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    Adesão de Marina tornou Campos alternativa à polarização PT-PSDB

    RANIER BRAGON
    DE BRASÍLIA
    MARINA DIAS
    DE SÃO PAULO

    13/08/2014 14h46

    Reportagem publicada originalmente na edição da Folha do dia 28 de junho de 2014.

    "Você saltou do 22º andar e eu saltei atrás. Só espero que lá embaixo haja mesmo uma rede a nossa espera."

    Assim o pernambucano Eduardo Campos reagiu ao falar com um aliado sobre o momento capital na consolidação de sua candidatura à Presidência da República pelo modesto PSB, partido que por mais de 11 anos integrou a coalizão dos governos Lula e Dilma Rousseff.

    O diálogo se deu em 4 de outubro de 2013, um dia após a Justiça barrar a criação da Rede, o partido da ex-senadora Marina Silva.

    Naquele dia, Campos e todo o mundo político seria surpreendido pela notícia de que Marina –revelação da eleição de 2010, com quase 20 milhões de votos e o terceiro posto no primeiro turno– queria aderir à sua candidatura ao Palácio do Planalto.

    Até então só dois pessebistas sabiam do desejo da ex-senadora, o deputado Márcio França (SP) e o senador Rodrigo Rollemberg (DF), que telefonou para Campos, em Pernambuco, assim que ouviu a proposta de intermediários de Marina.

    No seu apartamento, em Brasília, improvisou um almoço de arroz com ovo e frango requentado para receber o interlocutor da ex-senadora. "Você já bebeu hoje, é isso?", reagiu o pernambucano ao ouvir Rollemberg.

    Ainda governador de Pernambuco, Campos desembarcou horas depois em Brasília para o encontro com Marina, ocasião em que a ex-senadora quis ter garantias de que o ex-aliado do PT iria até o fim. Mesmo se o candidato adversário fosse Lula, com quem ele sempre teve boa relação e de quem foi ministro da Ciência e Tecnologia.

    No encontro selou-se tacitamente a chapa Campos-Marina e, dali em diante, não havia mais como recuar do "salto do 22º andar". Derrotado em uma disputa de poder, o PSB tinha rompido com Dilma havia menos de 20 dias.

    Pelo menos quatro fatores conspiraram para o rompimento de Campos com o PT.

    O primeiro foi o crescimento político do pernambucano que, em 2005, com a morte do avô, um dos símbolos da oposição à ditadura, o ex-governador Miguel Arraes (1916-2005), assumiria a presidência do PSB.

    No ano seguinte superaria o favoritismo do PFL (hoje DEM) e do PT em seu Estado, sendo eleito governador. Quatro anos depois, se reelegeria com o maior percentual de votos válidos do país (82,84%).

    O segundo fator também tem o Estado de Pernambuco como pano de fundo.

    Na eleição municipal de 2012 em Recife, o PT local inviabilizou o nome preferido do governador –o então petista Maurício Rands–, e levou Campos a bancar a candidatura de um secretário, Geraldo Júlio (PSB), para encerrar um ciclo de 12 anos do PT no comando da capital.

    "O PT não faz alianças, aceita adesões", diz o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira, resumindo sentimento predominante no partido.

    RELAÇÃO

    Para além de Pernambuco, o PSB se fortaleceu nas eleições de 2010 e 2012, quando registrou o maior crescimento nas grandes regiões metropolitanas do país. Esse desempenho levou o partido a exigir mais destaque na coalizão de Dilma Rousseff.

    Mas, diferentemente de Lula, Dilma nunca teve relação amigável com Eduardo Campos e, desde o início, privilegiou no PSB a ala comandada pelos irmãos Cid e Ciro Gomes –hoje no Pros.

    A relação entre o pernambucano e Dilma azedou ainda mais após chegar aos ouvidos dela, em 2012, um pedido de Campos para que Lula voltasse a se candidatar em 2014, feito ao próprio em uma rodinha com governadores na conferência Rio+20.

    A gota d'água ocorreu no início de 2013, quando o pernambucano conversou com Dilma na base de Aratu, na Bahia. Pelo relato dele a aliados, no "monólogo na Bahia", Dilma falou até sobre artesanato. Mas nada sobre política, indicando estar pouco inclinada a trocar o PMDB pelo PSB como aliado preferencial.

    Diante disso, não foram suficientes as indicações de Lula e de petistas de que, se permanecesse fiel, o pernambucano teria um papel de destaque em 2018. Em setembro de 2013, após petistas ameaçarem "varrer" os cargos do PSB devido a críticas a Dilma, o caldo entornou a favor do rompimento. Logo viria a adesão de Marina.

    ABRAÇO

    Aqueles dias de outubro mexeram com o emocional do pernambucano. Em um almoço horas antes do anúncio da aliança com Marina, Campos chorou nos braços do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Segundo um correligionário, o peemedebista disse: "Receba meu abraço como se fosse de seu avô Arraes".

    Se a adesão de Marina lhe trouxe musculatura, logo viriam dores de cabeça, principalmente na montagem dos palanques estaduais. Com o mote do sepultamento da "velha política", a ex-senadora dinamitou alianças costuradas pelo PSB.

    Em São Paulo o partido manterá o apoio a Geraldo Alckmin (PSDB). No Rio, encaixou-se na chapa de Lindbergh Farias (PT). Tudo sob censura pública de Marina.

    Ela também provoca arrepios nos empresários do agronegócio e diverge de Campos em temas econômicos.

    Até a tese da "nova política" representa certo constrangimento, às vezes. O discurso contra os coronéis, a distribuição de cargos da administração e o compadrio contrastam com exemplos praticados pelo próprio PSB.

    Em Pernambuco, Campos governou com uma oceânica base integrada por caciques como Severino Cavalcanti –a filha ocupou uma secretaria no governo–, além de, em 2011, ter patrocinado em Brasília uma campanha para emplacar a mãe, Ana Arraes, no Tribunal de Contas da União.

    Apesar dos problemas trazidos, aliados admitem que o surpreendente gesto de Marina no início de outubro do ano passado transformou uma candidatura até então pensada para marcar posição em uma tentativa menos frágil de quebrar os 20 anos de polarização entre PT e PSDB.

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