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    Robson Marinho pede anulação de seu afastamento do TCE-SP

    FLÁVIO FERREIRA
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    26/08/2014 13h59

    Afastado do cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, Robson Marinho pediu ao Tribunal de Justiça paulista que seja anulada a decisão de primeira instância que determinou a saída dele do cargo no último dia 11.

    O recurso de Marinho aponta que a ação protocolada pelo Ministério Público para tirá-lo do posto tem base em provas ilegais e foi apresentada incorretamente à Justiça de São Paulo. Segundo a defesa de Marinho, o conselheiro afastado tem direito a foro privilegiado e o pedido da Promotoria deveria ser endereçado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

    O processo foi distribuído nesta terça-feira (26) para a 2ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça e tem como relator o desembargador Carlos Violante.

    Marinho é investigado há seis anos sob a suspeita de ter recebido propina da multinacional francesa Alstom. De acordo com o Ministério Público, o conselheiro ajudou a empresa a fechar contrato sem licitação com estatais paulistas de energia, no valor (atualizado) de R$ 281 milhões. Segundo depoimentos de ex-diretores da companhia, o suborno alcançou 15% dessa cifra.

    A negociata teria ocorrido em 1998, durante o governo de Mário Covas (PSDB) –de quem Marinho fora chefe da Casa Civil e que o nomeou para o TCE-SP, em 1997. Marinho, que foi um dos fundadores do PSDB, é o acusado mais graduado no caso Alstom.

    Julia Moraes - 13.fev.2008/Folhapress
    Conselheiro Robson Marinho durante sessão no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em 2008
    Conselheiro Robson Marinho durante sessão no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em 2008

    PROVAS SUÍÇAS

    A Suíça, que investigou a Alstom porque um banco daquele país foi usado para a distribuição do suborno, bloqueou uma conta atribuída a Marinho naquele país. Em julho de 2013, o saldo dela era de US$ 3 milhões (R$ 6,7 milhões, atualmente). O conselheiro sempre negou ter conta na Suíça e refuta acusação de que tenha beneficiado a Alstom.

    A Folha revelou no último dia 16 que Marinho usou empresas em dois paraísos fiscais para tentar ocultar que era o dono dessa conta.

    Os suíços enviaram até o cartão com a assinatura de Marinho no dia da abertura da conta, em 10 de março de 1998. A mulher de Marinho também assina o cartão. Para a juíza Maria Gabriella Pavlópoulos Spaolonzi, da 13ª Vara da Fazenda Pública da capital paulista, os indícios contra o conselheiro não permitem que ele continue no cargo, cuja função é zelar pelas contas públicas. Cabe recurso contra a liminar ao Tribunal de Justiça.

    Uma das principais provas apresentadas pelo Ministério Público no caso é uma comunicação interna da Alstom obtida por autoridades francesas e suíças e enviada à Promotoria por meio de cooperação jurídica internacional.

    O manuscrito com data de outubro de 1997 trata da negociação de um contrato com as estatais Eletropaulo e EPTE (Empresa Paulista de Transmissão de Energia).

    A explicação sobre um dos valores diz o seguinte: "Trata-se da remuneração para o poder político existente. Ela está sendo negociada via um ex-secretário do governador (R.M.)". A partir de depoimentos de ex-diretores da Alstom, a promotoria diz que "R.M." é Robson Marinho.

    Segundo papel encontrado por autoridades estrangeiras, a propina serviria para cobrir "as finanças do partido", " o Tribunal de Contas" e "a Secretaria de Energia". O contrato mencionado na nota foi fechado seis meses depois, em abril de 1998, sem licitação, por R$ 281 milhões, em valores atualizados.

    Em janeiro deste ano, a Folha revelou um depoimento de um ex-diretor do grupo Alstom à Justiça da Suíça, no qual ele admitiu que a multinacional pagou propinas a agentes públicos brasileiros. A soma dos subornos corresponde a 15% do valor do contrato, segundo o executivo, o que equivale a R$ 27,15 milhões, em valor corrente.

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    COMO TUDO COMEÇOU

    Jan.1995 Robson Marinho se torna secretário da Casa Civil do então governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB)

    Abr.1997 Assume o cargo de conselheiro do TCE-SP

    2008 "The Wall Street Journal" revela que as autoridades suíças descobriram que a Alstom pagou propina para obter o contrato com o governo paulista. Ao PSDB, teriam sido pagos US$ 6,8 mi. Documentos da Alstom francesa citam as iniciais "RM" e o TCE-SP

    2009 Promotores suíços informam às autoridades brasileiras que foi bloqueada uma conta atribuída a Robson Marinho, suspeita de ter recebido propina da Alstom. Marinho nega que a conta seja dele

    2010 STJ passa a investigar Marinho

    Mai.2014 Ministério Público pede o afastamento de Marinho do TCE-SP

    11.ago.2014 Em decisão liminar, Justiça afasta Marinho do cargo

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