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    Banco dos EUA ajudou doleiro a trazer dinheiro ao Brasil, diz delator

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    11/09/2014 02h00

    O banco americano Merrill Lynch ajudou o doleiro Alberto Youssef a trazer para o Brasil US$ 3,5 milhões que ele tinha nos Estados Unidos por meio de uma operação simulada, segundo depoimento do advogado Carlos Alberto Pereira da Costa. A remessa do dinheiro ocorreu em 2008.

    Pereira da Costa é laranja de Youssef em uma empresa no Brasil e em duas nos Estados Unidos e decidiu fazer um acordo de delação premiada –ele diz estar contando o que sabe à Justiça para tentar obter uma pena menor.

    O advogado foi preso junto com o doleiro em março deste ano pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, sob acusação de integrar uma quadrilha que teria atuado na lavagem de R$ 10 bilhões.

    Reprodução
    O doleiro Alberto Youssef, com equipamento que ele diz ter encontrado na cela da PF, em Curitiba
    O doleiro Alberto Youssef, com equipamento que ele diz ter encontrado na cela da PF, em Curitiba

    O banco Merrill Lynch montou uma operação para disfarçar a falta de origem do dinheiro do doleiro, segundo o advogado. Youssef depositou US$ 3,5 milhões no Merrill Lynch em Nova York e o banco abriu uma linha de crédito para uma empresa controlada pelo doleiro, a GFD Investimentos, de acordo com o delator. O valor correspondia a R$ 7 milhões.

    O advogado emprestou seu nome para Youssef criar a GFD. Segundo ele, a operação foi sugerida ao doleiro por Júlio Lage, gerente do Merrill Lynch em Nova York, porque o banco não aceitava que o dinheiro simplesmente passasse por uma conta, o que caracterizaria uma operação suspeita e seria investigada por órgãos que atuam contra lavagem de dinheiro.

    Lage foi citado nas investigações sobre o mensalão por uma das secretárias do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Segundo Fernanda Karina, Valério tinha contatos frequentes com o gerente do banco.

    O Merrill Lynch foi vendido ao Bank of America em setembro de 2008, no auge da crise financeira que abalou os mercados globais, porque corria o risco de quebrar.

    PROPINA NA PETROS

    O advogado também contou que o fundo de pensão da Petrobras, o Petros, investiu R$ 13 milhões numa empresa que era controlada pelo deputado José Janene (PP-PR), que morreu em 2010, depois que dois diretores da entidade receberam propina. Pereira da Costa citou só um dos beneficiados pelo suborno, Humberto Pires.

    A empresa que recebeu o recurso do fundo de pensão é a Indústria Metais do Vale, que fica em Barra Mansa (RJ). A propina saiu do valor investido pelo Petros, segundo Pereira da Costa.

    Ainda de acordo com o delator, as empreiteiras Mendes Junior e Engevix contrataram a GFD para prestar serviços de consultoria que a empresa do doleiro não tinha condições de prestar. "Era uma forma de justificar o ingresso de recurso na empresa. A GFD não prestava esse serviço.

    O advogado diz ainda que "vários deputados" passavam pelo escritório de Youssef para pegar dinheiro. "Ele [Youssef] ficava no fundo do escritório. Entravam pessoas com dinheiro e saíam pessoas com dinheiro. Era um banco de lavagem de dinheiro".

    Quando Pereira da Costa começou a falar sobre parlamentares, o juiz federal Sergio Moro disse: "O senhor não precisa entrar em detalhes". Parlamentares gozam de foro privilegiado e só podem ser investigados pelo Supremo.

    OUTRO LADO

    O Bank of America, que comprou o Merrill Lynch, diz que não comenta a acusação por desconhecer o assunto.

    O Petros diz que não teve acesso à investigação e por isso não pode se pronunciar.

    A Mendes Junior diz que todos os seus contratos seguem as "normas legais". As outras empresas não se pronunciaram sobre as acusações.

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