O caso Santander e a reação contundente do governo ainda não foram digeridos no mercado e no setor produtivo.
Nesta quarta-feira (13), durante palestra em São Paulo, o presidente da Suzano Papel e Celulose, Walter Schalka, disse que o texto do banco aos clientes fez "só uma constatação" e foi aplaudido por uma plateia formada por empresários, economistas e banqueiros.
"Eu vou levantar um outro problema no Brasil, que é a liberdade expressão", disse ele, sendo logo aplaudido. "O Santander fez um informativo para seus correntistas sobre uma questão que, na minha opinião, não tem nada de agressivo a ninguém do governo. É só uma constatação sobre a realidade dos mercados."
Há pouco menos de um mês, o Santander enviou a clientes "vip" um texto em que previa que o dólar subiria e a Bolsa cairia caso Dilma fosse reeleita. O conteúdo gerou um mal-estar entre o banco e o governo, e o PT condenou o informe do banco. Conforme revelou a Folha, quatro funcionários foram demitidos, responsabilizados pela autoria do texto.
Schalk participava de uma mesa redonda, em que debatia com o presidente do banco de investimentos JP Morgan no Brasil, José Berenguer, e o presidente do conselho de administração do Goldman Sachs, Paulo Leme. O tema era "Os próximos anos, na visão do mercado financeiro e dos empresários".
"Eu acho que nós temos que ter a liberdade de exprimir sobre o que vai acontecer e o que não vai acontecer", afirmou Schalka. "Eu gostaria que o país passasse por uma transformação e um dos pilares é entendermos que democracia exige liberdade de expressão".
O empresário foi aplaudido uma segunda vez e prosseguiu: "Eu não sei se Dilma vai provocar evolução ou não de mercado, ela que tem que fazer acontecer. Eu costumo dizer o seguinte: nós temos dois tipos de executivos, os que entregam e os que se justificam. Os que entregam não precisam se justificar. Os que se justificam têm algum problema."
Schalka comanda uma gigante do setor de celulose. Emprega mais de 6 mil pessoas no Brasil e tem cerca de 11 mil empregados terceirizados.
Os outros executivos foram mais comedidos na sua avaliação sobre a relação, às vezes turbulenta, entre o mercado e o governo.
José Berenguer disse que os movimentos de baixa na Bolsa de Valores, a cada avanço na popularidade de Dilma Rousseff, se devem a "colocações que não agradam os agentes do mercado". Já Paulo Leme tentou retirar qualquer componente político da avaliação do analista.
"O operador tem que fazer uma inferência sobre o futuro, tem que fazer uma previsão se vai aumentar ou não a receita da empresa e quanto vai valer a ação em cada cenário", disse. "Então, idealiza um cenário para cada candidato, a partir das ações de cada um. Ele pode inferir que o candidato A vai implementar um programa com o qual ele acha que vai aumentar o lucro das empresas. Assim, a Bolsa sobe. É simplesmente isso."
Berenguer disse esperar que o próximo governo, independentemente do eleito, seja menos intervencionista na economia e deixe o mercado se ajustar.
"Isso teria um efeito muito importante no restabelecimento da credibilidade, o que faria com que entrássemos em um círculo virtuoso".
Paulo Leme defendeu ação no mesmo sentido: "Tem que voltar a acreditar no setor privado como motor fundamental", disse. "Liberar e soltar essa energia e essa capacidade empresarial que o brasileiro tem, que é incomparável", disse.
'TARIFAÇO'
Os três executivos concordaram que o ajuste da economia, no ano que vem, é inevitável. A principal medida é reajustar os preços das tarifas públicas, como energia e ônibus urbanos, e o da gasolina e diesel.
"Eu faria de forma firme, direta e de uma vez só. Tentaria fazer nos primeiros meses de governo para colocar essa questão para trás", disse Berenguer. "É inevitável, é uma questão de tempo".
Paulo Leme comparou a economia atualmente com um atleta contundido.
"Não pode colocá-lo numa maratona.Tem que fazer uma reabilitação antes. Na economia também tem que fazer uma reabilitação, um ajuste macroeconômico", disse. Segundo ele, é preciso reduzir a inflação e o deficit externo do país, além de aumentar a poupança. "Aí, sim, você pode passar para avançar na competitividade".
Schalka defendeu que o país investisse em ações que gerem competitividade no longe prazo.
"O Brasil será um exportador de commodities? É isso o que estamos ao longo do tempo nos tornando", disse. "Nós temos que começar pela busca de um projeto de competitividade do Brasil. O país perdeu o bonde da tecnologia da informação, mas tem outros bondes que estão passando".
Os três participaram de evento organizado pela revista "Exame", em São Paulo.
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