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    Lava Jato

    Ex-diretor da Petrobras cita Lobão, Renan e Henrique Alves em lista de propina, diz revista

    DE SÃO PAULO

    06/09/2014 10h32

    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa listou o ministro Edison Lobão, os líderes do Congresso e até o ex-governador Eduardo Campos entre os políticos envolvidos com esquema de corrupção na Petrobras, informou neste sábado (6) a revista "Veja", sem apresentar documentos e valores.

    A revelação dos nomes faz parte de um acordo de delação premiada que Costa fechou no dia 22 de agosto com os procuradores da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que querem saber como os contratos da Petrobras eram superfaturados e como o valor a mais retornava para os políticos. Delação premiada é a figura jurídica na qual um réu conta o que sabe à Justiça em troca de redução de pena.

    No documento obtido pela "Veja", Paulo Roberto Costa cita pelo menos 25 deputados federais, 6 senadores, 3 governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP), que teriam tirado proveito de parte do dinheiro desviado dos cofres da Petrobras.

    Contudo, papéis obtidos pela Folha mostram que a lista de políticos tem no total 12 senadores e 49 deputados federais. O jornal não teve acesso ao documento que cita os nomes dos parlamentares.

    Entre os envolvidos estão o ministro Lobão (Minas e Energia), o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Romero Jucá (PMDB-RR) e os deputados Cândido Vaccarezza (SP), João Pizzolatti (PP-SC) e o ex-ministro Mário Negromonte (PP).

    Entre os governadores, o ex-diretor cita o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto no dia 13 de agosto em um acidente aéreo em Santos (SP).

    Editoria de Arte/Folhapress

    INVESTIGAÇÃO

    A escolha dos contratos superfaturados e do caminho pelo qual a propina chega aos partidos têm uma razão prática: são esses pontos sobre os quais os procuradores têm menos provas para usar nas ações penais. Um exemplo dos indícios de que Costa cuidava da distribuição de recursos a partidos: a Polícia Federal apreendeu uma caderneta do ex-diretor da Petrobras com anotações de doação de R$ 28,5 milhões em 2010 para o PP.

    Os procuradores dizem nas ações que os recursos saíram de contratos superfaturados da Petrobras, principalmente na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, da qual Costa era um dos responsáveis. A obra já consumiu US$ 18,5 bilhões (R$ 42,2 bilhões).

    Costa dizia na cela em que está preso na Polícia Federal em Curitiba (PR) que não teria eleições neste ano se ele revelasse tudo o que sabe. Os políticos receberiam, segundo Costa, 3% do valor dos contratos da Petrobras na época em que ele era diretor de distribuição da estatal, entre 2004 e 2012. De acordo com Costa, a distribuição do dinheiro servia para garantir que os partidos aliados continuassem a apoiar o Palácio do Planalto no Congresso Nacional.

    O depoimento chegou no começo desta semana ao STF (Supremo Tribunal Federal) para que o ministro Teori Zavascki homologue o acordo. Por envolver políticos, que têm direito a foro privilegiado, o caso está sendo acompanhado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

    Pedro Ladeira - 10.jun.2014/Folhapress
    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa durante depoimento na CPI da Petrobras no Senado
    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa durante depoimento na CPI da Petrobras no Senado

    Costa foi indicado pelo PP para a diretoria de distribuição da Petrobras em 2004, ficou no cargo até 2012 e conseguiu apoios no PT e PMDB. Dessa forma, Costa participou dos dois governos Lula e dos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff.

    Ele decidiu fazer um acordo de delação premiada como os procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato depois que a Polícia Federal fez buscas e apreensões em 13 empresas que pertencem a sua filha, sua mulher, seu genro e um amigo dele. Costa também estava em pânico com a perspectiva de ser condenado a mais de 30 anos de prisão.

    A maioria das empresas em que a PF fez buscas não tinha atividade nem funcionários e serviam para receber propina de fornecedores da Petrobras por meio de contratos falsos de consultoria, segundo os procuradores da força-tarefa.

    Em junho, a Suíça comunicou as autoridades brasileiras de que Costa e seus familiares tinham US$ 23 milhões em contas secretas naquele país. O ex-diretor havia negado à polícia que tinha recursos no exterior. A existência das contas na Suíça foi o motivo alegado pelo juiz federal Sergio Moro para decretar a prisão de Costa pela segunda vez, em 11 de junho.

    As investigações da PF já haviam revelado a existência de uma ampla rede de corrupção na Petrobras envolvendo funcionários da empresa, grandes empreiteiras, doleiros e políticos importantes. Os depoimentos de Paulo Roberto Costa estão sendo colhidos desde o dia 29 agosto pela Política Federal. Ao todo, já são mais de 40 horas de conversas gravadas, revela a revista.

    Editoria de Arte/Folhapress

    OUTRO LADO

    O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, disse que nunca tratou de assunto relativo ao partido com o senhor Paulo Roberto Costa e que é "absolutamente mentirosa a declaração de que tenha havido qualquer tratativa, seja pessoal, por e-mail ou mesmo telefônica, com o referido senhor a respeito de doações financeiras ou qualquer outro assunto". Vaccari Neto afirmou ainda que nunca esteve na sede da Petrobras e que "não visita empresas estatais, pois são proibidas por lei de fazer doações eleitorais".

    Já a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), disse que repudia as referências feitas a ela pelo ex-diretor da Petrobras. "Nunca participei de nenhum esquema de corrupção e muito menos solicitei ao ex-diretor da Petrobras recursos de qualquer natureza. Tomarei todas as medidas jurídicas cabíveis para resguardar minha honra e minha dignidade".

    Em nota, a assessoria do senador Renan Calheiros, um dos citados pelo ex-diretor, informou que o parlamentar "nega e repudia" as "especulações" de Costa. Disse ainda que as relações entre o parlamentar e os diretores da estatal "nunca passaram os limites institucionais".

    "É dever do Supremo Tribunal Federal e do Ministério Público apurar a veracidade das declarações do ex-servidor a fim de esclarecer se o mesmo merecerá ou não o benefício da delação premiada", diz a nota.

    De acordo com a revista, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) disse que sua relação com o ex-diretor sempre foi institucional e nega ter recebido dinheiro. O senador Ciro Nogueira disse que conheceu Costa em eventos do partido e negou ter recebido dinheiro. Jucá nega ter se beneficiado do esquema. Henrique Alves (PMDB-RN) diz que nunca pediu ou recebeu de Costa nenhum tipo de ajuda. Vaccareza disse que só esteve com ele umas duas vezes. Negromonte e Pizzolatti não responderam, destaca a "Veja".

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    PAULO ROBERTO COSTA
    Diretor de Abastecimento da Petrobras de 2004 a 2012, é suspeito de intermediar negócios entre a estatal e grandes fornecedores, recolhendo propina das empresas e distribuindo dinheiro a políticos

    Reprodução
    • A 1ª prisão Em 20.mar, Costa foi preso pela Polícia Federal por tentar ocultar documentos e provas que o incriminavam em esquema bilionário de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef (foto). Em 19.mai, ele foi solto por ordem do STF
    • Os indícios de propina A PF apreendeu na casa do ex-diretor uma tabela contendo nomes de empresas e executivos, com anotações que indicam possíveis pagamentos a campanhas eleitorais
    • Nova prisão Em 11.jun, Suíça bloqueou US$ 23 milhões em contas atribuídas ao ex-diretor e seus familiares. As contas estavam em nome de empresas estrangeiras sediadas em paraísos fiscais. Costa foi preso novamente
    • A delação O ex-diretor da Petrobras deu o nome de 12 senadores, 49 deputados federais e um governador –ligados ao PT, PMDB e PP– a quem ele teria repassado 3% do valor dos contratos da estatal
    • O acordo Em 22.ago, a PF cumpriu mandados em empresas ligadas ao ex-diretor. Costa aceitou fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público para atenuar sua pena

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