca não gostou da presença da imprensa na sala, e afirmou que os demais depoentes também não deverão falar à Comissão.
    Por conta da negativa em colaborar, as perguntas que a Comissão faria ao militar foram entregues ao defensor. Rocca também defende outros militares ligados à Ditadura Militar (1964-1985).

    Para Dallari, a recusa em responder as perguntas por parte dos militares não é algo adequado às Forças Armadas. "O advogado Rocca está no direito legítimo de exercício da profissão. Eu como advogado compreendo, mas a Comissão vai perseverar", disse.

    Dallari destacou que "o coronel Machado teve a participação em vários eventos ligados ao governo vigente [ditadura], sendo o mais importante o caso Riocentro. Naquele dia 20 mil pessoas estavam comemorando o Dia do Trabalho naquele pavilhão", falou.

    "O atentado ao Riocentro não foi praticado por alguns lunáticos, mas foi organizado pelo regime militar num contexto em que na época foram registrados mais de 40 atentados a bombas. O esclarecimento que viria dele [Machado] poderia desvendar de quem partira as ordens para este e outros casos.", declarou.

    Dallari confirmou que o carro pertencia a Machado e de que há testemunhas de que o militar estaria na localidade no dia do ocorrido.

    Além da bomba que explodiu no carro, outra explosão foi registrada próximo a uma mini-estação elétrica, mas que não chegou a afetar a distribuição de energia na localidade. O artefato, segundo os autos, foi atirado por uma pessoa por cima do muro.

    CASO ZUZU ANGEL

    O advogado negou, novamente, a afirmação de que o coronel Fred Perdigão Pereira seja o homem identificado em uma foto que mostra a cena da morte da estilista Zuzu Angel, em 1976. O militar havia sido identificado na imagem pelo ex-delegado do Dops do Espírito Santo, Cláudio Guerra, em depoimento à CNV.

    Otávio Magalhães / Agência O Globo
    Acidente que matou Zuzu Angel; Perdigão (no destaque), aparece encostado em um poste
    Acidente que matou Zuzu Angel; Perdigão (no destaque), aparece encostado em um poste
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